Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
O mês vocacional dedicou atenção especial às vocações de modo que no final do mês a Igreja lembra o serviço da catequese na comunidade e no Reino de Deus. É fundamental o serviço dos catequistas, homens e mulheres que se doam para a evangelização na família, na comunidade e na sociedade. É preciso sempre mais a valorização deste dom, para que a Palavra de Deus e a Tradição sejam bem assumidas, compreendidas pelas pessoas, lideranças e a divulgação da evangelização testemunhem o amor de Deus pelo mundo inteiro.
A catequese é um carisma muito importante na vida eclesial, tratando as coisas de Deus, do ser humano, dos sacramentos e da vida da comunidade. A catequese é uma palavra que vem do grego katechéo, cujo significado é instruir em viva voz. É a instrução religiosa, o ensinamento oral, de uma linguagem falada da religião cristã[1]. Ela também vem do verbo grego katechein, tendo como sentido dar informações, receber, deixar ressoar dentro do ouvido, do coração. É comunicar a Palavra de Deus e vivê-la no cotidiano da existência[2].
Antes de partir para a casa do Pai, pelo evangelista Mateus, enviou Jesus os seus discípulos para o mundo em vista do discipulado em unidade com o Senhor, tendo presente o batismo das pessoas em nome de Deus Uno e Trino. As coisas realizar-se-iam em nome do Senhor. Ele garantirá a sua presença todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 28, 19-20). Pelo evangelista Marcos é levado em sua importância também o mandato de Jesus que enviou os seus discípulos ao mundo inteiro, para proclamar o Evangelho a toda criatura (Mc 16,15). A palavra de Jesus requer a aceitação de sua palavra, o sacramento do batismo, o anúncio da boa nova como graça em vista da salvação humana.
A Igreja e o Papa Francisco com a catequese.
A Igreja sempre deu uma grande atenção à catequese pelo serviço que presta aos fieis através da evangelização, na transmissão das verdades referentes à fé, à esperança e à caridade. O Papa Francisco ressaltou a catequese como evangelização que procura o crescimento, fator fundamental que implica tomar a sério, o projeto que Deus tem para cada pessoa. O ser humano necessita de uma evangelização digna com a plena verdade que não é mais ele quem vive, mas é Cristo que vive nele (Gl 2,20)[3]. O Papa continua o seu discurso afirmando que a catequese tem um papel fundamental, o primeiro anúncio ou querigma o qual ocupa o centro da atividade evangelizadora e de toda renovação eclesial.
O que é o querigma?
Para o Papa Francisco ele é trinitário. Ele diz respeito ao fogo do Espírito que se dá sob a forma de línguas e crê em Jesus Cristo, que com a sua morte e ressurreição, revela e comunica a misericórdia infinita do Pai. Na pessoa do catequista, em sua boca ressoa o primeiro anúncio, que Jesus é amor e ama as pessoas, deu a sua vida para salvar o catequista, o mundo e agora ele vive com a pessoa do catequista para lhe iluminar, fortalecer, dar a libertação[4]. É o anúncio principal, aquele que sempre se volta a ouvir de diferentes maneiras, aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, durante a catequese nas diversas etapas da mesma e momentos[5]. Este anúncio é o fundamental, sendo o mais sólido, o mais consistente e mais sábio. Toda a formação cristã é em vista do querigma que vai se tornando carne, que ilumina a tarefa catequética e permite o desenvolvimento de outros temas que se dão na catequese. A centralidade do querigma é o amor salvífico de Deus para a humanidade em Jesus Cristo, na ação do Espírito Santo[6].
O que é proposto na Amazônia?
O Papa Francisco insiste que o querigma e o amor fraterno constituem a grande síntese de todo o conteúdo do Evangelho, da Boa Nova do Reino, que não se deixa de propor na Amazônia. Os grandes evangelizadores da América Latina viveram isso como São Toríbio de Mogrovejo, São José de Anchieta entre outros evangelizadores e evangelizadoras no contexto da Amazônia e da América Latina[7].
A catequese na Igreja antiga.
É muito importante dar uma idéia de como era a catequese nos primeiros séculos do cristianismo. Tudo coincidiu com o discurso missionário do Kerygma. Ele tornou-se a instrução batismal em relação à fé, ao testemunho de vida e sobre os sacramentos da iniciação à vida cristã, o batismo, a crisma e a eucaristia. A catequese assim intensa se distinguiu da educação e da formação em geral, pois levava a pessoa ao conhecimento da verdade de Jesus Cristo, a sua paixão, morte, ressurreição e à vida eclesial[8].
