Introdução:
O processo de preparação ao Sínodo Pan-amazônico nos convida também a considerar a grande contribuição da Igreja para a promoção humana na Amazônia. Do amor a Deus e ao próximo, brota a inseparabilidade entre evangelização e promoção humana.
O discernimento de “Caminhos novos para a Igreja na Amazônia, para uma ecologia integral”, como nos pede o Papa Francisco, desafia os católicos a renovar a sua opção pela promoção do Reino de Deus.
Portanto, para todos nós, sobretudo para aqueles que estão inseguros ou para outros com visão ambientalista, o chamado de Jesus Cristo a continuarmos a sua missão é amplo e integrado. Seria um grave desvio pastoral pensar o humano, sem o ecológico. Mas, não devemos esquecer que ao centro, está o ser humano.
- Evangelização e promoção humana:
Onde a evangelização aparece desconectada dos clamores humanos, está profundamente distante das atitudes de Jesus que veio, “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). A evangelização sem a promoção humana nega a sua própria meta que é o Reino de Deus.
A Igreja segue as atitudes de Jesus, profundamente sensível aos mais pobres e sofredores. A missão de Jesus estava intimamente vinculada à promoção da vida: “Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia” (Mt 11,4-5).
A Igreja, onde quer que esteja, deve testemunhar esse dinamismo pastoral de Jesus. A missão da Igreja transcendendo a pregação e a liturgia, deve se comprometer com a promoção do Reino como exigência do amor a Deus e ao próximo. A Caridade, portanto, inspira o dinamismo pastoral da Igreja presente na Amazônia.
- Referências fundamentais:
A promoção humana promovida pela Igreja na Amazônia está condicionada a quatro referências: a Sagrada Escritura (o Evangelho, as atitudes de Jesus), a Doutrina Social da Igreja, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e as provocações dos contextos sócio-ambientais.
São referências que nos ajudam a contemplar a beleza da dignidade e da vocação humana; inspiram-nos a elaboração de projetos transformadores, métodos de ação, critérios de avaliação e atividades a serem hierarquizadas; estimulam-nos ao compromisso de preservar e promover o mais precioso dos tesouros da sociedade, o ser humano; ajudam-nos a discernir situações de ambiguidades mostrando onde nossa opção deve ser radical; direcionam o nosso coração e a nossa mente para o cuidado com o desenvolvimento humano integral; convocam-nos a livrar-nos de qualquer forma de alienação e reducionismo.
Sem essas fontes orientadoras, a promoção humana por parte da Igreja seria desorientada e correria o risco de tornar-se submissa às mais variadas formas de ideologias.
O foco do olhar da Igreja sobre a Amazônia não é científico, nem técnico, nem ambientalista, mas é ético, teológico, missionário e pastoral. A Igreja, por sua missão, usa a “lupa do evangelho” para contemplar a Amazônia e, nela exercer sua missão.
O fundamento de tudo, sobre o qual se baseia a promoção humana por parte da Igreja, é a incondicional dignidade do ser humano revelado por Jesus Cristo.
- A complexidade da Amazônia:
Não podemos falar com seriedade da promoção humana na Amazônia, no que tange à missão da Igreja, sem considerarmos a complexidade dessa realidade em suas diversas dimensões:
- Dimensão antropológica: a Amazônia é um santuário de povos, culturas, nações, línguas; são povos indígenas, caboclos, negros, mestiços, europeus; só de povos indígenas a Amazônia está constituída por cerca de 400 etnias diferentes;
- Dimensão política: são nove países diversos entre si, isso significa governos, leis, sensibilidades e contextos históricos de nacionalidade diferentes;
- Dimensão econômica: a Amazônia é um ambiente onde há grandes tensões econômicas: agronegócio, economia doméstica, extrativismo, turismo, indústria, riqueza (abundância), pobreza, miséria, agricultura familiar, desequilíbrio de investimentos; por outro lado, nenhum país possui a mesma situação econômica do outro;
- Dimensão social: na Amazônia há uma grande variedade de contextos sociais, não é somente um universo de fauna e flora. Em toda a Panamazônia somam 34,1 milhões de pessoas e constitui a região com a população economicamente mais pobre de todo o continente americano; por outro lado, cada um desses ambientes tem uma história distinta, particularmente sua; dentro desse universo social encontramos profundos e graves dramas humanos.
- A Igreja e outros sujeitos:
O serviço de promoção humana desenvolvido pela Igreja Católica, nos mais variados contextos e países amazônicos, não está dentro de uma redoma, isolado; muito pelo contrário, trata-se de um serviço encarnado numa complexa teia de relações entre sujeitos diferentes. Por isso, tantas vezes, o serviço de evangelização é tenso.
Nenhum dos atores sociais é portador de soluções para todos os problemas. Por isso, não podemos conceber nenhuma forma de “heroísmo eclesial solitário!”. A sabedoria da Igreja, fiel aos seus princípios e missão, se manifesta na capacidade de interação dialogal com outros sujeitos. Mas a Igreja é chamada a ser coerente com os ideais evangélicos, testemunhando sua postura profética, conjugando ternura e firmeza.
Também somos conscientes de que nenhum recurso técnico ou grupo de recursos humanos, constitui o remédio para todos os males presentes na Amazônia. Por isso, a Igreja no exercício da promoção humana deve sempre ter presente a necessidade da interação com outros atores sociais: governos, instituições de controle social, movimentos, empresas, organizações não governamentais e outras igrejas.
Diante dessa realidade dinâmica, a promoção humana em sua profusão deve também considerar a gênesis e as características de cada situação, por exemplo, da pobreza, da frágil consistência das políticas públicas, dos conflitos, enfim, de todo e qualquer atentado contra a dignidade humana.
PARA REFLEXÃO:
- O que você entende por promoção humana integral?
- Por que a evangelização e a promoção humana são inseparáveis?
- Por que o “heroísmo eclesial solitário” é negativo?
POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB
Bispo Auxiliar de Belém - PA