por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB

 Em sua Audiência Geral desta quarta-feira (17/09), Papa Leão XIV conduziu uma profunda reflexão sobre o significado do Sábado Santo, dia que se segue à crucificação de Jesus e precede a alegria da Ressurreição. Diante de uma multidão de fiéis reunidos no Vaticano, o pontífice explorou a aparente “ausência” de Deus nesse dia, desmistificando-a como um tempo de espera, de promessa silenciosa e de preparação para a grande novidade.

Francisco destacou que o Sábado Santo não é um vazio, mas sim um silêncio grávido de sentido, comparável ao ventre de uma mãe que aguarda o nascimento de seu filho. Ele ressaltou que o corpo de Jesus, depositado em um sepulcro em um jardim – uma alusão ao Éden perdido – representa um limiar, não um fim. Assim como Deus plantou um jardim no início da criação, a nova criação também começa em um jardim, com um túmulo que em breve se abrirá.

O Papa enfatizou a importância do repouso no Sábado Santo, ecoando o descanso de Deus após os seis dias da criação. Segundo Francisco, este não é um repouso por cansaço, mas sim a conclusão da obra de salvação. Um tempo para aprender a parar, a confiar, e a perceber que a vida não depende apenas do que fazemos, mas também de como nos desapegamos daquilo que já foi feito.

Francisco advertiu sobre a dificuldade que muitos enfrentam para parar e repousar, imersos em uma busca incessante por produção e demonstração. Contudo, o Evangelho ensina que saber parar é um gesto de confiança, essencial para a experiência da fé. O silêncio do Sábado Santo, segundo o Papa, é o espaço onde a vida nova começa a fermentar, como uma semente na terra ou a escuridão antes da aurora.

Inspirado na figura de Maria, que encarnou a espera e a confiança, o Papa recordou que a esperança cristã não nasce no barulho, mas no silêncio habitado pelo amor. Ele enfatizou que, mesmo quando tudo parece parado, Deus está preparando a maior surpresa. E que é precisamente na pequenez e no silêncio que Deus transforma a realidade, renovando todas as coisas com a fidelidade do Seu amor.

Apelo pela Paz em Gaza

Além da reflexão sobre o Sábado Santo, o Papa Francisco expressou sua profunda proximidade ao povo palestino em Gaza, que continua a viver em condições inaceitáveis. Ele renovou seu apelo por um cessar-fogo, pela libertação dos reféns e por uma solução diplomática negociada, reiterando a necessidade de respeito integral ao direito humanitário internacional.

Ao final da audiência, o Papa Francisco saudou diversos grupos de peregrinos, incluindo aqueles de língua inglesa, alemã, espanhola, chinesa e portuguesa. Ele também agradeceu pelas felicitações recebidas por seu aniversário, celebrado recentemente.

Leia o discurso do Pontífice na integra, abaixo:

AUDIÊNCIA GERAL

Praça de São Pedro
Quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Ciclo de Catequese – Jubileu 2025. Jesus Cristo, nossa esperança. III. A Páscoa de Jesus. 7. A morte. “Um sepulcro novo, no qual ninguém ainda havia sido posto” (Jo 19,40-41)

Prezados irmãos e irmãs,

Em nosso caminho de catequese sobre Jesus, nossa esperança, hoje contemplamos o mistério do Sábado Santo. O Filho de Deus jaz no sepulcro. Mas essa sua “ausência” não é um vazio: é espera, plenitude retida, promessa custodiada na escuridão. É o dia do grande silêncio, em que o céu parece mudo e a terra imóvel, mas é precisamente ali que se cumpre o mistério mais profundo da fé cristã. É um silêncio grávido de sentido, como o ventre de uma mãe que custodia o filho ainda não nascido, mas já vivo.

