por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
com informações e foto/video Vaticano News
O Santo Padre Leão XIV, esta manhã, encontrou-se com os Membros do Colégio Cardinalício, aos quais dirigiu um discurso, seguido de uma conversa que retomou alguns temas e propostas surgidas nas intervenções das Congregações Gerais, como a escolha do nome pontifical que foi uma referência a Leão XIII que com a Rerum Novarum enfrentou a questão social na primeira revolução industrial e trouxe para os dias atuais uma preocupação “responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial”.
Aos cardeais, fez um pedido de apoiá-lo neste caminho que inicia, na esteira do Concílio e recolhendo a herança de Francisco “Retomemos este caminho”.
Leia abaixo o discurso completo de Leão XIV em português e italiano, que ante de iniciá-lo rezou a Ave Maria:
“Na primeira parte deste encontro, há uma pequena reflexão que gostaria de partilhar convosco. Depois, haverá uma segunda parte, algo como a experiência que foi pedida por muitos de vós, uma espécie de partilha com o Colégio Cardinalício, para poder ouvir quais os conselhos, sugestões, propostas, coisas muito concretas, das quais já se falou um pouco nos dias que antecederam o Conclave.
Irmãos Cardeais!
Saúdo e agradeço a todos vós por este encontro e pelos dias que o precederam, que foram dolorosos pela perda do Papa Francisco e exigentes pela responsabilidade que enfrentamos juntos, mas, ao mesmo tempo, ricos de graça e consolação no Espírito, segundo a promessa que o próprio Jesus nos fez (cf. Jo 14, 25-27).
Queridos Cardeais, vós sois os colaboradores mais próximos do Papa, e isto é de grande conforto para mim, que aceitei um fardo claramente muito superior às minhas forças, assim como o seria para qualquer outra pessoa. A vossa presença recorda-me que o Senhor, tendo-me confiado esta missão, não me deixa sozinho a carregar tal responsabilidade. Sei, primeiramente, que posso contar sempre – sempre! – com a vossa ajuda, com a ajuda do Senhor, e, pela sua Graça e Providência, com a vossa proximidade e a de tantos irmãos e irmãs que, em todo o mundo, acreditam em Deus, amam a Igreja e apoiam o Vigário de Cristo com a oração e as boas obras.
Agradeço ao Decano do Colégio Cardinalício, Cardeal Giovanni Battista Re – que merece um aplauso! Pelo menos um, se não mais –, cuja sabedoria, fruto de uma longa vida e de muitos anos de fiel serviço à Sé Apostólica, nos ajudou muito neste tempo. Agradeço ao Camerlengo da Santa Igreja Romana, Cardeal Kevin Joseph Farrell – acredito que ele está aqui presente –, pelo precioso e árduo papel que desempenhou durante o tempo da Sede Vacante e da Convocação do Conclave. Dirijo
também o meu pensamento aos irmãos Cardeais que, por motivos de saúde, não puderam estar presentes e, convosco, uno-me a eles em comunhão de afeto e oração.
Neste momento, ao mesmo tempo triste e alegre, providencialmente envolto pela luz da Páscoa, gostaria que olhássemos juntos para a partida do saudoso Papa Francisco e para o Conclave como um acontecimento pascal, uma etapa do longo êxodo através do qual o Senhor continua a guiar-nos em direção à plenitude da vida. E, nesta perspectiva, confiamos ao «Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação» (2Cor 1, 3) a alma do falecido Pontífice e também o futuro da Igreja.
O Papa, começando por São Pedro até mim, seu indigno Sucessor, é um humilde servo de Deus e dos irmãos, nada mais do que isso. Demonstram-no bem os exemplos de tantos dos meus Predecessores, o último dos quais o próprio Papa Francisco, com o seu estilo de total dedicação ao serviço e sobriedade essencial na vida, de abandono em Deus no tempo da missão e de serena confiança no momento da partida para a Casa do Pai. Acolhamos esta preciosa herança e retomemos
o caminho, animados pela mesma esperança que vem da fé.