A explicação dos três artigos da fé cristã
Santo Ireneu, Padre da Igreja e bispo de Lião, séculos II e III, foi um bispo preocupado com a catequese com o povo de sua Diocese. Ele aprofundou os três artigos da fé cristã, do qual chamou o fundamento do edifício e à base da nossa conduta. O primeiro artigo diz respeito a Deus Pai, incriado, invisível, único Deus, Criador do universo. O segundo é o Verbo de Deus, Filho de Deus, Jesus Cristo que apareceu aos profetas, segundo a economia disposta pelo Pai e por meio dele foi criado o universo.
Ele se fez homem entre as pessoas, visível (1 Jo 1,1), para destruir a morte (2 Tm 1,10), para manifestar a vida, restabelecer a comunhão entre Deus e o ser humano ( 2,13-18). O terceiro artigo refere-se ao Espírito Santo, de cujo poder os profetas profetizaram, os Padres foram instruídos com relação a Deus, os justos foram guiados no caminho da justiça, e no fim dos tempos foi difundido sobre a humanidade, por toda a terra, renovando o ser humano para Deus (Sl 104; 103, 30. Desta forma o batismo, significava o novo nascimento para os fieis, renascendo a Deus Pai, por meio de seu Filho no Espírito Santo[9].
Deus Uno e Trino.
São Gregório de Nissa, Padre da Igreja e bispo do século IV contribuiu com a catequese afirmando a unidade na natureza divina, um só Deus em três Pessoas[10]. Deus não é pensável sem o Verbo, pois Ele o possui a partir do momento que não é privado dele. Ele subsiste eternamente[11]. A catequese segundo São Gregório de Nissa, tinha presentes a fé em Cristo, pois pelo Verbo do Senhor foram criados os céus e, do Espírito da sua boca, todo o seu exército[12].
A iniciação dos candidatos aos sacramentos.
Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V, escreveu uma obra catequética para os não cristãos, porque São Deogratias, bispo no século V, pediu a Santo Agostinho para que elaborasse argumentos cristãos, catequéticos endereçados aos não cristãos. Santo Agostinho insistiu que o objetivo da instrução era fé verdadeira e a caridade, o amor a Deus, ao próximo, como a si mesmo. As Sagradas Escrituras tem presentes isso, a vinda do Senhor Jesus Cristo, dando ao conhecimento da Igreja, o povo de Deus[13] e de manifestar o seu amor para com toda a humanidade(Jo 3,17), pois a plenitude da Lei é a caridade (Rm 13,10)
Ele também incentivou as pessoas que iniciavam a catequese para que elas tivessem uma visão a respeito da Sagrada Escritura, e tendo aceitação das mesmas, haveria numa cerimônia solene, marcados com o sinal da cruz para serem acolhidas conforme o costume da Igreja. Através das realidades visíveis, honravam-se as realidades divinas invisíveis, pois aquela matéria santificada pela benção não era mais uma consideração como uma coisa comum[14].
A catequese é um serviço muito importante na vida da comunidade e no Reino de Deus. Ela leva as pessoas a aprofundar as verdades sobre Deus, o ser humano, a natureza. Ela tem como base o Kerygma que é o anúncio da vida, paixão, morte, ressurreição do Senhor na vida eclesial, familiar e social. O serviço da catequese seja sempre mais valorizado pelos agentes de pastoral.
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[1] Cfr. Catechèsi. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 283.
[2] Cfr. O. Pasquatto. Catechesi. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, A-E, diretto da Angelo Di Berardino. Genova-Milano, Casa Editrice Marietti SpA, 2006, pg. 903.
[3] Cfr. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium do santo Padre Francisco, 160. Vaticano, Tipografia Vaticana, 2013.
[4] Cfr. Idem, 164.
[5] Cfr. Idem, 164.
[6] Cfr. Idem, 165.
[7] Cfr. Querida Amazônia, 65. In: Exortação Apostólica pós-sinodal do santo Padre Francisco. Brasília, Edições CNBB, 2020.
[8] Cfr. O. Pasquatto. Catechesi. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, pgs 902-903..
[9] Cfr. Irineu de Lyon. Demonstração da Pregação Apostólica, 6-7. São Paulo, Paulus, 2014, pgs. 75-76.
[10] Cfr. Gregório de Nissa. A grande Catequese, I, 1. São Paulo, Paulus, 2011, 288.
[11] Cfr. Idem, I,5, pg. 289.
[12] Cfr. Idem,IV, 2, pg. 295.
[13] Cfr. Santo Agostinho. Primeira Catequese aos não cristãos, III, 6. São Paulo, Paulus, 2013, pg. 139.
[14] Cfr. Idem, XXVI, 50, pg. 139.