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por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB

Na manhã desta sexta-feira (12/12), a mensagem do Papa Leão XIV aos participantes do encontro de sacerdotes, religiosas, religiosos e seminaristas latino-americanos que estudam em Roma, incentivou-os a nutrir uma conexão íntima e profunda com o Senhor. Reunidos para uma conferência centrada na figura de Maria, o Santo Padre os exortou a cultivar um vínculo com Deus que se assemelhe à união conjugal em sua dedicação e profundidade.

O Pontífice os convidou-os a viver com coragem, lembrando-lhes de guardar em seus corações as inúmeras maravilhas que Cristo realizou na vida de cada homem e mulher, fortalecendo assim sua fé e seu chamado.

Em um cenário contemporâneo dominado pelo ruído e pela confusão, a mensagem evangélica do chamado de Jesus — resumida na ordem concisa “Segue-me” — ressoa como um imperativo de clareza e propósito. Uma profunda reflexão baseada nos textos sagrados e na exegese de São Ambrósio revela que esta convocação não é um convite casual, mas uma reorientação total da existência.

O chamado de Cristo, como evidenciado nos Evangelhos, é marcado pela iniciativa divina absoluta. Jesus chama sem exigir mérito prévio, focando na missão de  transformar os discípulos em instrumentos do desígnio de salvação para os pecadores e os fracos.

As Exigências do Discípulo

Responder a esse chamado, contudo, implica um compromisso radical que exige desapego. A análise dos textos aponta para três exigências centrais, ilustradas pelo episódio do jovem rico:A Primazia Absoluta de Deus: Ele é o único “bom”, e nada pode se antepor a Ele.Conhecimento da Lei Divina: A necessidade de um saber prático e teórico da vontade de Deus.Desapego de Toda Segurança Humana: A oferta total do que se é e do que se tem.

São Ambrósio, ao comentar a passagem em que Jesus pede a um discípulo para não sepultar o pai, aponta que o Senhor não anula os deveres naturais, mas abre os olhos para uma nova vida, onde a união com Deus precede até mesmo o que é bom, significando a morte ao “velho homem mundano”.

Comunhão, Não Solidão

Crucialmente, essa união com Jesus não gera isolamento. Segundo a visão patrística, ela reverte em comunhão com o irmão. A pertença não se baseia em simpatia ou conveniência, mas no fato de serem “povo que o Senhor adquiriu a preço de seu Sangue”. A meta final é a “concorde inquebrável de almas”, espelhando a unidade de Deus Pai e Filho.

O diálogo final entre Jesus e Pedro após a Ressurreição — onde a palavra “Segue-me” é repetida após a tripla confissão de amor — serve como um bálsamo para a fragilidade humana. Mesmo quando a visão do discípulo se turva pelo egoísmo ou pela tempestade, a voz de Cristo sustenta com paciência amorosa, lembrando que o obstáculo muitas vezes não é a Cruz, mas o próprio egoísmo.

Nesta “sociedade do ruído”, a matéria conclui que o maior serviço é anunciar com clareza a primazia de Cristo, um conhecimento que se alcança, antes de tudo, pela leitura meditada das Escrituras.

Leia mensagem do Papa Leão XIV aos aos participantes do encontro de sacerdotes, religiosas, religiosos e seminaristas latino-americanos que estudam em Roma, abaixo, na integra:

Queridos irmãos e irmãs:

Quando Jesus Cristo chamou seus discípulos, quase invariavelmente usou a palavra “segue-me”. Nessa breve palavra podemos encontrar o propósito mais profundo de nossa vida, seja como seminaristas, como sacerdotes ou como membros da vida consagrada. Se releermos os textos evangélicos de chamada, o primeiro que constatamos é a absoluta iniciativa do Senhor. Ele os chama, sem nenhum mérito prévio por parte de seus interlocutores (cf. Mt 9,9; Jo 1,43) e olhando mais para que a vocação a que os convoca seja uma oportunidade para levar a mensagem evangélica aos pecadores e aos fracos (cf. Mt 9,12-13). Desse modo, seus discípulos se convertem em instrumentos do desígnio de salvação que Deus tem para todos os homens (cf. Jo 1,48).

Ao mesmo tempo, o Evangelho nos exorta a tomar consciência do compromisso que supõe responder a essa vocação. Nos fala de exigências que podemos individuar na chamada frustrada ao jovem rico (Mt 19,21): a exigência da primazia absoluta de Deus, o único bom (v. 17); a exigência da necessidade imperiosa do conhecimento teórico e prático da lei divina (v. 18-19) e a exigência do desapego de toda segurança humana, com a consequente oferta de tudo o que somos e o que temos (v. 21).