É o Ressuscitado, presente no meio de nós, que protege e guia a Igreja e que continua a reavivá-la na esperança, através do amor «derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5). Cabe a cada um de nós tornarmo-nos ouvintes dóceis da sua voz e ministros fiéis dos seus desígnios de salvação, recordando que Deus gosta de se comunicar, mais do que no estrondo do trovão e do terremoto, no «murmúrio de uma brisa suave» (1Rs 19, 12) ou, como alguns traduzem, numa “leve voz de silêncio”. Este é o encontro importante, a que não se pode faltar, e para o qual devemos educar e acompanhar todo o santo Povo de Deus que nos está confiado.
Nos últimos dias, pudemos ver a beleza e sentir a força desta imensa comunidade, que com tanto carinho e devoção saudou e chorou o seu Pastor, acompanhando-o com a fé e a oração no momento do seu encontro definitivo com o Senhor. Vimos qual é a verdadeira grandeza da Igreja, que vive na variedade dos seus membros unidos à única Cabeça, que é Cristo, «Pastor e Guarda» (1Pe 2, 25) das nossas almas. Ela é o seio onde também nós fomos gerados e, ao mesmo tempo, o rebanho (cf. Jo 21, 15-17), o campo (cf. Mc 4, 1-20) que nos foi dado para que o cuidemos e cultivemos, o alimentemos com os Sacramentos da salvação e o fecundemos com a semente da Palavra, para que, firme na concórdia e entusiasta na missão, caminhe, como outrora os israelitas no deserto, à sombra da nuvem e à luz da chama de Deus (cf. Ex 13, 21).
A este respeito, gostaria que hoje renovássemos juntos a nossa plena adesão a este caminho, que a Igreja universal percorre há décadas na esteira do Concílio Vaticano II. O Papa Francisco recordou e atualizou magistralmente os seus conteúdos na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, da qual gostaria de sublinhar alguns pontos fundamentais: o regresso ao primado de Cristo no anúncio (cf. n.11); a conversão missionária de toda a comunidade cristã (cf. n. 9); o crescimento na colegialidade e na sinodalidade (cf. n. 33); a atenção ao sensus fidei (cf. nn. 119-120), especialmente nas suas formas mais próprias e inclusivas, como a piedade popular (cf. n. 123); o cuidado amoroso com os marginalizados e os excluídos (cf. n. 53); o diálogo corajoso e confiante com o mundo contemporâneo nas suas várias componentes e realidades (cf. n. 84; Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 1-2).
Trata-se de princípios do Evangelho que sempre animaram e inspiraram a vida e o agir da Família de Deus, valores através dos quais o rosto misericordioso do Pai se revelou e continua a revelar-se no Filho feito homem, última esperança de quem procura com sinceridade a verdade, a justiça, a paz e a fraternidade (cf. Bento XVI, Cart. enc. Spe salvi, 2; Francisco, Bula Spes non confundit, 3).
Justamente por me sentir chamado a seguir nessa linha, pensei em adotar o nome de Leão XIV. Na verdade, são várias as razões, mas a principal é porque o Papa Leão XIII, com a histórica Encíclica Rerum novarum, abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial; e, hoje, a Igreja oferece a todos a riqueza de sua doutrina social para responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que trazem novos desafios para
a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho.
Queridos irmãos, gostaria de concluir esta primeira parte do nosso encontro fazendo meu – e propondo-o também a vós – o desejo que São Paulo VI, em 1963, colocou no início do seu ministério petrino: «Passe pelo mundo inteiro, como uma grande chama de fé e de amor que inflame todos os homens de boa vontade, ilumine os caminhos da colaboração recíproca e atraia sobre a humanidade, agora e sempre, a abundância das divinas complacências, a própria força de Deus, sem a ajuda de quem nada é válido, nada é santo» (Mensagem à Família Humana Qui fausto die, 22 de junho de 1963).
Sejam esses também os nossos sentimentos, a serem traduzidos em oração e empenho, com a ajuda do Senhor. Obrigado!
