Introdução:

Os discípulos de Jesus são o sal da terra e a luz do mundo! (Mt 5,13-16). Usando essas metáforas Jesus declarou a necessidade dos seus discípulos assumirem uma vida cheia de significado onde vivem, de modo que não devem perder a capacidade de temperar e nem iluminar a sociedade com seu testemunho. O cristão não deve viver escondido, no anonimato, no intimismo, disfarçado, camuflado na sociedade. Por isso Jesus lhes disse: “que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu» (Mt 5,16). Esse é um dos grandes desafios para a pastoral juvenil.

 

  1. A necessidade do testemunho

Jesus deixou bem claro para os seus discípulos que para segui-lo é necessário assumir compromissos sociais. O seguimento de Jesus Cristo tem uma dimensão social. Os primeiros discípulos que conviveram com Jesus foram por Ele enviados para promover o Reino de Deus: “Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar!” (Mt 10,7-13).

Está claro que Jesus não quis admiradores, mas discípulos que abraçassem a sua missão. Não quis seguidores com fé intimista, sem dinamismo e paralítica, mas discípulos que assumissem o seu ideal de vida: a promoção do Reino de Deus. Com o Batismo, assumimos a missão de sermos instrumentos promotores do Reino de Deus, que gera saúde, ressuscita “mortos”, purifica “leprosos”, expulsa “demônios”, muda estruturas na sociedade (cf. Rm 12,1-3).

 

  1. Pastoral juvenil por causa do Reino de Deus

A razão de ser de todas as pastorais é a promoção do Reino de Deus. A Igreja não é uma comunidade fechada que vive uma experiência de fé sobre si mesma. Sua missão é ser instrumento que favorece a transformação do mundo pelo Evangelho, disseminando os valores do Reinado de Deus. São sinais do reinado de Deus na mente e no coração das pessoas a luta pela justiça, verdade, paz, saúde, libertação, inclusão, respeito, comunhão, solidariedade… o Reinado de Deus também exige tutela, promoção e defesa da dignidade humana!

Para Jesus não é possível conciliar a Salvação com sinais de morte, como a ausência de liberdade, paralisia, frieza, orgulho, avareza, ódio, violência, indiferença,  exclusão, mentira, intolerância, corrupção, homicídios … O “Reino de Deus” é a transformação das relações humanas como consequência da conversão (cf. Lc 4,43). O Reino de Deus promove a libertação integral do ser humano. Jesus foi muito sensível diante de todos os oprimidos, injustiçados, sofredores do seu tempo. Por isso, sempre se declarou a favor dos pobres e excluídos do seu tempo. Sua presença gerava mudança! «Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia!» (Mt 11,4-6).  O Reino de Deus é o reinado da vida plena (cf. Jo 10,10): da justiça, da verdade, da paz, da tolerância, da saúde, da libertação, integração respeito, comunhão, solidariedade.

A razão de ser da pastoral juvenil é a promoção do Reino de Deus na vida dos jovens e em toda a sociedade. Não há autêntica pastoral juvenil sem essa dimensão social, pois o jovem Jesus de Nazaré foi profundamente sensível aos problemas da humanidade do seu tempo e lutou de muitas formas para suavizar e suprimir o sofrimento da vida de muitas pessoas. Portanto, a opção por Jesus Cristo é inseparável das exigências do seu Reino.

 

  1. Múltiplas formas de engajamento socio-eclesial

Muitas são as realidades temporais disponíveis e carentes de evangelização como possíveis campo de atuação dos jovens como a política, a economia, os meios de comunicação, a escola, o mundo universitário, o meio ambiente, a família, as estruturas administrativas de governos, as ciências, o mundo dos negócios, o mundo dos esportes e da cultura etc.

Há também muitos dramas humanos presentes na sociedade que podem ser espaços de experiência do engajamento dos jovens como por exemplo os dependentes químicos e tecnológicos, moradores de rua, migrantes, encarcerados, doentes, pobres, idosos… Todos esses campos de necessidades podem ser oportunidades de experiência do voluntariado que testemunha a maturidade humana e cristã dos jovens. Quando um jovem compreende o sentido da própria fé em Jesus Cristo, coloca-se a serviço dos outros através do voluntariado.

A pastoral juvenil com a sua missão de evangelizar e catequizar os jovens, capacita-os para o compromisso social como consequência da consciência de fé e do seguimento de Jesus Cristo.

Não deve haver separação entre a adesão à pessoa de Jesus Cristo e a necessidade da promoção do Reino de Deus. Não podemos ter uma fé em Jesus Cristo, sem pensar na sua luta pela salvação da humanidade. A evangelização tem uma dimensão sociotransformadora. “Há necessidade de animar e capacitar o jovem para o exercício da cidadania, como uma dimensão importante do discipulado” (CNBB, Documento 85, N. 83).

Apesar das fragilidades como o individualismo, o consumismo, o hedonismo, o comodismo a apatia pelas questões sociais, presentes no mundo juvenil, “os jovens também são caracterizados pela força, ousadia, coragem, generosidade, espírito de aventura, gosto pelo risco” (CNBB, Doc 85, N. 36). “A sensibilidade especial dos jovens para as situações de pobreza e desigualdade social nos abre um caminho espiritual e de formação de consciência. Jesus revela que o pobre é um sinal de sua presença em nosso meio. “Tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber” (CNBB, Doc 85, N. 66).

4.   Possíveis compromissos

Muitos podem ser os compromissos juvenis na dimensão sociotransformadora atuando como sal, luz e fermento na sociedade. Os níveis de envolvimento e responsabilidades dependem de cada contexto. Vejamos alguns possíveis compromissos da Pastoral Juvenil:

  • Favorecer aos jovens o estudo da Doutrina Social da Igreja;
  • Estimular os jovens a conhecer e acolher a própria realidade onde vivem, colocando-se à disposição para aqueles sujeitos que vivem na condição de maior vulnerabilidade;
  • Fomentar a importância e a necessidade do engajamento nas pastorais sociais da paróquia: a pastoral da criança, pastoral da saúde, pastoral da pessoa idosa, pastoral carcerária, pastoral do migrante, pastoral da educação, pastoral universitária etc.
  • Provocar a participação nos movimentos sociais abraçando lutas saudáveis;
  • Conscientizar sobre a crise socioambiental de modo que possam assumir compromissos de defesa da casa comum (vida) e da ecologia integral;
  • Capacitar humana, ética e tecnicamente os jovens para a militância na política e para assunção de cargos como servidores públicos;
  • Incentivar a participação dos jovens na experiência do voluntariado servindo os mais necessitados;
  • Encorajar os jovens para participarem de instâncias de reflexão sobre problemas sociais e discernimento de políticas públicas como conselhos municipais, comitês, fóruns etc.
  • Oportunizar aos crismandos, durante o processo catequético, a experiência da reflexão e serviços em prol das populações mais vulneráveis para que o coração dos jovens seja sensibilizado e não tenham medo de assumir desafios futuros.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Por que é importante a dimensão sociotransformadora para a pastoral juvenil?
  2. O que dificulta o engajamento social dos jovens?
  3. Quais outros compromissos de engajamento socioeclesiais são possíveis para os jovens?