Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá
Santa Teresa de Calcutá, mais conhecida como “Madre Teresa”, queria que todas as irmãs fossem alegres e sorridentes. Ela dizia: – Lembrem-se que, numa comunidade, a religiosa alegre é como o sol. A alegria é o sinal da pessoa generosa. O que seria da nossa vida sem a alegria e a jovialidade? Seria uma escravidão! A alegria é contagiosa e é importante que os nossos pobres e os nossos doentes aprendam a sorrir. Procurem, por isso, sorrir sempre, em qualquer lugar estejam.-
Neste domingo de agosto, celebramos a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Muitos chamam isso de “glória de Maria”. “Glória” esta, mais do que merecida. Em Maria contemplamos a obra do Divino Espírito Santo, mas também a possibilidade oferecida às criaturas humanas de corresponder prontamente e generosamente ao chamado divino. Cantamos o hino “Maria do sim” para lembrar aquela primeira e decisiva resposta de Nossa Senhora. Ela, porém, sempre foi confiante. Ela disse muitos outros “sim” a Deus Pai repetidos ao longo de toda a sua vida através da sua capacidade de guardar no coração os acontecimentos até chegar aos pés da cruz onde morria o seu filho Jesus. A liturgia deste domingo está cheia de alegria e exultação, também se não esconde a luta constante entre o bem e o mal, representados na página do Apocalipse pela mulher e o seu filho de um lado e o dragão, “cor de fogo” (Ap 12,3) do outro. Contudo, a vitória final será da Vida e não da morte, esta é a nossa fé confirmada com a ressurreição do Senhor Jesus.
Neste domingo de agosto lembramos também os nossos irmãos e irmãs da Vida Consagrada, neste mês vocacional, de maneira especial neste ano de reflexão sobre todas as vocações. Papa Francisco não perde a oportunidade de lembrar aos religiosos e as religiosas que manifestem publicamente a alegria da própria consagração. Em 2014, o Ano da Vida Consagrada, o documento que devia iluminar aquele tempo tinha como título a exortação: “Alegrai-vos”. Fique bem claro que não estou falando de uma euforia qualquer, mas daquela alegria que nasce da certeza de ter respondido a um chamado e de estar gastando a própria vida por algo grande, por uma causa que vale muito: o Reino de Deus, que é, com certeza oferecido a todos, mas que dá preferência aos pobres, aos pequenos, aos excluídos. É justamente a esta humanidade sofrida que muitos consagrados e consagradas dedicam a própria vida, sem esquecer, claro, que também a obra de evangelização é um verdadeiro serviço de caridade. Muito se fala dos votos de pobreza, castidade e obediência dos religiosos. Com isso, a Vida Consagrada corre o perigo de ser compreendida por muitas pessoas como uma renúncia aos próprios bens, à família, aos projetos individuais. Parece que ao se tornar religioso ou religiosa, a pessoa só tenha a perder. Isto acontece porque pouco se fala daquilo que os consagrados ganham: a liberdade de se colocar a serviço de quem precisa, de pensar nos outros e amar ao próximo – desconhecido ou nunca antes encontrado – antes dos próprios interesses. Evidentemente quem acha impossível ser felizes neste mundo doando a própria vida a serviço das grandes obras da evangelização e da caridade deve considerar o que acabo de dizer de pouco valor. Os consagrados e as consagradas não são nem super-homens e nem super- mulheres, são pessoas como todos nós, que carregam as suas dúvidas e fragilidades, mas que, apesar de tudo, confiam mais na bondade e na força do Senhor que nas próprias qualidades ou merecimentos. Precisa ter olhos e coração para ver e entender o que tantos religiosos e religiosas fazem sem aparecer e sem tocar a trombeta, no silêncio da oração ou no humilde serviço de cada dia. Nossa Senhora, com certeza “perdeu” alguma coisa com o sim dela, mas o que “ganhou” foi mais, foi melhor. Foi ou não foi? Maria canta a sua alegria, canta as maravilhas que o Senhor fez nela mas, também, lembra a grande misericórdia dele, a atenção aos famintos e humilhados, a fidelidade às suas promessas. A alegria de Maria é dom de Deus, é fruto da esperança e da fé. E a nossa alegria, de onde vem?