[00526-PO.01] [Texto original: Italiano]
Discorso del Santo Padre
“Ave Maria…
Nella prima parte di questo incontro c’è un piccolo discorso con le riflessioni che vorrei condividere con voi. Ma poi ci sarà una seconda parte, un po’ come l’esperienza che molti di voi avete chiesto, di una specie di condivisione con il Collegio Cardinalizio per poter sentire quali consigli, suggerimenti, proposte, cose molto concrete, di cui si è già parlato un po’ nei giorni prima del Conclave.
Fratelli Cardinali!
Saluto e ringrazio tutti voi per questo incontro e per i giorni che lo hanno preceduto, dolorosi per la perdita del Santo Padre Francesco, impegnativi per le responsabilità affrontate insieme e al tempo stesso, secondo la promessa che Gesù stesso ci ha fatto, ricchi di grazia e di consolazione nello Spirito
(cfr Gv 14,25-27).
Voi, cari Cardinali, siete i più stretti collaboratori del Papa, e ciò mi è di grande conforto nell’accettare un giogo chiaramente di gran lunga superiore alle mie forze, come a quelle di chiunque.
La vostra presenza mi ricorda che il Signore, che mi ha affidato questa missione, non mi lascia solo nel portarne la responsabilità. So prima di tutto di poter contare sempre, sempre sul suo aiuto, l’aiuto del Signore, e, per sua Grazia e Provvidenza, sulla vicinanza vostra e di tanti fratelli e sorelle che in tutto il mondo credono in Dio, amano la Chiesa e sostengono con la preghiera e con le buone opere il Vicario di Cristo.
Ringrazio il Decano del Collegio Cardinalizio, Cardinale Giovanni Battista Re – merita un applauso, almeno uno se non di più –, la cui sapienza, frutto di una lunga vita e di tanti anni di fedele servizio alla Sede Apostolica, ci ha molto aiutato in questo tempo. Ringrazio il Camerlengo di Santa Romana Chiesa, Cardinale Kevin Joseph Farrell – credo che è qui presente –, per il prezioso e impegnativo ruolo che ha svolto nel tempo della Sede Vacante e della Convocazione del Conclave.
Rivolgo il mio pensiero anche ai fratelli Cardinali che, per ragioni di salute, non hanno potuto essere presenti e con voi mi stringo a loro in comunione di affetto e di preghiera.
In questo momento, ad un tempo triste e lieto, provvidenzialmente avvolto dalla luce della Pasqua, vorrei che guardassimo assieme alla dipartita del compianto Santo Padre Francesco e al Conclave come a un evento pasquale, una tappa del lungo esodo attraverso cui il Signore continua a guidarci verso la pienezza della vita; e in questa prospettiva affidiamo al «Padre misericordioso e Dio di ogni consolazione» (2Cor 1,3) l’anima del defunto Pontefice e anche il futuro della Chiesa.
Il Papa, a cominciare da San Pietro e fino a me, suo indegno Successore, è un umile servitore diDio e dei fratelli, non altro che questo. Bene lo hanno mostrato gli esempi di tanti miei Predecessori, da ultimo quello di Papa Francesco stesso, con il suo stile di piena dedizione nel servizio e sobria essenzialità nella vita, di abbandono in Dio nel tempo della missione e di serena fiducia nel momento del ritorno alla Casa del Padre. Raccogliamo questa preziosa eredità e riprendiamo il cammino, animati dalla stessa speranza che viene dalla fede.
È il Risorto, presente in mezzo a noi, che protegge e guida la Chiesa e che continua a ravvivarla nella speranza, attraverso l’amore «riversato nei nostri cuori per mezzo dello Spirito Santo che ci è stato donato» (Rm 5,5). A noi spetta farci docili ascoltatori della sua voce e fedeli ministri dei suoi disegni di salvezza, ricordando che Dio ama comunicarsi, più che nel fragore del tuono e del terremoto, nel «sussurro di una brezza leggera» (1Re 19,12) o, come alcuni traducono, in una “sottile
voce di silenzio”. È questo l’incontro importante, da non perdere, e a cui educare e accompagnare tutto il santo Popolo di Dio che ci è affidato.
