
Mudas da planta unha-de-gato, desenvolvidas na Biofábrica da Ufopa, representam esperança e compromisso com a Casa Comum. Foto: Aritana Aguiar
por Aritana Aguiar / Ascom Arquidiocese de Santarém
Durante a programação da COP30, em Belém, uma ação com raízes em Santarém ganhou destaque por unir ciência, saber tradicional e compromisso com a floresta. A biofábrica Maniva-Tapajós realiza esta semana a entrega de aproximadamente 500 mudas da planta medicinal amazônica Uncaria tomentosa, conhecida como “unha-de-gato”, uma iniciativa conjunta ao programa FarmaFittos. O programa é desenvolvido pela Cáritas da Arquidiocese de Santarém, em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e Ministerio Público do Pará (MPPA).
A entrega das mudas, integra a participação do FarmaFittos na COP30 e reafirma o compromisso das instituições envolvidas com a defesa da vida e da Casa Comum. As mudas serão cuidadas no Centro de Formação Emaús, onde fica o horto da Farmácia Viva, em Santarém, onde passarão por um período de aclimatação antes de serem reintroduzidas nas comunidades amazônicas, como Parauá, Surucuá, Paraíso, Pacoval e Santana do Curuatinga.
Segundo o professor da Ufopa Dr. Wilson Sabino, coordenador do FarmaFittos, a iniciativa “representa muito mais do que um gesto ambiental: ela expressa o compromisso da universidade e das instituições parceiras com a manutenção e recuperação de uma espécie nativa da floresta, reconhecida por seu potencial medicinal e cultural”.
Para ele, reintroduzir a Uncaria tomentosa em seu habitat natural é “garantir a continuidade ecológica e genética da planta, além de abrir caminho para o desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos seguros e padronizados”.
“Essa ação traduz em prática o que a COP30 simboliza: a construção de soluções locais e sustentáveis para desafios globais, mostrando que a conservação da floresta também é um ato de promoção da saúde e da vida”, destaca o professor.
Biotecnologia a serviço da vida
A multiplicação das mudas foi possível graças à cooperação científica entre os laboratórios da Ufopa e da Unaerp. A professora Dra. Eliandra Sai, coordenadora da Biofábrica Maniva–Tapajós (Ufopa), explica que o trabalho foi realizado com técnicas de biotecnologia in vitro, garantindo a segurança fitossanitária e a preservação genética da planta.
“As mudas vão para o viveiro em Emaús, onde ficarão alguns meses, e depois serão levadas às comunidades. Além de multiplicar em larga escala, mantemos o germoplasma — os genótipos da planta — preservados em laboratório, para que possamos fazer novas entregas sempre que necessário”, detalha a professora.
Ela ressalta ainda que tanto a Ufopa quanto a Unaerp mantêm a coleção de genótipos da Uncaria tomentosa, o que é estratégico dentro de um banco de germoplasma: “Assim garantimos que o material genético não se perca, já que a espécie está em risco de extinção na Amazônia.”
A profa. Dra. Ana Maria Soares Pereira, da Unidade de Biotecnologia da Unaerp, foi quem disponibilizou os genótipos da “unha-de-gato” para que pudessem ser multiplicadas em Santarém. Assim, a Ufopa e a Unaerp têm a mesma coleção de genótipos da Uncaria tomentosa para que ela não se perca. “Mantemos em dois locais. Isso é estratégico dentro de um banco de germoplasma, para não morrer, não perder material, já que está em risco de extinção na Amazônia”, lembra a professora Eliandra.
O professor Wilson Sabino reforça a fala da professora Ana Maria, ao destacar que a conservação da espécie representa uma forma de proteger o conhecimento ancestral e de promover saúde a partir da floresta, com base científica e responsabilidade ambiental. Assim, a Uncaria tomentosa se consolida como um elo entre ciência, natureza e comunidades amazônicas — um exemplo de como a pesquisa pode transformar o uso sustentável da biodiversidade em benefício da vida.
Fase da produção
A ação também envolve a formação de novos pesquisadores comprometidos com a sustentabilidade amazônica. A acadêmica Camila Vitória, do curso de Biotecnologia da Ufopa, participou do processo de multiplicação das plantas e relata que o trabalho foi um aprendizado intenso e desafiador.
“Primeiramente, recebemos 11 genótipos (variedades da planta) em 25 mudas. Começamos a multiplicar os genótipos, depois levamos para climatização e, em seguida, para campo. Um processo de dois anos”, explica a acadêmica.
Segundo Camila, no primeiro ano do processo, foi possível produzir 100 mudas da Uncaria; a partir do segundo ano, o número foi bem maior. Ao final, a biofábrica conseguiu produzir cerca de 600 mudas.
Amazônia viva: fé e compromisso com a Casa Comum
A Uncaria tomentosa é uma planta nativa da Amazônia, com reconhecido valor terapêutico, que integra a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus). O projeto de sua multiplicação em larga escala e reintrodução nas comunidades amazônicas representa uma ação concreta de cuidado com a vida e com a criação, em sintonia com os apelos da Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco.
