Foto: Luiz Estumano

De Fundação Nazaré de Comunicação

Na manhã desta sexta-feira, 14 de fevereiro, a Arquidiocese de Belém realizou coletiva de imprensa sobre a exortação apostólica “Querida Amazônia”, produzida a partir do Sínodo para Amazônia, que ocorreu em outubro de 2019, e divulgada na última quarta-feira, 12 de fevereiro.

Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo metropolitano de Belém e vice-presidente da CNBB Norte 2; Monsenhor Raimundo Possidônio da Mata, vigário geral da Arquidiocese de Belém e o cônego Sílvio Trindade, vigário episcopal para coordenação de Pastoral, estiveram presentes e receberam a imprensa para discorrer sobre a exortação apostólica pós-sinodal.

Na ocasião, o Arcebispo de Belém e membro do Conselho Pós-Sinodal apresentou suas considerações acerca da exortação “Querida Amazônia”. Para ele, o documento é um gesto extraordinário e um verdadeiro hino e poema de amor a região amazônica destinado a todos que ali vivem, como diz o Papa Francisco: “eu quero chegar aos últimos e as raízes da Amazônia”. Dom Alberto ainda lembra que este chamado corresponde de maneira integral a escolha da Igreja em servir os últimos.

A exortação está dividida em tópicos. O Arcebispo destaca que 50 % do documento se refere ao que o Santo Padre chama de “sonho eclesial”, que indica o desejo dele para a Igreja na Amazônia. A primeira parte se refere a toda humanidade e às pessoas de boa vontade e, a segunda, ao à Igreja.

Dom Alberto explicita que no decorrer da leitura da exortação se observa a enumeração dos chamados sonhos do Papa Francisco a partir de vários aspectos da Amazônia: sonho social, cultural, ecológico e eclesial.

O primeiro descreve que a luta social implica um espírito de fraternidade e da comunhão entre todos, além de inspiração pela luta dos mais pobres, dos povos nativos chamados pelo Papa de “os últimos”. De acordo com o Vigário Geral é um levantamento, “um diagnóstico que ele faz da nossa realidade”.

O sonho cultural se refere a preservação cultural mantendo uma harmonia entre as diferentes formas de cultura presentes na realidade local. Para Monsenhor Raimundo Possidônio este sonho é uma tentativa para compreender a cultura: “é uma tentativa de entender a cultura nas suas expressões de vida, o sentido da existência, dimensão religiosa e sobretudo a sabedoria que vem desses povos, aprender a lidar com essa realidade diversa e não podemos absolutamente desvalorizar, abandonar o povo a sua sorte”.

Já o sonho ecológico está diretamente relacionado à proteção da beleza natural e ao meio ambiente, que inclui o cuidado com as pessoas, com o ambiente, com a revalorização da sabedoria dos povos que possuem o conhecimento para lidar com a Amazônia sem destruir em todos os níveis.

E por último o sonho eclesial, onde o Santo Padre faz referência as comunidades cristãs encarnadas na Amazônia e que compõem a identidade da realidade de Igreja local.“A Igreja é chamada a caminhar com os povos da Amazônia, mas para tornar possível esta encarnação da Igreja e do evangelho, deve ressoar incessantemente o grande anúncio missionário”, explica Monsenhor Cid sobre este último sonho.

A partir da exortação apostólica, vários passos serão seguidos para fortalecer a evangelização na Amazônia, como explica o dom Alberto:  “A primeira coisa é conhecê-lo e entender cada um dos seus pontos. No nosso caso, na arquidiocese, nós vamos entender isso aqui dentro do ambiente chamado Sínodo Arquidiocesano, que como o sínodo dos bispos pediu que nós realizássemos esse espírito de sinodalidade. Então o que nós vamos fazer? Trabalhar para realizar o sonho social, ambiental, o sonho cultural e o sonho eclesial”.

