Introdução:

A Igreja Católica na Amazônia, em termos patrimoniais e em relação às fontes de captação de recursos financeiros, é a mais pobre do Brasil. Basta dar uma olhada na prestação conta anual da arrecadação da Campanha da Fraternidade, exposto em cada texto base, para termo uma visão da realidade.

A questão econômica para a sustentabilidade da evangelização das Igrejas particulares na Amazônia é acenada no Instrumento Laboris (N. 83); a carência de recursos financeiros gera um grave impacto na vida pastoral, como a aquisição de poucos meios necessários e redução de novas iniciativas pastorais.

Se ainda hoje a situação econômica das dioceses e prelazias é difícil, imaginemos dezenas de anos atrás. Um clamoroso exemplo encontramos numa carta circular do primeiro Bispo da Prelazia do Rio Negro, Dom Pedro Massa (SDB) datada de 25 de dezembro de 1935:

“é necessário reduzir as despesas de cada Missão, diminuir um pouco mais os pedidos, aproveitar os recursos locais da lavoura e mesmo da pecuária a fim de equilibrar a situação. Já tomei com todos eles as medidas necessárias: ninguém estranhe, pois se houver mais um pouco de economia e a redução sensível das despesas. Façamos todos de boa vontade e alegremente os sacrifícios, que a situação nos possa pedir e cada um se esforce de seu lado nesse sentido”.

Noutra carta, de 24 de abril de 1942, o mesmo pastor declara: “os nossos recursos financeiros, não somente não aumentaram, mas como já escrevi, são desfalcados de todos os auxílios que nos vinham da Europa, de modo que, se cada Diretor e cada Irmão não tomar providências adequadas, impostas por esta gravíssima situação, não nos será possível absolutamente manter o ritmo costumado das nossas missões”.

Essa é simplesmente uma breve amostra de quantos apertos nossos bispos e sacerdotes tem sofrido para manter a evangelização em nossas prelazias e dioceses. Muita tem mudado para melhor, mas ainda o referido é sério.

  1. Recursos do exterior:

Graças aos missionários de muitas congregações, a sustentabilidade econômica da evangelização Amazônia, por mais de três séculos, foi sustentada por recursos europeus. Não havia outro jeito!

Os recursos para a sustentabilidade do clero e das atividades missionárias vinham de diversas fontes: das próprias congregações, dos parentes dos missionários, de instituições financiadores de projetos, das Pontifícias Obras Missionárias e, para atividades de caráter social, em parte, muitas congregações se beneficiavam de estáveis convênios com os governos dos Estados, sobretudo, para a saúde e a educação.

Todavia, em geral as dioceses e prelazias, sempre passaram por situações de penúria de meios, pobreza e grande sobriedade para sustentar a árdua conta da evangelização. Ainda hoje, temos prelazias e diocese, com dependência econômica de recursos exteriores.

Para manter o equilíbrio financeiro em outros casos, a única estratégia dos administradores diocesanos é a redução dos investimentos, conservando o essencial; somente em casos de receitas extraordinárias é possível fazer novos investimentos em prol da missão.     

  1. Superar a manutenção do essencial:

Se por um lado é bem verdade que a Igreja na Amazônia sempre foi banhada com a generosa atenção da Divina Providência, também é necessário ousados esforços para que progressivamente cresça do sentido da corresponsabilidade do povo.

Já não é mais coerente e nem educativo que nossas Igrejas particulares dependam de recursos europeus para a sustentabilidade de suas ações pastorais. O dinamismo do mínimo investimento possível na ação pastoral, por falta de recursos ordinários, é dramático e gera paulatinamente enormes perdas à evangelização. 

O avanço missionários será verdadeira fantasia se não enfrentarmos planejadamente e com ousadia administrativa a questão financeira da sustentabilidade das nossas (arqui)dioceses e prelazias. É atentar contra a Divina Providência não fazer os esforços necessários, programáticos e administrativos em vista de um salto de melhoria econômica.      

O “custo amazônico” repercute seriamente sobre a evangelização. Não existe vigor pastoral na Amazônia sem investimentos econômicos. Não levar a sério a promoção de estratégias administrativas necessárias em vista da serena sustentabilidade econômicas da nossa missão seria nossa negligência.

  1. O custo da evangelização na Amazônia:

A evangelização na Amazônia brasileira não tem somente a exigência da simplicidade, da fadiga do clima, da paciência das viagens, do espírito de pobreza e abnegação dos missionários, mas exige também um alto custo econômico.

Há alguns anos atrás a diocese de São Gabriel da Cachoeira(Am) gastava cerca de 40 mil litros de gasolina anualmente para sustentar as atividades da pastoral da itinerância. Por sorte, essa despesa era compartilha com os missionários salesianos. Imagine impacto financeiro anual nos cofres da instituição. Mas o que podemos fazer:

  • Educar o povo com insistência para o sentido de pertença e corresponsabilidade;
  • Implantar, promover e estimular a fidelização dos dizimistas nas comunidades;
  • Adequar a questão dos dízimos e ofertas de acordo com o contexto;
  • Promover projetos autossustentáveis de evangelização;
  • Estimular a cultura contábil e administrativa;
  • Investir na redução de despesas desnecessárias ou substituíveis;
  • Investir em projetos de energia solar nas Igrejas e outras estruturas;
  • Evitar qualquer forma de desperdícios;
  • Evitar o paternalismo pastoral e estimular a cultura do cuidado e da manutenção ordinária dos nossos bens;
  • Promover a cultura do voluntariado e da solidariedade;
  • Investir, quanto possível, em meios extraordinários de receitas;
  • Crescer na cultura das parceiras e permutas (governo, empresas, instituições);
  • Repensar a forma de organização e gestão das festas dos padroeiros;

A sustentabilidade é a condição pela qual uma instituição mantém seu equilíbrio existencial; a sua ausência é o «desequilíbrio», a «queda», o «falimento», a «paralisia». São Paulo muito nos estimula na atitude da autossustentabilidade da evangelização; com seus esforços sempre procurou manter sua missão por onde passava (cf. At 20,35;1Cor 9,6-14; Gal 6,6; 2Ts 3,9); sua preocupação era não ser peso para ninguém (cf. 1Ts 2,9; 2Ts 3,8).

REFLEXÃO PESSOAL:

  • Qual relação existe entre evangelização e economia?
  • O que podemos promover ainda para reforçar a necessidade do crescimento do sentido de pertença e corresponsabilidade em nossas comunidades e paróquias?
  • O que podemos fazer reduzir despesas, aumentar receitas e priorizar os investimentos pastorais?

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA