por Dom Pedro Jose Conti
Bispo da Diocese de Macapá

“O chefe se impõe: “Aqui mando eu”. O servidor: “Contem comigo”.

O chefe existe pela sua autoridade; o servidor pelas suas atitudes.

O chefe exige impor-se com extensos argumentos; o servidor com exemplos e testemunhos.

O chefe inspira medo; sorriem-lhe pela frente e o criticam pelas costas. O servidor inspira confiança, dá poder à sua equipe, os entusiasma e, quando está presente, fortalece o grupo.

O chefe sabe como se faz as coisas; o servidor ensina como devem ser feitas. O primeiro guarda segredos, o outro capacita as pessoas para alcançar a meta.

O chefe chega em cima da hora; o servidor chega adiantado e transforma pessoas ordinárias em pessoas extraordinárias. Compromete-as com uma missão que lhes permita a realização. Dá sentido à vida de seus seguidores, uma razão para viver…É um arquiteto humano.

O chefe se aproveita dos demais. O servidor dá sua vida pelos que ama.”

Todo ano, com a solenidade de S. Pedro e S. Paulo celebramos a memória deste dois grandes apóstolos. “Por diferentes caminhos, os dois congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do martírio, recebem hoje, por toda a terra, igual veneração”. Assim proclamaremos no prefácio da missa. Esta festa nos oferece a oportunidade de refletir um pouco sobre algo que é próprio da nossa Igreja que chamamos de católica, apostólica e… romana. Por isso rezaremos de maneira especial pelo Santo Padre papa Francisco. A “cabeça” da Igreja, pensada como um corpo vivo, é o próprio Senhor Jesus (Cl 1,18). Não devemos ter dúvida alguma. No entanto, acreditamos que ele tenha deixado alguém, necessariamente humano, com a missão desafiadora de ser um sinal visível de unidade na fé. O papa é humano e, portanto, limitado. Não sabe tudo e não pode fazer tudo. Precisa de colaboradores, bons e sinceros, mas, sobretudo, precisa da confiança de todos os cristãos para cumprir a sua difícil missão: manter unida a Igreja. Vivemos tempos de individualismo exacerbado e de autopromoção sem nos perguntar se isso ajuda a unidade e a comunhão ou satisfaz o nosso gosto de querer ser diferentes a qualquer custo.

Conhecer e obedecer às normas da Igreja não significa ser submissos ou nos sentir frustrados em nossa personalidade. Se pensamos, por exemplo, nas nossas celebrações litúrgicas, quando todos – crianças e adultos –  conseguem cantar juntos, ninguém se deve achar diminuído. Ao contrário, fazemos a experiencia de uma voz unanime, nos sentimos parte de algo bem maior que a nós mesmos. Esta comunhão é tão grande que, nas missas, rezamos pelos vivos e pelos mortos, pelos presentes e os ausentes, pelos santos e as santas que já cantam no céu a glória de Deus. Também a fila pera receber a Eucaristia não serve só para aguardar a nossa vez. Nos ensina a caminhar juntos, alimentados pela mesma Palavra e pelo mesmo Corpo do Senhor, sem fazer gestos particulares de devoção.

Comecei falando da “autoridade” do papa e acabei fazendo exemplos bem comuns entre nós. Foi só para lembrar que aqueles que, às vezes, consideramos “chefes”, na realidade são companheiros na mesma caminhada. Bispos, padres e todos aqueles que tem alguma tarefa específica na Igreja, estão a serviço do único Povo de Deus e comprometidos a construir a unidade também através da obediência aos simples e pequenos gestos que, porém formam, aos poucos, o nosso jeito de pensar e acreditar na Igreja. Toda “autoridade” tem esta missão a cumprir. Papa Francisco não inventou os Sínodos sobre a “sinodalidade” para complicar as coisas mas, para nos lembrar e incentivar naquilo que nós todos somos chamados a zelar: caminhar juntos e todos na mesma direção. Somente assim a Igreja pode ser um sinal de esperança, paz e fraternidade num mundo tão dividido e conflituoso. S. Pedro e S. Paulo foram muito diferentes, mas “congregaram a única família de Cristo”. Não foram simplesmente “chefes” ou organizadores, foram verdadeiros servidores da comunhão no único Corpo de Cristo.