A evangelização na região amazônia enfrenta diferentes desafios ao longo dos 400 anos de presença local. E dom Alberto ressalta alguns e as possíveis soluções para possibilitar a realização do sonho eclesial citado pelo Santo Padre no documento. “O principal desafio para nós é o da missão. Então é um sonho eclesial de levar o querigma, levar a boa nova de Jesus a todos os lugares e a todos as pessoas. Então nós queremos criar essas condições de missão, formar sacerdotes, formar leigos. O Papa dedica um texto longo a respeito do laicato, a responsabilidade dos cristãos leigos para o nosso mundo e para a evangelização, isso pra mim é importantíssimo. Que nós tenhamos esse sentido de missão, esse sentido de anúncio da palavra de Deus para que ninguém fique sem ouvir o nome de Jesus Cristo, então esse é o desafio, agora é claro, nós temos desafios sociais”, explicita o arcebispo.

Quando se olha mais atentamente para a Arquidiocese de Belém também é possível identificar desafios diferentes na evangelização. “Para nós, aqui em Belém, um grande desafio é justamente a situação urbana, nós temos as periferias, nós temos o crescimento muito grande da cidade, temos a necessidade de áreas missionárias, áreas de criação de paróquia, e temos os desafios sociais que são imensos. Pensemos, por exemplo, só na violência. Então nós temos que enfrentar esses desafios colaborando com a sociedade civil compartilhando, colaborando também com os governos, sendo capazes de ser vozes em nome do nosso povo diante das autoridades governativas justamente para que busquemos as melhores soluções, especialmente, para esses problemas sociais dos quais não somos os primeiros responsáveis, mas somos co-responsáveis porque fazemos parte da sociedade”, finaliza dom Alberto.

Outro ponto de destaque na Exortação é a convivência ecumênica e a inter-religiosa, localizada no último capítulo. O Vigário Geral também apresentou suas considerações acerca deste tópico e explicou que a Igreja Católica já realizou grandes avanços neste âmbito. “Quando o Papa diz que a Amazônia é um poliedro, ele não tá só falando da diversidade cultural que existe, mas também de diversidade religiosa, porque a gente pensa que quando fala em religião é só no cristianismo e nas suas diversas expressões, mas aqui tem expressões muito diversas de expressões religiosas do mundo indígena, do afro e outras mais. Então o diálogo ecumênico é fundamental para o que o Papa quer na Amazônia. Se a gente não consegue um diálogo através da questão cultual, litúrgica ou doutrinal, a gente pode consegui em vista da casa comum”, encerra Monsenhor Raimundo da Mata.

A Exortação Apostólica encerra com uma oração pela Amazônia, que sintetiza vários pontos citados no documento. Leia a seguir a Oração na íntegra:

Mãe da vida,
no vosso seio materno formou-Se Jesus,
que é o Senhor de tudo o que existe.
Ressuscitado, Ele transformou-Vos com a sua luz
e fez-Vos Rainha de toda a criação.
Por isso Vos pedimos que reineis, Maria,
no coração palpitante da Amazônia.

Mostrai-Vos como mãe de todas as criaturas,
na beleza das flores, dos rios,
do grande rio que a atravessa
e de tudo o que vibra nas suas florestas.
Protegei, com o vosso carinho, aquela explosão de beleza.

Pedi a Jesus que derrame todo o seu amor
nos homens e mulheres que moram lá,
para que saibam admirá-la e cuidar dela.

Fazei nascer vosso Filho nos seus corações
para que Ele brilhe na Amazônia,
nos seus povos e nas suas culturas,
com a luz da sua Palavra, com o conforto do seu amor,
com a sua mensagem de fraternidade e justiça.

Que, em cada Eucaristia,
se eleve também tanta maravilha
para a glória do Pai.

Mãe, olhai para os pobres da Amazônia,
porque o seu lar está a ser destruído
por interesses mesquinhos.
Quanta dor e quanta miséria,
quanto abandono e quanto atropelo
nesta terra bendita,
transbordante de vida!

Tocai a sensibilidade dos poderosos
porque, apesar de sentirmos que já é tarde,
Vós nos chamais a salvar
o que ainda vive.

Mãe do coração trespassado,
que sofreis nos vossos filhos ultrajados
e na natureza ferida,
reinai Vós na Amazônia
juntamente com vosso Filho.

Reinai, de modo que ninguém mais se sinta dono
da obra de Deus.
Em Vós confiamos, Mãe da vida!
Não nos abandoneis
nesta hora escura.

Amém.

Leia na íntegra o documento aqui.