A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) participou do Aparecida Debate, na noite desta quarta-feira, 15 de julho, na TV Aparecida. O tema da noite foi “Igreja e o novo jeito de funcionar”. Ronaldo Souza dividiu a mediação do debate com o missionário redentorista, padre José Ulysses da Silva, atual presidente da Academia Marial de Aparecida. O programa começou com uma reportagem sobre o tema feita pela jornalista Camila Morais. A repórter mostrou, como neste tempo de pandemia, a Igreja vem encontrando novos caminhos para o funcionamento das instituições por meio das plataformas virtuais.
O debate começou com a participação do arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, e o bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado. Os bispos falaram das dificuldades, mas também das oportunidades dos encontros não presenciais. Dom Walmor destacou os novos caminhos que a pandemia e apresentou, para todos os setores da Igreja no Brasil,como a CNBB se reorganizou neste novo tempo.
“Nós estamos de fato tratando este enorme desafio como uma grande oportunidade de renovação e de uma nova resposta no caminho do tempo que estamos vivendo. Já no ano passado, em maio, quando fomos eleitos para compôr a nova presidência da CNBB, escolhemos três eixos importantes para nos preocupar, investir e nos deixar de ser interpelados: a comunicação estratégica e abrir-se aos diálogos. E quando então chegou a pandemia nós fomos empurrados numa velocidade incalculável, impensada e inesperada na direção de valorizar mais, ousar mais aquilo que nós temos no âmbito digital da comunicação e, por isso estamos, de fato, inaugurando um tempo novo, uma mentalidade e modos de usar plataformas e ferramentas, o uso do tempo, objetividade”.
Dom Walmor destacou que a presidência já fez importantes reuniões virtuais e foram bem mais rápidas. “ Uma reunião mensal prevista para um dia e meio com assuntos de grande relevância, nós fizemos essa reunião em três horas seguidas e com a mesma intensidade, com a mesma velocidade e atingindo a qualidade impressionante, o que mostra portanto o quanto é importante e possível fazermos um novo caminho nesse terceiro milênio introduzindo a nossa Igreja cada vez mais numa perspectiva moderna ágil”.
Dom Joel Portella Amado também falou de como a CNBB se mobilizou neste momento da pandemia e encontrou novos caminhos para a continuidade, em especial, ao trabalho administrativo da conferência.
“Nós estamos aprendendo. Quando a pandemia começou. Eu me lembro bem daquele período na segunda quinzena do mês de março, a nossa primeira preocupação foi preservar vidas mantendo o distanciamento, o isolamento social. Logo depois, veio a pergunta. Como é que fica a vida administrativa da conferência e todo o trabalho pastoral? E nós aprendemos em pouquíssimo tempo algo que é fundamental nesse mundo de hoje digital. A vida da conferência não parou em momento algum quanto a administração, enquanto o contato com as dioceses no Brasil, enquanto ação caritativa, enquanto vida pastoral. O mundo digital tem possibilitado avanços muito grandes e acredito irreversíveis”.
No segundo bloco, o debate continuou com o arcebispo de Porto Alegre (RS) e primeiro vice-presidente da CNBB, dom Jaime Spengler e o bispo de Roraima e segundo presidente da CNBB, dom Mário Antônio da Silva. Dom Jaime falou um pouco do novo jeito de vivenciar o ser a igreja. “Esta realidade é que nós estamos vivendo certamente nos surpreendeu a vida ordinária de nossas comunidades indiscutivelmente foi abalada e este contexto de crise é marcado pela pandemia está exigindo de nós muita prudência, muita sabedoria e tanto discernimento”.
Dom Mário disse que esse é um período que todos estão se reinventando já que foi preciso se readaptar as atividades que antes eram presenciais. “Isso fez com que nós realçássemos a nossa fé numa oração confiante, concreta, na dor e, às vezes, nas angústias e nos fez também realçar a caridade nos gestos concretos muito simples na família, no serviço essencial, no limite da convivência humana com as pessoas mais necessitadas. Eu creio que vivenciamos agora em todo o Brasil esse momento forte da esperança, na esperança de tempos melhores, esperança de podermos realmente estar em breve nos reunindo. Não evidentemente como antes de imediato, mas de maneira um pouco mais fraterna serena, prudente, cautelosa e creio que mais do que nunca essa experiência nos fez assim analisar que a Igreja continuou real na sua missão concreta, porém de maneira desafiante, diferente e que nos faz sair também diferentes. Esperamos que todos nós saiamos desse processo ou recomecemos comecemos aí as atividades de um jeito diferente, melhor diferente positivo no aspecto da vivência eclesial e do testemunho cristão em toda a nossa sociedade”.
Antes de encerrar o padre José Ulisses da Silva, que ajudou no debate, fez as considerações finais, ressaltou e disse acreditar que está sim havendo um novo jeito de ser Igreja, um novo jeito de evangelização.
“Não é algo pandêmico, deve ser algo que uma aprendizagem da Igreja, principalmente em termos de evangelização, essa evangelização que faz com que aqueles que nos acompanham, eles possam refletir. Não é necessário absolutamente estar de acordo com as posições que depois não há nenhum dogma em jogo aqui. Mas é tão bom fazer a gente refletir, aprofundar e, de repente perceber aquilo que a pandemia está desafiando a nossa vida, nos desafiando para dizer que o mais importante que existe no progresso, ordem e progresso do mundo desenvolvimento não é a tecnologia. Ciência apenas, mas é a vida do ser humano, nos ensinaram que a vida interconectada não existe”, destaca.
O padre ressaltou ainda o resgate da Igreja doméstica. “A Igreja está aí nessa pequena comunidade de pai, mãe, irmãos, avós, aí começa a igreja. Foi assim que começou em Nazaré. Então, isso tudo. No fundo, os meios de comunicação, redes sociais, televisão, estão nos ajudando a tomar consciência desses valores profundos e a perceber que nós não podemos contar apenas com governos desse ou daquele partido que vão nos salvar. Não há Salvador, a não ser nossos próprios. Na medida em que a gente se solidariza e vejo que os bispos estão atentos. Pelo menos aqueles que estão na direção da CNBB estão, assim, muito atentos a esse novo tempo, esse novo desafio”.