O corpo de Jesus, descido da cruz, é envolvido com cuidado, como se faz com aquilo que é precioso. O evangelista João nos diz que foi sepultado num jardim, dentro «um sepulcro novo, no qual ninguém ainda havia sido posto» (Jo 19,41). Nada é deixado ao acaso. Aquele jardim recorda o Éden perdido, o lugar em que Deus e o homem eram unidos. E aquele sepulcro jamais usado fala de algo que ainda deve acontecer: é um limiar, não um termo. No início da criação, Deus havia plantado um jardim, agora também a nova criação tem início num jardim: com um túmulo fechado que, em breve, se abrirá.

O Sábado Santo é também um dia de repouso. Segundo a Lei hebraica, no sétimo dia não se deve trabalhar: de fato, após seis dias de criação, Deus repousou (cf. Gen 2,2). Agora também o Filho, após ter completado a sua obra de salvação, repousa. Não porque está cansado, mas porque terminou o seu trabalho. Não porque se rendeu, mas porque amou até o fim. Não há mais nada a acrescentar. Este repouso é o selo da obra cumprida, é a confirmação de que aquilo que devia ser feito foi realmente levado a termo. É um repouso cheio da presença escondida do Senhor.

Nós temos dificuldade em parar e repousar. Vivemos como se a vida nunca fosse suficiente. Corremos para produzir, para demonstrar, para não perder terreno. Mas o Evangelho nos ensina que saber parar é um gesto de confiança que devemos aprender a realizar. O Sábado Santo nos convida a descobrir que a vida não depende sempre daquilo que fazemos, mas também de como sabemos nos despedir daquilo que pudemos fazer.

No sepulcro, Jesus, a Palavra vivente do Pai, se cala. Mas é precisamente naquele silêncio que a vida nova inicia a fermentar. Como uma semente na terra, como a escuridão antes da aurora. Deus não tem medo do tempo que passa, porque é Senhor também da espera. Assim, também o nosso tempo “inútil”, aquele das pausas, dos vazios, dos momentos estéreis, pode se tornar ventre de ressurreição. Cada silêncio acolhido pode ser a premissa de uma Palavra nova. Cada tempo suspenso pode se tornar tempo de graça, se o oferecermos a Deus.

Jesus, sepultado na terra, é o rosto manso de um Deus que não ocupa todo o espaço. É o Deus que deixa fazer, que espera, que se retira para deixar a nós a liberdade. É o Deus que confia, também quando tudo parece terminado. E nós, naquele sábado suspenso, aprendemos que não devemos ter pressa de ressurgir: antes é necessário permanecer, acolher o silêncio, deixar-nos abraçar pelo limite. Às vezes procuramos respostas rápidas, soluções imediatas. Mas Deus trabalha no profundo, no tempo lento da confiança. O sábado da sepultura se torna assim o ventre do qual pode brotar a força de uma luz invencível, aquela da Páscoa.

“Queridos amigos, a esperança cristã não nasce no barulho, mas no silêncio de uma espera habitada pelo amor. Não é filha da euforia, mas do abandono confiante. A Virgem Maria nos ensina isso: ela encarna esta espera, esta confiança, esta esperança. Quando nos parece que tudo está parado, que a vida é uma estrada interrompida, recordemos do Sábado Santo. Também no sepulcro, Deus está preparando a surpresa maior. E se soubermos acolher com gratidão aquilo que foi, descobriremos que, precisamente na pequenez e no silêncio, Deus ama transfigurar a realidade, fazendo novas todas as coisas com a fidelidade do seu amor. A verdadeira alegria nasce da espera habitada, da fé paciente, da esperança de que quanto é vivido no amor, certo, ressurgirá à vida eterna.”

Saúdo os peregrinos de língua francesa, em particular as pessoas vindas da Ilha Maurício e da Polinésia Francesa, assim como das dioceses de Lille, de Versailles, de Beauvais e de Saint-Brieuc. Às vezes, o Céu nos parece silencioso, dediquemo-nos de todo o coração à escola da Virgem Maria para viver, com ela, na esperança do cumprimento da Palavra de Deus em nossas vidas e para o nosso mundo. Que Deus vos abençoe.

