Introdução:

É longa a lista dos problemas humanos presentes na Amazônia. Mas, como já refletimos no artigo precedente, não toca à Igreja resolver os dramas da humanidade. Aliás, é bom recordar que também Jesus e a comunidade primitiva não resolveram os problemas sociais daquele tempo. Mas deram autênticas e sugestivas respostas!

As atitudes de Jesus e da comunidade primitiva são paradigmáticas para a Igreja de hoje. O foco da nossa missão é contribuir com a promoção do Reino de Deus; isso significa enfrentarmos profeticamente os males deste mundo, mas sem perdermos a consciência de que o centro da nossa missão não é o meramente político, técnico, nem econômico, mas especificamente o espiritual e ético.

  1. Sinais do Reino de Deus:

Os primeiros sinais do Reino de Deus, não estão naquilo que vemos e fazemos, mas no que somos e manifestamos com a nossa mentalidade, atitudes e opções. O Reino de Deus não consiste no sucesso material, mas “é justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Quem serve a Cristo nessas coisas, agrada a Deus e é estimado pelos homens” (Rm 14,17-18).

Essencialmente a missão da Igreja é estimular a conversão! Isso a compromete profundamente a voltar-se para as pessoas, a dar-lhes atenção, a escutá-las, a entrar em diálogo com elas. Estamos falando de atitudes! Um modo errôneo de agir, enquanto Igreja, seria aquele de só vermos à nossa frente, problemas, instituições, sistemas… Jesus, acima de tudo, deu atenção às pessoas. E quando acolhiam a sua Palavra, despertavam para a fé e saíam libertadas, alegres e felizes: tinham recebido a devida atenção e o que desejavam.

  1. As pastorais: encarnação na realidade:

Para a Igreja Católica, as pastorais constituem as expressões mais significativas de encarnação na realidade, de respostas aos clamores humanos e compromissos concretos com a promoção do Reino de Deus.

Assim a Igreja continua a obra do seu Mestre e Senhor que disse: “Vão e anunciem que o Reino do Céu está próximo. Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios” (Mt 10,7-8). “Os discípulos partiram, e percorriam os povoados, anunciando a Boa Notícia, e fazendo curas em todos os lugares” (Lc 9,6).

As palavras imperativas de Jesus motivam a Igreja a estar “em estado permanente de missão” e sempre cultivando uma atitude de escuta da realidade para não cair no drama da insignificância e da mediocridade mundana (cf. Mt 5,13-14. Por isso o Papa Francisco recomenda: “Não deixemos que nos roubem o Evangelho!” (EG, 97).

  1. As pastorais: paixão pelo Reino de Deus:

As pastorais são instrumentos estratégicos da Igreja estimulando a transformação da realidade. A Igreja na Amazônia tem uma profunda marca pastoral e missionária, que revela a sua sensibilidade e inquietude. Isso deve ser preservado e promovido! Somos convocados a promover a inquietude missionária de nossas comunidades passando «de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária» (DA, 548).

Assim, em sua missão de pregar, curar e santificar, abraçando os desafios da promoção humana na Amazônia, a Igreja promove as pastorais. Temos muitas pastorais, por exemplo: a pastoral da saúde, pastoral dos enfermos, pastoral da mulher, pastoral carcerária, pastoral da comunicação, pastoral da criança, pastoral juvenil, pastoral da visitação ou pastoral da itinerância (acompanhamento das comunidades ribeirinhas), pastoral afro, pastoral indigenista; pastoral da mobilidade humana, pastoral da pessoa idosa, pastoral da sobriedade, pastoral da terra, pastoral dos moradores de rua, pastoral dos ribeirinhos, pastoral do surdo, pastoral da catequese, pastoral do turismo, pastoral dos pescadores, pastoral dos refugiados, pastoral da família, pastoral universitária… Cada uma dessas pastorais revela a sensibilidade e o cuidado da Igreja para com tais realidades.

Graças a essa ampla, secular, convicta presença e testemunho da Igreja na promoção da dignidade humana através das pastorais, temos hoje muitos mártires; pessoas que deram a vida por Cristo defendendo a dignidade humana, testemunhando o Reino de Deus.

Todavia, recordemos bem, não se trata de um mero serviço público. Mas de testemunho dos valores e das exigências do Reino de Deus. As pastorais não são serviços supletivos ao Estado, mas é evangelização abraçando a totalidade das dimensões da vida humana. O suor e o sangue derramados são expressões da fidelidade ao Reino de Deus, jamais puros compromissos sociais terrenos.

  1. Importantes atitudes eclesiais:

Deus nos livre de sermos uma Igreja de viseira e nos defenda do mal de tropeçarmos em paixões socio-ambientalistas, sem visão da totalidade dos povos e contextos e das dimensões da realidade Amazônica segundo o Evangelho!

Como Boa Samaritana na Amazônia, a Igreja é chamada a aproximar-se, “descer”, a “encarnar-se” sempre mais nas variadas realidades (rurais, urbanas, ribeirinhas, indígenas…); a ouvir os clamores e a estender a mão aos sofredores e ameaçados em sua dignidade, bem como aos mais embrutecidos pelo ódio, comodismo e pela indiferença.

Movidos pela Esperança de servidores da Caridade, nós todos, ministros ordenados e agentes de pastorais em todas as esferas, somos chamados a testemunhar a alegria e o otimismo do Evangelho, conservando a ternura, a firmeza e a serenidade, sobretudo nos contextos sócio-pastorais mais hostis, evitando assim, a “pastoral da raiva” (amargura, conflitos desnecessários, antagonismos, posturas agressivas, iniciativas ideologizadas, isolamento, atitudes maniqueístas, antipáticas e polarizantes). Se não, perdemos as ovelhas!

A Igreja não está sozinha na Amazônia; não é a única que promove o bem; por isso é preciso crescermos na atitude de motivar e articular uma parceria saudável com outros atores sociais para que juntos, possamos assumir causas que tenham afinidade com os valores éticos e evangélicos; pois juntos podemos estudar, dialogar, somar, contribuir, promover em rede a cultura da vida e da ecologia integral.

Nunca devemos esquecer que a Igreja é serva e servidora Daquele que veio para salvar, não condenar (cf. Jo 12,47) e que desejou que nenhum se perdesse (cf. Jo 6,39). Os opressores são chamados à conversão; precisam ser evangelizados! A vontade divina não é a morte do opressor, mas sua conversão (cf. Ez 18,23); precisamos evangelizar os ricos (cf. Lc 16,19-31; Lc 19,1-10; DA, 395, 1156; EG 58).

O povo quer pastores, sacerdotes, diáconos, religiosos e líderes leigos, agentes de pastorais próximos, com atitudes sensíveis; isso implica a superação da frieza, da arrogância, do intelectualismo teológico, do puritanismo …

Os atuais desafios pastorais da Igreja na Amazônia nos dizem que devemos combater o “paternalismo pastoral” que é uma forma de evangelizar e catequizar que não favorece o crescimento das pessoas, não forma sujeitos eclesiais, não estimula o sentido de pertença não promove líderes e nem estimula o surgimento de discípulos missionários.

PARA A REFLEXÃO:

  • Em que consiste o foco central da missão da Igreja?
  • Por que as pastorais são manifestação da encarnação da Igreja na realidade?
  • Quais outras atitudes pastorais, precisamos cultivar na Igreja?

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA