“O bispo está presente como membro legítimo da Assembleia e é desafiado a participar dela ativamente”, afirma o prelado da diocese de São Luís de Montes Belos (GO), dom Lindomar Rocha Mota a respeito de sua presença no encontro do episcopado brasileiro pela primeira vez. Embora já tivesse participado de outras edições da Assembleia Geral da CNBB como assessor da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé, esta é a primeira vez que ele o faz como bispo
Empossado há menos de um ano, dom Lindomar Rocha Mota, 49 anos, é um dos mais recentes integrantes do episcopado brasileiro. Baiano de nascimento e depois de mais de 20 anos de atuação sacerdotal em Minas Gerais, ele agora está à frente de uma diocese em Goiás e compartilha com o Portal da CNBB suas experiências e impressões na breve entrevista que segue na íntegra abaixo.
O senhor é um dos mais recentes e mais jovens bispos do Brasil. Como acolheu a nomeação episcopal?
Acolher o episcopado acontece sempre num horizonte de temor e tremor. É sempre uma surpresa, principalmente porque pensamos em outros para essa missão; raramente colocamos a nós mesmos como candidatos. Entretanto, a surpresa do anúncio causa desconforto e desestabilização. Depois de 22 anos servindo na Igreja de Diamantina (MG), já tinha ajustado ali a minha atividade pastoral para responder àquela realidade das montanhas e sertão mineiros. Por isso, um chamado que envolve também um “deixa tua terra e vai”, é desafiador e causa de temor e tremor.
Como vê o trabalho como bispo? Qual o grande desafio nessa missão?
O bispo é um promotor da unidade e da caridade. Até posso inverter as questões propostas e começar pelos desafios. O primeiro é a passagem, da linha de frente, a que estamos acostumados como padres, para a retaguarda. O padre é quem está constantemente junto com uma comunidade específica, o que traz toda a alegria de experimentar imediatamente o crescimento do Reino de Deus na resposta dos fieis. Como bispo, vejo-me desafiado a prover o melhor atendimento pastoral para cada comunidade, indicando o sacerdote, acompanhando e avaliando o trabalho que é desenvolvido pelos irmãos. Esse trabalho deve ser entendido como função própria do bispo, deve-se equilibrar para não ser reduzido a uma burocracia, mas assumir o contorno de um verdadeiro pastoreio. Então, o trabalho do bispo aparece, para mim, na dimensão de uma colegialidade ativa que coloca a cada instante, a partir de palavras e gestos, a unidade fundamental em torno de Cristo e de sua Palavra, para realizar a partilha do Pão.
Esta é a sua primeira participação em uma Assembleia da CNBB. Qual sua opinião a respeito? O senhor já tinha alguma noção de como eram os trabalhos?
Esta é a minha primeira participação como bispo, entretanto, entre 2003 e 2007, fui assessor da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé, e, como tal, participei das Assembleias Gerais, naquele tempo, ainda em Itaici. No ano de 2020, como sabemos, a AG foi cancelada, de modo que esta é a minha primeira participação como bispo. A sensação e a intensidade são maiores. O bispo está presente como membro legítimo da Assembleia, e, por isso, desafiado a participar ativamente, elaborando pareceres e balanceando pontos de vista para alcançar uma síntese representativa de todo o episcopado.
O que mais o tem encantado nesta experiência de participação na Assembleia?
É uma experiência de comunhão construída na diversidade. Ao escutar a palavra de vários irmãos, vindos de tantos lugares, com situações pastorais e sociais tão diversas e desafiadoras, mas que não são empecilhos para o anúncio da Palavra de Deus.
Qual o legado que o senhor leva da participação na Assembleia?
O maior legado da Assembleia é o sentimento de corpo, que demonstra a unidade da Igreja como uma realidade única, que tem Cristo como único Senhor. A consciência do chamado e da responsabilidade se manifestam de maneira suntuosa quando percebemos a quantidade de irmãos que percorrem este nosso imenso Brasil, e mesmo assim, é apenas uma porção mínima da missão de tantos padres e agentes de pastoral envolvidos no trabalho de assistência aos pobres, aos doentes, às crianças… de maneira voluntária e doada por causa do Reino.
O que tem achado de a Assembleia estar sendo feita de modo totalmente virtual? Quais sugestões daria a fim de melhorá-la?
A descoberta dos meios digitais para agilizar os trabalhos é algo muito valioso e sem volta. Pude acompanhar a rápida evolução das primeiras reuniões digitais aqui em nossa diocese de São Luís de Montes Belos, e como era penoso no início. Passado pouco mais de um ano, já estamos bastante ambientados. Os meios digitais permitem igual espaço de participação, partilha de ideias e partilha da Palavra, como nas reuniões presenciais. Ainda temos que evoluir bastante para aprendermos a fazer não apenas no formato digital, mas com uma linguagem digital, uma operacionalização com linguagens próprias, pois quando tentamos replicar o presencial no digital, alguma coisa fica estranha. Entretanto, a melhora virá com o próprio tempo, a partir do manuseio das ferramentas, o traquejo e a expertise no formato próprio desse tipo de comunicação. O meu sentimento é de conforto e gratidão a Deus e ao suporte técnico da CNBB, que possibilitou os meios suficientes para que pudéssemos nos reunir, pela primeira vez, durante este tempo de pandemia.