Saúdo todos os peregrinos e visitantes de língua inglesa que participam da Audiência de hoje, particularmente os grupos da Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte, Holanda, Gana, Quênia, Austrália, Índia, Indonésia, Japão, Malásia, Filipinas, Singapura, Taiwan, Vietnã, Canadá e Estados Unidos da América. Com fervorosas orações para que o presente Jubileu da Esperança seja um tempo de graça e renovação espiritual para vocês e suas famílias, invoco sobre todos vocês a alegria e a paz do Senhor Jesus.

Saúdo cordialmente todos os peregrinos de língua alemã, especialmente os muitos alunos do Abtei-Gymnasium Duisburg-Hamborn. Gostaria de convidar todos vocês a encontrar diariamente um tempo de silêncio e oração, para encontrar Jesus Cristo, nosso Senhor e Deus, e permanecer sempre unidos a Ele.

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua espanhola, de modo particular os grupos provenientes da Espanha e da América Latina. Em meio ao ruído e à pressa em que às vezes nos encontramos, peçamos a intercessão da Virgem Maria para que nos ensine, como ela, a viver o Sábado Santo descobrindo o sentido do silêncio e da contemplação. Que o Senhor os abençoe. Muito obrigado.

Dirijo uma saudação cordial às pessoas de língua chinesa. Caros irmãos e irmãs, não vos canseis de abrir o coração ao amor divino para que vivifique a vossa existência. A todos a minha bênção!

Calorosas boas-vindas aos fiéis de língua portuguesa, especialmente aos grupos vindos de Portugal e do Brasil! No silêncio e na escuridão do sepulcro gera-se a alegria da Páscoa. Mesmo nos momentos escuros e silenciosos da nossa vida, tenhamos confiança que Deus nos ajuda a ser mensageiros de esperança. Deus vos abençoe!

Saúdo os crentes que falam árabe. Convido-vos a lembrar que a esperança cristã nasce no silêncio da espera cheia de amor e no abandono confiante à vontade de Deus. Que o Senhor vos abençoe a todos e vos proteja sempre de todo o mal!

Saúdo cordialmente os poloneses. Amanhã recordais Santo Estanislau Kostka. Este jovem de dezoito anos, padroeiro da vossa Pátria e dos jovens, seja exemplo e inspiração para as novas gerações de crentes na busca da vontade de Deus e no cumprimento corajoso da própria vocação. À sua intercessão confio a Polónia e a paz no mundo. Abençoo-vos de coração.

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APELO

Exprimo a minha profunda proximidade ao povo palestino em Gaza, que continua a viver no medo e a sobreviver em condições inaceitáveis, forçado com a força a deslocar-se mais uma vez das suas terras. Perante o Senhor Onipotente que ordenou: «Não matarás» (Ex 20,13) e na presença de toda a história humana, cada pessoa tem sempre uma dignidade inviolável, a ser respeitada e a ser protegida. Renovo o apelo ao cessar-fogo, à libertação dos reféns, à solução diplomática negociada, ao respeito integral do direito humanitário internacional. Convido todos a unirem-se à minha sentida oração, para que surja em breve uma aurora de paz e de justiça.

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Dirijo as minhas cordiais boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo os grupos paroquiais de Vasto, San Giovanni Rotondo, Rometta Marea, Milazzo e a Unidade Pastoral São Paulo VI de Concesio.

Saúdo também os devotos do Santuário de Nossa Senhora das Dores de Tuscania, a Coordenação da Divina Misericórdia, os Alpini de Albate e o Grupo Fenimprese Sicília.

O meu pensamento vai, finalmente, para os jovens, os doentes e os recém-casados. Sede sempre fiéis ao ideal evangélico e realizai-o nas vossas atividades quotidianas.

E, antes de concluir, gostaria de agradecer a todos pelos votos manifestados neste dia do meu aniversário. Muito obrigado!

A todos a minha bênção!”

 

 

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