São Ambrósio, em sua exegese do surpreendente passagem do jovem a quem Jesus não consente enterrar a seu pai (Lc 9,59), assume que nessa exigência de deixar tudo —inclusive coisas justas em si mesmas— o Senhor não pretende eludir os deveres naturais, sancionados pela lei de Deus, mas abrir nossos olhos a uma nova vida. Nela nada pode antepor-se a Deus, nem sequer o que até então havíamos conhecido como bom, e supõe a morte ao pecado e ao velho homem mundano. Tudo isso «com o fim de que sejamos um ao lado de Deus todo-poderoso, e possamos ver a seu Filho unigênito» (Tratado sobre o Evangelho de S. Lucas, 40).

Para Ambrósio, essa união indispensável com Jesus, longe de nos apartar do irmão, reverte em comunhão com os demais. Não caminhamos em solidão, somos parte de uma comunidade. Não nos unem laços de simpatia, interesses compartilhados ou mútua conveniência, mas a pertença ao povo que o Senhor adquiriu a preço de seu Sangue (cf. 1 P 1,18-19). Nossa união tende para um valor escatológico que se verificará quando imitemos «a unidade da paz eterna com uma concórdia irrompível de almas e em uma aliança sem fim» e cumpramos «o que nos prometeu o Filho de Deus quando elevou a seu Pai essa oração: “Que todos sejam um, como nós o somos” (Jo 17,21)» (Tratado sobre o Evangelho de S. Lucas, 40).

Finalmente, no Evangelho de São João, Jesus repete ao apóstolo Pedro duas vezes a palavra “segue-me”. O faz em um contexto muito diferente, a Ressurreição, logo após a tripla confissão de amor que Pedro realiza em reparação de seu pecado. Ainda confessando seu amor, o Apóstolo não entendia plenamente o mistério da cruz, mas o Senhor já tinha em mente o sacrifício com o qual Pedro daria glória a Deus e lhe repete: “Segue-me” (Jo 21,19).

Quando ao longo da vida, nossa mirada se nubla, como a Pedro, em meio à noite ou através das tormentas (Mt 14,25.31), será a voz de Jesus a que com amorosa paciência nos sustente. A segunda vez que Jesus diz a Pedro: “Segue-me”, nos assegura de que o Senhor conhece de nossa fragilidade, e de que, muitas vezes, não é a cruz que se nos impõe, mas nosso próprio egoísmo, o que se converte em causa de tropeço em nosso afán de segui-lo.

O diálogo com o apóstolo nos mostra com que facilidade julgamos ao irmão e inclusive a Deus, sem acolher com docilidade sua vontade em nossas vidas. Também aqui o Senhor nos repete, com constância: «que te importa? Tu segue-me» (Jo 21,22).

Irmãos e irmãs, já que estamos na sociedade do ruído que confunde, hoje mais do que nunca se requerem servidores e discípulos que anunciem a primazia absoluta de Cristo e que tenham o acento de sua voz muito claro nos ouvidos e no coração. Esse conhecimento teórico e prático da Lei divina se alcança antes de tudo graças à leitura das Sagradas Escrituras, meditada no silêncio da oração profunda, à reverente acolhida da voz dos legítimos pastores e ao estudo atento dos muitos tesouros de sabedoria que nos oferece a Igreja.

Em meio às alegrias e em meio às dificuldades, nossa consigna há de ser: se Cristo passou por aí, também nos corresponde viver o que Ele viveu. Não devemos apegar-nos aos aplausos porque seu eco dura pouco; tampouco é são ficarmos só no recuerdo do dia de crise ou dos tempos de amarga decepção. Olhemos mais para que tudo isso é parte de nossa formação e digamos: se Deus o quis para mim eu também o quero (cf. Sl 40,8).

O vínculo profundo que nos une com Cristo, seja como sacerdotes, consagrados ou seminaristas, tem uma semelhança com aquilo que se diz aos esposos cristãos no dia mesmo de seu casamento: «na saúde e na doença; na pobreza e na riqueza» (Ritual do Matrimônio, 66).

Que a Bem-aventurada Virgem Maria de Guadalupe, Mãe do verdadeiro Deus por quem se vive, nos ensine a responder com valentia e conservando no coração as maravilhas que Cristo fez em nós, para assim, sem demora, ir anunciar a alegria de tê-lo encontrado, de ser um no Um e pedras vivas de um templo para sua glória.

Que Maria Santíssima custodie seu passo por Roma e interceda por vocês para que tudo o que em Roma assimilarem, seja frutífero em sua missão.

Deus os abençoe.

LEÓN PP.XIV

Vaticano, 9 de dezembro de 2025. Memória de São Juan Diego“.

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