por Dom Antonio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém

Na Exortação Apostólica Christus Vivit afirma-se que, às vezes, “perante um mundo cheio de tanta violência e egoísmo, os jovens podem correr o risco de se fechar em pequenos grupos, privando-se assim dos desafios da vida em sociedade, dum mundo vasto, estimulante e necessitado. Têm a sensação de viver o amor fraterno, mas o seu grupo talvez se tenha tornado um simples prolongamento do próprio eu” (CV, 168). Todavia, a pastoral juvenil apesar de reconhecer essas tendências de fechamento e ameaças externas, não pode colocar os jovens numa redoma: todo ser humano traz consigo uma vocação de ser para os outros e, para isso, precisa crescer e desenvolver seus recursos e capacitar-se para o serviço em prol do bem comum (cf. CV, 30, 253-254).

O percurso que a pastoral juvenil deve fazer é o mesmo de Jesus Cristo que, testemunhando plena maturidade humana e vivendo em íntima comunhão com Deus Pai, andou por toda parte fazendo o bem, curando e libertando as pessoas dominadas pelo demônio (cf. At 10,38). Também hoje há muitas forças opressoras que dominam os jovens e os escravizam.

No Sínodo dos jovens exortou-se a construir uma pastoral juvenil capaz de criar espaços inclusivos, onde haja lugar para todo o tipo de jovens e onde se manifeste, realmente, que somos uma Igreja com as portas abertas. Precisamos promover uma pastoral Juvenil rica de propostas pastorais, popular, aberta e que vá ao encontro das dúvidas, traumas, problemas e anseio juvenis (cf. CV, 234). Somente uma pastoral juvenil transversal será capaz de ser significativa para os jovens. Deve ser transversal no sentido existencial, cultural, pastoral.

  1. A superação de esquemas fixos

De vez em quando, líderes leigos de comunidades, párocos e religiosos falam da dificuldade da formação de um grupo de jovens, por isso, desistem da pastoral juvenil, afirmando que “os jovens” não querem nada com o engajamento na Igreja. Esse posicionamento é muito sério porque manifesta um modo pessimista, reducionista de pensar a pastoral juvenil e uma forma unilateral de visão do engajamento dos jovens na Igreja.

A pastoral juvenil não começa com a formação de um grupo de jovens e nem se reduz a essa experiência associativa eclesial. A pastoral juvenil não é uma estrutura, nem puramente, atividades religiosas envolvendo jovens!  É, antes de tudo, a experiência de um processo de acompanhamento educativo dos jovens que estimula seu crescimento humano e cristão estimulando a iniciação e o envolvimento na vida eclesial. Esse processo não se reduz à experiência da catequese. Também isso faz parte da pastoral juvenil porque ela abraça um vasto universo de possíveis experiências e formas de engajamento dos jovens na vida da Igreja.

De formas variadas e em contextos diversos, os jovens vão conhecendo a Igreja, assimilando a doutrina cristã, assumindo responsabilidades eclesiais, acolhendo exigências morais, compreendendo o que significa ministério e alargando os horizontes da visão, da vocação e da missão da Igreja na sociedade.

  1. Múltiplos ambientes e experiências da Pastoral Juvenil

Essa questão nos leva a pensar e a aprofundar os “lugares” e as múltiplas formas de engajamento dos jovens que compõe a pastoral juvenil. A fé abraça a totalidade das dimensões da dignidade humana. Não podemos pretender evangelizar os jovens simplesmente fixos na dimensão religiosa e litúrgica, como se as demais fossem paralelas. Aliás, a experiência da fé deve permear a totalidade das dimensões humanas.

Diante dessa questão somos convidados a refletir sobre os “lugares” onde pode acontecer a pastoral juvenil. Não pensemos a pastoral juvenil como condução do “rebanho juvenil” de modo monolítico, todos juntos, fazendo a mesma experiência.  A “pastoral de rebanho”, ou seja, massivamente, não facilita o processo de desenvolvimento das pessoas, não propicia o crescimento da consciência de responsabilidade pessoal e comunitária, não facilita o desabrochar dos talentos, não abre espaço para a emergência dos carismas e nem favorece a multiplicidade de formas de engajamento segundo a sensibilidade e vocação de cada jovem.

Trata-se de “lugares pastorais”, ou seja, de ambientes que podem oferecer uma variedade de experiências de formação e crescimento integral animado pela fé. O lugar por excelência da pastoral juvenil é a comunidade cristã; é ela que gera, acolhe, forma, acompanha, promove o processo de crescimento e é a mesma que oferece aos jovens a possibilidade de fazerem a experiência da imersão na vida da Igreja assumindo, pouco a pouco, na variedade de carismas, formas diversas de serviços.

