EDUCAÇÃO CATÓLICA:

PRINCÍPIOS DE FIDELIDADE DA EDUCAÇÃO CATÓLICA (Parte 4)

Introdução

A Igreja Católica se interessa pela educação porque ela faz parte do processo de evangelização. Como já refletimos no primeiro artigo desta série, não existe profunda evangelização sem a educação da fé. O aprofundamento dos conteúdos da fé se dá através de um dinamismo educativo pessoal e comunitário; sem isso, não haverá mudança de mentalidade e nem conversão.

Diante dos desafios do desenvolvimento humano integral, da educação, da evangelização e da catequese, a Igreja orienta-se com firmeza pelo propósito de fidelidade. Por isso o Papa Francisco, na Constituição Apostólica “Veritatis Gaudium”, sobre as universidades e as faculdades eclesiásticas (cf. Art.73 sobre as normas comuns), afirma: “Na investigação e no estudo da doutrina católica deve brilhar sempre a luz da fidelidade ao Magistério da Igreja”.

Esse princípio da fidelidade tem diversos horizontes, a saber: ao ser humano, a Jesus Cristo, à Igreja, à Tradição, ao Reino de Deus, aos princípios éticos. Dentre as muitas recomendações que Jesus deixou aos seus apóstolos, recordemos aquela da vigilância. Hoje, no campo da educação, isso significa, não nos deixarmos seduzir por ideologias que faria a Igreja deixar de ser Sal e Luz na sociedade (cf. CT, 55; ES, 8). Assim a Educação Católica tem uma responsabilidade profética na sociedade.

Por amor e fidelidade a Jesus Cristo a Igreja é chamada a manter-se sempre vigilante para poder superar os desafios da sociedade, sobretudo, aos que se opõe à autêntica visão do ser humano e sua razão de ser neste mundo. Esse princípio basilar de fidelidade não rege somente a Igreja no seu serviço no campo da Educação, mas em todas as suas atividades e em todos os contextos.

 

  1. Princípio da fidelidade ao ser humano

A Igreja é “perita em humanidade” (Paulo VI, Populorum Progressio, 13) porque o seu senhor, Jesus Cristo, lhe revelou com suas palavras, gestos e atitudes, o sentido da existência humana e a sua vocação última, a vida eterna. A Igreja, através da educação e todas as suas atividades (a evangelização, catequese, liturgia, ação social…) tem o compromisso de fidelidade à sua origem sagrada, vocação, identidade (criatura, sujeito, filho de Deus, irmão), dinâmica de vida, meta definitiva. “O mistério do homem só se esclarece no mistério do Verbo encarnado” (GS, 22).

Cristo nos oferece os critérios fundamentais para se obter uma visão integral do homem que, por sua vez, ilumina e completa a imagem concebida pela filosofia e as contribuições das outras ciências humanas, a respeito do ser do homem e de sua realização histórica. Por isso firme no propósito de fidelidade à verdade sobre o homem a Igreja se manifesta contrária a todo humanismo ateu e ideologias que atentam contra a dignidade humana: ideologia determinista, economicista, psicologista, estatista, técnico-cientificista, biologista etc. (cf. Doc. Puebla,305-317). Todas elas atentam contra a visão holística do ser humano.

 

  1. Princípio da fidelidade a Jesus Cristo

Filho de Deus, o Senhor, Mestre, Salvador… Autoridade absoluta! “Caminho, Verdade Vida” (Jo 14,6). A Igreja é serva, Jesus é o seu Senhor, a cabeça da Igreja. “Ele é a cabeça do Corpo, que é a Igreja; Ele é o princípio e o primogênito dentre os mortos, a fim de que em absolutamente tudo tenha a supremacia” (Cl 1,17-18).

Recordemos que não existe para a Igreja Católica dicotomia entre a pessoa de Jesus e a Palavra de Deus. Jesus Cristo é a Palavra de Deus: Portanto, Jesus Cristo é o critério de validade de tudo aquilo que se encontra na Bíblia: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus” (cf. Jo 1,1). “Havendo Deus, desde a antiguidade, falado, em várias ocasiões e de muitas formas, aos nossos pais, por intermédio dos profetas, nestes últimos tempos, nos falou mediante seu Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo o que existe e por meio de quem criou o Universo” (Hb 1,1-2).

O princípio da fidelidade a Jesus Cristo estimula a Igreja a acolher a totalidade da pessoa do Salvador: suas palavras, seus ensinamentos, seus gestos, suas atitudes, suas opções, suas iniciativas, sua sensibilidade, suas virtudes, seus sonhos (inquietudes).

 

  1. Princípio da Fidelidade ao Magistério da Igreja

“Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os apóstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles ‘transmitindo seu próprio encargo de Magistério” (CIC,77). O magistério da Igreja tem como função interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida; esse sério serviço de preservar o autêntico tesouro da fé é exercido em nome de Jesus Cristo, em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma e o colégio apostólico. Disse Jesus: “Quem vos ouve a mim ouve” (Lc 10,16).

“Todavia, tal Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino, com a assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe, e deste único depósito de fé tira o que nos propõe para ser crido como divinamente revelado” (CIC,86).

 

  1. Princípio da fidelidade ao Reino de Deus

Vejamos o que nos diz o papa Paulo VI na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi: “Como evangelizador, Cristo anuncia em primeiro lugar um reino, o Reino de Deus, de tal maneira importante que, em comparação com ele, tudo o mais passa a ser “o resto”, que é “dado por acréscimo” (EN,8).

Para a Igreja a dinâmica do Reino de Deus é absoluta, e faz com que se torne relativo tudo o que não se identifica com Ele. O Reino de Deus é a manifestação evidente da presença de Jesus agindo através da Igreja em todas as áreas da vida humana. A presença de Jesus gerava impacto na sociedade e assim os cegos enxergavam, os coxos andavam, os leprosos eram curados, os surdos ouviam, os mortos ressuscitavam e a devida atenção cheia de esperança era anunciada aos pobres (cf. Mt 11,5). A promoção do Reino de Deus e a meta de toda atividade pastoral da Igreja.

 

  1. Princípio da fidelidade aos valores éticos universais

O Concílio Ecumênico Vaticano II, afirmou a íntima união da Igreja com toda a família humana declarando: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história” (GS,1). Mais ainda: tem um compromisso de fidelidade para com a sociedade (cf. CT,67); há uma interdependência dos valores éticos, tudo está interligado. “Amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam” (Sl 85,11).

A Igreja tem o compromisso de contribuir com a promoção da justiça, paz, solidariedade, diálogo em todo o mundo. Tudo o que fere a dignidade humana, atinge a vida da Igreja.

 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Quais são os diversos horizontes de compromissos de fidelidade da Igreja?
  2. Quais são as consequências de uma educação infiel ao ser humano?
  3. É possível a promoção da educação católica sem a fé em Jesus Cristo?