por Dom Júlio Akamine, SAC
Bispo Coadjutor da Arquidiocese de Belém
A sentinela tem a função de alertar para o perigo que se aproxima. Parece não haver relação alguma entre a sentinela e a esperança. Não podemos esquecer, porém, que a sentinela é o profeta. Afinal o que é um profeta? Ele é a boca de Deus. Para falar ao seu Povo, Deus o faz por meio do porta voz que é o profeta.
Em tempos de exílio, entre os exilados, o profeta é uma Sentinela. Uma vez que o Povo de Deus não tem mais casa, não tem mais cidade, não há mais muralhas, onde a Sentinela deve se instalar? Contra o que a sentinela deve alertar? Qual é o perigo que se aproxima? A Sentinela-profeta alerta contra o próprio Senhor! É um paradoxo da profecia! Foi o Senhor que devastou a cidade e destruiu Jerusalém. O Povo foi castigado e levado ao Exílio, e Deus ainda virá para guerrear contra o seu Povo? Parece que Deus quer continuar sendo hostil contra o seu Povo; parece querer manter o clima de guerra contra o seu povo, um povo de cabeça dura, que não muda de vida e nunca aprende.
E aqui acontece o que é mais estranho. Quando um inimigo se aproxima, normalmente o faz secretamente, sem que seja percebido. Deus não! Ele não se aproxima de repente para surpreender as suas vítimas despreparadas. É o próprio Senhor que estabelece uma sentinela para que avise o seu Povo.
Deus parece constituir um espião contra si mesmo a fim de que previna as pessoas ameaçadas pela vinda de Deus. Trata-se um paradoxo revelador. Assim a ameaça de castigo pelo pecado fica englobada e superada pelo perdão concedido por causa da conversão. A sentinela tem a função de alertar para o perigo do castigo de Deus que provoca a conversão. O paradoxo revela que Deus ameaça para que não aconteça o que Ele ameaça. A ameaça é também um ato de amor. Deus, de fato, não quer a condenação do pecador, mas que ele se converta e viva. Ainda que Ele se aproxime de modo hostil, Deus quer a paz. Assim a guerra que Deus provoca é, na verdade, expressão do seu amor.
A Vida consagrada é sentinela da esperança no sentido de que anuncia a aproximação de Deus. Ele não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva. A Vida Consagrada, Sentinela de Sinais de Esperança. Para não cair na tentação de nos considerarmos subjugados pelo mal, é necessário prestar atenção ao bem que existe no mundo. Os sinais dos tempos, que contêm o anelo do coração humano, pedem para ser transformados em sinais de esperança (Bula Spes non Confundit, 7). Que o primeiro sinal de esperança se traduza em paz para o mundo, mais uma vez imerso na tragédia da guerra. A necessidade da paz interpela a todos e impõe realização de projetos concretos (8).
Olhar para o futuro com esperança equivale a ter também entusiasmo em transmitir a vida. A primeira consequência da perda da esperança é a perda do desejo de transmitir a vida. A abertura à vida, a maternidade e a paternidade responsável é o projeto que o Criador inscreveu no coração e no corpo dos homens e das mulheres, é a missão que o Senhor confia aos cônjuges (9).
Sinal de esperança é a libertação dos prisioneiros. É preciso pensar em formas de anistia ou de perdão da pena que ajudem as pessoas a recuperar a confiança em si mesmas e na sociedade (10). Sinais de esperança serão oferecidos aos doentes (11). Sinais de esperança têm necessidade os jovens. O Jubileu seja, na Igreja, ocasião para um impulso a favor deles: com renovada paixão, cuidemos dos adolescentes, dos estudantes, dos namorados, das gerações jovens! Mantenhamo-nos próximo dos jovens, alegria e esperança da Igreja e do mundo (12)!
Não podem faltar sinais de esperança para os migrantes, exilados, deslocados e refugiados (13). Sinais de esperança merecem os idosos e os abandonados (14). Fazendo ecoar a palavra dos profetas, o jubileu lembra que os bens da terra se destinam a todos e não aos poucos privilegiados. O alimento, a água e o ar não são commodities! (16). O perdão das dívidas dos países que nunca poderão pagá-las. A dívida ecológica (16). O Concílio de Nicéia e o busca da unidade (17).
(relexão apresentada no encontro do Conferência dos Religiosos no Brasil – CRB Norte 2. Em 14/06/2025)