por Dom Pedro José Conti
Administrador Apostólico da Diocese de Macapá

“O mundo está cheio de pessoas criticando. Elas não tem coragem. Não travam nenhuma batalha. Não cometem erros porque não têm iniciativas. Na arena da vida estão aqueles que agem. Estes cometem erros porque fazem muitas coisas. Ford esqueceu de colocar a marcha ré no seu primeiro carro. Edison pagou dois mil dólares por uma invenção que não tinha valor algum. O ser humano que não erra é aquele que não faz nada. Nem se pode dizer que errou, porque nem tenta fazer, só fica criticando os outros” (considerações retiradas de um artigo de jornal de algum tempo atrás).

Neste domingo, encerrando o Tempo de Natal, encontramos a página do evangelho de Lucas que nos apresenta o batismo de Jesus no rio Jordão pelas mãos de João, o Batista. Estamos acostumados a dizer que o “batismo” de Jesus marca o início da sua vida pública. É verdade, mas também tem mais do que isso. Temos, em primeiro lugar, o reconhecimento do Divino Pai que chama Jesus de “Filho amado” e no qual ele põe o seu “bem-querer”. Depois temos o sinal do Espírito Santo que o evangelista Lucas faz questão de apresentar em forma de pomba, algo livre e leve, mas bem concreto para não ser confundido com qualquer outro “espírito” vindo de crenças pagãs ou de feitiçarias. O próprio João, o Batista, respondendo à expectativa do povo sobre ser ele ou não o messias, apresenta como será o verdadeiro enviado. Ele será mais forte, batizará no Espírito Santo. O batismo do messias não será mais só um banho de penitência e renovação, mas terá o “fogo” – luz, entusiasmo, força – de uma presença nova de Deus na vida daqueles que acreditarem. Além disso, o próprio gesto de Jesus de entrar na fila junto com o povo revela a sua disponibilidade a se solidarizar com toda a humanidade à qual foi enviado pelo Pai como salvador restaurando aquela comunhão de obediência, vida e amor que o pecado continua quebrando.

Depois do batismo, Jesus já sabia tudo o que devia fazer e como devia fazê-lo? É uma pergunta difícil para ser respondida em poucas linhas, no entanto, se acolhemos a verdadeira humanidade de Jesus “menos no pecado”, não nos deve estranhar a busca por parte dele de entender cada vez melhor a missão que o Pai lhe tinha confiado. Os evangelhos nos apresentam a intima familiaridade de Jesus com o Pai, sobretudo nos momentos de oração a sós e antes da paixão no Jardim das Oliveiras. Temos, porém, as tentações no deserto. Ao longo de toda a sua vida ele sempre ele teve que escolher entre ser um messias em busca do sucesso pessoal – até descer da cruz para salvar a si mesmo – ou alguém que manifestava com gestos e palavras o verdadeiro rosto de Deus capaz de amar tanto o mundo até doar o seu próprio Filho. Jesus soube reconhecer a fé de pessoas também fora do povo de Israel e superar assim a duvida se tinha sido enviado somente “às ovelhas perdidas da casa de Israel” ou a todos, a começar pelos pobres, os humildes e, de maneira especial, os pecadores. No evangelho de Lucas, que nos acompanhará neste ano litúrgico, boa parte da vida de Jesus é uma grande caminhada rumo a Jerusalém, até ao desfecho da cruz e da ressureição. É a longo do caminho que Jesus encontra as pessoas, ensina e cura. Acredito que, com todas as diferenças, deve ser assim a nossa vida de cristãos que começou com o nosso batismo. Com certeza todos devemos ter aprendido que a vocação de todo batizado e batizada é a santidade. Isto nos parece impossível, algo muito longe e tão fora da nossa vida cotidiana. Pensamos sempre em algo heroico, extraordinário, milagroso. Mas não bem assim. Todos lutamos com as nossas limitações e as nossas fraquezas, mas isso não justifica que tenhamos que ficar parados numa vida cristã medíocre e apagada. Devemos trilhar o caminho da fé. Quem não caminha, também não tropeça e não cai. Mas também, não arrisca, não enxerga novos horizontes. Talvez por medo de errar, acaba errando mais ainda, sem deixar que o batismo produza os seus frutos de bondade e de doação. Se não fazemos, ao menos não criticamos. Rezamos por aqueles e aquelas que tentar caminhar. Talvez um dia caminharemos juntos. Com Jesus.