É sinal de pobreza pastoral a existência de um grupo de jovens que vive a experiência coletiva de participação na paróquia ou comunidade, mas na prática, nenhum deles está realmente comprometido em alguma responsabilidade de serviço. O grupo é uma base efetiva, espaço de amizade, de troca de experiências e de aprofundamento do dinamismo da fé, mas não deve se reduzir a um espaço de aprisionamento dos jovens, deixando-os sem formas concretas de engajamento e nem de experiências pastorais.

Os jovens não devem ser tratados como uma categoria isolada, conduzida em forma de um rebanho selecionado. O confinamento pastoral dos jovens promove efeitos contrários à proposta da autêntica pastoral juvenil que, deve estar atenta à psicologia juvenil com todas as suas carências e recursos, animando os jovens na formação integral e no engajamento comunitário interagindo com os outros sujeitos, sobretudo, de gerações diferentes.

  1. A transversalidade do engajamento pastoral

Reafirmamos a ideia de que a pastoral juvenil não deve estar confinada no “grupo de jovens” e nem a entendamos como a condução isolada do rebanho jovem. E quando isso acontece a experiência de iniciação à vida eclesial do jovem fica profundamente empobrecida. Assim como na vida de família há crescimento, harmonia nas relações e variedade de serviços entre diversas gerações, da mesma forma deve acontecer na pastoral juvenil na vida da comunidade eclesial.

A pastoral juvenil deve ser transversal, ou seja, abraça a totalidade da vida e dimensões da comunidade de modo que os jovens se fazem presentes lá onde há serviços pastorais e a riqueza da ministerialidade da Igreja é muito ampla. Isso significa que os jovens são chamados a estarem presentes em todas as forças vivas e ministérios da vida da paróquia ou da comunidade. Uma pastoral formada só por adultos ou idosos, se empobrece. O serviço pastoral se enriquece no encontro de gerações. Por isso há muitos campos de engajamento dos jovens na vida da comunidade; eles são chamados a estar presentes nas pastorais, nos grupos, nos movimentos, nos serviços, nas associações, nos conselhos, nas comissões etc. Um sujeito eclesial sem jovens se empobrece, envelhece, perde o seu vigor e sua memória… Nenhum sujeito eclesial (força viva) deveria se fechar para os jovens.

Quando numa paróquia se promove o envolvimento dos jovens na variedade das forças vivas nela presentes (no Apostolado da Oração, na Legião de Maria, no Movimento Terço dos Homens, na Pastoral da Criança, Pastoral da Pessoa Idosa, Pastoral da Comunicação, Pastoral da Catequese, Pastoral do migrante, Pastoral da Acolhida, Pastoral da Liturgia, Pastoral Carcerária, Pastoral dos Enfermos, Pastoral do Dízimo, Pastoral da Comunicação, Pastoral familiar, Ministério de Música etc…) ela se rejuvenesce, cresce, se fortalece e adquiri novo ânimo. Isso significa a promoção transversal da Pastoral Juvenil; todas as forças vivas, os sujeitos eclesiais, de uma paróquia ou comunidade são responsáveis pela pastoral juvenil.

Contudo a promoção da transversalidade da pastoral juvenil que rejuvenesce as forças vivas exige de cada uma delas algumas atitudes importantes: a inquietude com a continuidade do serviço, a abertura a sujeitos novos, o incentivo ao engajamento dos jovens, a confiança, o processo de acompanhamento dos jovens engajados, a paciência para deixar os jovens aprenderem! A presença dos jovens nas forças vivas traz muitas vantagens para ambos, como por exemplo: rejuvenesce os idosos, anima aqueles que estão cansados, conforta quem está preocupado com o futuro; os jovens amadurecem, injetam criatividade e novo vigor, renovam práticas obsoletas, desafiam novas atitudes, asseguram a possibilidade do surgimento de novos líderes, enriquecem o dinamismo da pastoral com novas ideias e atividades.

PARA A REFLEXÃO:

  1. O que dificulta a inserção dos jovens nas diversas formas de engajamento paroquial?
  2. Quais são as consequências da ausência de jovens nas forças vivas paroquiais?
  3. Quais estratégias podem ser pensadas para facilitar o engajamento dos jovens nos serviços pastorais da paróquia?