“Estudos conduzidos por pesquisadores da Unaerp e da Ufopa apontam que a espécie possui atividade anti-inflamatória e antioxidante comprovada em laboratório. As análises identificaram compostos como alcaloides oxindólicos, flavonoides e fenóis, capazes de reduzir mediadores inflamatórios e proteger as células contra o estresse oxidativo”, explica o professor Sabino.
Sobre o processo de multiplicação da planta, o coordenador do programa FarmaFittos destaca o seguinte:
“A mesma pesquisa destaca que a preservação da planta é hoje um desafio urgente. Por ser nativa de florestas úmidas e de crescimento lento, a Uncaria tomentosa sofre com a coleta predatória de cascas e raízes, ameaçando sua regeneração natural. A resposta das universidades tem sido científica e sustentável: por meio de uma parceria, a Unaerp desenvolve mudas cultivadas in vitro e as envia à Ufopa para reintrodução controlada em áreas de floresta e quintais produtivos comunitários. A técnica evita o extrativismo e garante a conservação genética da espécie.”
Para o professor Wilson Sabino, “a Amazônia viva é um dom e também uma oportunidade: uma floresta em pé é infinitamente mais valiosa do que qualquer riqueza obtida com sua destruição”.
Ele enfatiza que “preservar a floresta é preservar o futuro — é garantir medicamentos, alimentos, água e dignidade para as próximas gerações. Essa é a fé que o FarmaFittos compartilha com a Igreja e com o povo amazônico: a fé de que a cura também nasce do cuidado, e que a vida é o maior tesouro da criação”.
COP 30
A entrega das mudas durante a COP30 reforça o papel da Arquidiocese de Santarém e da Cáritas na promoção de iniciativas que unem ciência, fé e solidariedade, inspirando novas formas de convivência harmônica com a natureza e de compromisso com a ecologia integral.
O programa FarmaFittos e suas ações, em especial, a preservação da Uncaria tomentosa, serão apresentados durante a COP30, em Belém. A proposta é dar visibilidade à Farmácia Viva e fortalecer o diálogo entre universidades, comunidades e Igreja na defesa de políticas públicas que respeitem o território, a floresta e os modos de cuidado tradicionais.
A coordenadora da Cáritas da Arquidiocese de Santarém, Francely Brandão, ressalta que esta iniciativa é também uma forma de evangelização:
“Cuidar da Casa Comum é uma expressão concreta do Evangelho. Quando a Igreja se une à ciência e às comunidades para preservar a vida e a floresta, ela está evangelizando de um modo profundo, mostrando que a fé se manifesta também no compromisso com o planeta e com os mais vulneráveis. O FarmaFittos nos ajuda a testemunhar que a criação é dom de Deus e que cuidar dela é parte da nossa missão como cristãos.”
Lideranças na COP 30
Da Arquidiocese de Santarém, participam na COP 30: Dom Irineu Roman, Arcebispo de Santarém; Francely Brandão – Cáritas; Fabiana Alcântara – Cáritas; Wilson Sabino – Programa Farmácia Viva (FarmaFittos); Frei João Messias – Coordenador da Pastoral Socioambiental; Marcelo Santos – CJP; Thiago Rocha – CJP; Judith Gama – CPT/CPP; Pe. José Boeing – ADHMA E JUPIC VERBITA; Veraci – ADHMA E JUPIC VERBITA; e padre Claudiney Ramos.
- Mudas de Uncaria tomentosa (unha-de-gato) cultivadas na Biofábrica Maniva-Tapajós, da Ufopa, em Santarém. Foto: Aritana Aguiar
- Mudas da planta unha-de-gato, desenvolvidas na Biofábrica da Ufopa, representam esperança e compromisso com a Casa Comum. Foto: Aritana Aguiar
- Profa. Dra. Eliandra Sai, coordenadora da Biofábrica Maniva-Tapajós (Ufopa), explica que a biofábrica está pronta para produzir mais mudas da “unha-de-gato”. Foto: Aritana Aguiar
- Prof. Wilson e prof. Ana Maria durante visita no Centro de Formação Emaús em 2024. Foto: Aritana Aguiar
- Acadêmica Camila e profa. Eliandra mostram o resultado do trabalho da biofábrica da produção das mudas de “unha-de-gato”. Foto: Aritana Aguiar
- Prof. Wilson Sabino ressalta a importância de preservação da floresta. Foto: Arquivo pessoal
- Planta “unha-de-gato” atividade anti-inflamatória e antioxidante. Foto: Aritana Aguiar
- Francely Brandão, coordenadora da Cáritas da Arquidiocese de Santarém, destaca que a participação na COP30 é um testemunho do compromisso da Igreja com o cuidado da Casa Comum. Foto: Aritana Aguiar
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