PRELAZIA DO XINGU
“Quando virdes a abominação desoladora instalada onde não deve… fujam para os montes” (Mc 13,14)

Altamira, 10 de fevereiro de 2019

A cada dia que passa os meios de comunicação nos assustam com nova contagem de corpos achados na lama e anunciam o número de desaparecidos. Estamos sempre mais horrorizados com uma catástrofe que ceifou a vida de tantas pessoas. Ficamos de coração partido pensando nas famílias inconsoláveis pela perda de um ente querido. Partilhamos a sua dor e saudade rezando pelos falecidos e suplicando ao nosso Bom Deus que conforte com seu amor e ternura os familiares, parentes e amigos aflitos.

Não hesitamos, porém, de denunciar a negligência e omissão dos responsáveis por esse crime e insistir que sejam apuradas as verdadeiras causas do rompimento da barragem. Os desastres de Mariana, Barcarena, e de outros lugares, ficaram até hoje sem explicação convincente e manifestam a face cruel e desumana da mineração no Brasil.

Na Prelazia do Xingu, depois de Belo Monte com seus efeitos tão negativos para os ribeirinhos e indígenas, chega uma empresa canadense que pretende explorar as minas de ouro na Volta Grande do Xingu. Se o projeto chegar a concretizar-se ameaçará de modo dramático os sítios arqueológicos e afetará sensivelmente o ecossistema da região.

Estamos muito apreensivos e temerosos diante dos enormes riscos que esse empreendimento significa para o ser humano e o meio ambiente. Quem realmente pode garantir que as instalações previstas tenham a segurança apregoada? Sabemos, no entanto, que as consequências de um desastre serão irreversíveis e jamais haverá recuperação das águas e das áreas atingidas no Xingu.

Apelamos aos Governos Federal e Estadual para que se abstenham de conceder licenciamento a uma empresa estrangeira que quer levar o ouro do Brasil deixando atrás de si uma paisagem lunática envenenada.


Dom Frei João Muniz Alves, OFM
Bispo Prelado do Xingu

Dom Erwin Kräutler, CPPS
Bispo Prelado Emérito do Xingu