Nei giorni scorsi, abbiamo potuto vedere la bellezza e sentire la forza di questa immensa comunità, che con tanto affetto e devozione ha salutato e pianto il suo Pastore, accompagnandolo con la fede e con la preghiera nel momento del suo definitivo incontro con il Signore. Abbiamo visto qual è la vera grandezza della Chiesa, che vive nella varietà delle sue membra unite all’unico Capo, Cristo, «pastore e custode» (1Pt 2,25) delle nostre anime. Essa è il grembo da cui anche noi siamo stati
generati e al tempo stesso il gregge (cfr Gv 21,15-17), il campo (cfr Mc 4,1-20) che ci è dato perché lo curiamo e lo coltiviamo, lo alimentiamo con i Sacramenti della salvezza e lo fecondiamo con il seme della Parola, così che, solido nella concordia ed entusiasta nella missione, cammini, come già gli Israeliti nel deserto, all’ombra della nube e alla luce del fuoco di Dio (cfr Es 13,21).
E in proposito vorrei che insieme, oggi, rinnovassimo la nostra piena adesione, in tale cammino, alla via che ormai da decenni la Chiesa universale sta percorrendo sulla scia del Concilio Vaticano II. Papa Francesco ne ha richiamato e attualizzato magistralmente i contenuti nell’Esortazione apostolica Evangelii gaudium, di cui voglio sottolineare alcune istanze fondamentali: il ritorno al primato di Cristo nell’annuncio (cfr n. 11); la conversione missionaria di tutta la comunità cristiana (cfr n. 9); la crescita nella collegialità e nella sinodalità (cfr n. 33); l’attenzione al sensus fidei (cfr nn. 119-120), specialmente nelle sue forme più proprie e inclusive, come la pietà popolare (cfr n. 123); la cura amorevole degli ultimi, e degli scartati (cfr n. 53); il dialogo coraggioso e fiducioso con il mondo contemporaneo nelle sue varie componenti e realtà (cfr n. 84; CONCILIO VATICANO II, Cost. Past. Gaudium et spes, 1-2).
Si tratta di principi del Vangelo che da sempre animano e ispirano la vita e l’opera della Famiglia di Dio, di valori attraverso i quali il volto misericordioso del Padre si è rivelato e continua a rivelarsi nel Figlio fatto uomo, speranza ultima di chiunque cerchi con animo sincero la verità, la giustizia, la pace e la fraternità (cfr BENEDETTO XVI, Lett. enc. Spe salvi, 2; FRANCESCO, Bolla Spes non confundit, 3).
Proprio sentendomi chiamato a proseguire in questa scia, ho pensato di prendere il nome di Leone XIV. Diverse sono le ragioni, però principalmente perché il Papa Leone XIII, infatti, con la storica Enciclica Rerum novarum, affrontò la questione sociale nel contesto della prima grande rivoluzione industriale; e oggi la Chiesa offre a tutti il suo patrimonio di dottrina sociale per rispondere a un’altra rivoluzione industriale e agli sviluppi dell’intelligenza artificiale, che comportano nuove sfide per la difesa della dignità umana, della giustizia e del lavoro.
Fratelli carissimi, vorrei concludere questa prima parte del il nostro incontro facendo mio – e proponendo anche a voi – l’auspicio che San Paolo VI, nel 1963, pose all’inizio del suo Ministero petrino: «Passi su tutto il mondo come una grande fiamma di fede e di amore che accenda tutti gli uomini di buona volontà, ne rischiari le vie della collaborazione reciproca, e attiri sull’umanità, ancora e sempre, l’abbondanza delle divine compiacenze, la forza stessa di Dio, senza l’aiuto del Quale,
nulla è valido, nulla è santo» (Messaggio all’intera Famiglia Umana Qui fausto die, 22 giugno 1963).
Siano questi anche i nostri sentimenti, da tradurre in preghiera e impegno, con l’aiuto del
Signore. Grazie!”
[00526-IT.01] [Testo originale: Italiano]