Os milagres de Jesus eram ações divino-humanas na pessoa do Messias, o enviado do Pai, manifestando o seu poder de Filho de Deus na terra. Eles especificaram o dedo de Deus, ou mesmo o Espírito de Deus nele que agia contra o mal, expulsando demônios, curando toda espécie de doença e de enfermidade. Para a salvação do ser humano, é a intervenção, a presença de Deus na história humana e natural[1]. Vejamos a visão dessas coisas nos padres da Igreja, os primeiros escritores cristãos, sobretudo em Santo Agostinho.
Para Lactâncio, padre do século III e IV, os milagres são próprios do Filho de Deus, enviado do Pai. Ainda que eles estavam presentes nos profetas, e por ações grandiosas por Deus no AT, as coisas maravilhosas foram feitas pelo Senhor Jesus Cristo de modo que a grande multidão acorria a Jesus e todos o sentiam como Filho de Deus encarnado[2].
Para Santo Agostinho, bispo de Hipona, dos séculos IV e V, afirmou a importância dos milagres na ação evangelizadora de Cristo Jesus para o povo de Deus e para o Reino de Deus. Para alguns, por exemplo, no tempo de Jesus, os milagres, não diziam muitas coisas, por causa da indiferença frente às coisas maravilhosas. Se às vezes os seres humanos perdem a consideração das obras de Deus, mediante a qual dar todo dia glória ao Criador, Deus, se reservou de cumprir coisas incomuns, por induzir os homens dormentes, através coisas admiráveis, a adorá-lo. Se em Cristo Jesus mortos ressuscitavam, as pessoas ficavam encantadas: todo dia nascem pessoas e a admiração muitas vezes não ocorre. No entanto é o mesmo Deus Pai que por meio do seu Verbo faz todas estas coisas e as governa. Na verdade, os primeiros milagres Deus fez por meio de seu Filho, sendo gerado por Ele, e depois pela sua encarnação em vista de nossa salvação. Nós vemos as obras maravilhosas também pelo Espírito que mora em nós, e vemos também a maravilha do nosso corpo e de nossa alma na qual o Senhor criou[3].
Mas, Santo Agostinho expressou-se sobre os milagres de Jesus. Eles são obras divinas, que ensinam à mente humana a elevar-se acima das coisas visíveis para compreender aquilo que é Deus em Jesus Cristo. Nós deveríamos ficar admirados pelas coisas de Deus, seja pelos milagres como aquele da água transformada em vinho, como também da multiplicação dos pães e outros milagres. Havia poder nas mãos de Cristo que multiplicou os pães para a multidão faminta[4], e outras coisas para que pudessem crer na sua palavra salvadora.
Ainda em Santo Agostinho tinha presente que é motivo de alegria e amor o fato de que Jesus Cristo se fez homem, além é claro das obas maravilhosas que eram os seus milagres. O ser humano deveria ficar maravilhado pela encarnação de Jesus Cristo e ter redimido os males do corpo e da alma. Mas o Senhor também cumpriu obras que podiam ser vistas, curando os olhos que não eram capazes de vê-lo. E Ele entrou no mundo para curar os cegos, os paralíticos, expulsar os demônios, ressuscitar os mortos, dar vida aos doentes e enfermos. Ele curou a todos os que iam ao encontro dele, dando-lhes a saúde do corpo a tantos doentes e dará a plenitude da mesma, no fim dos séculos, na ressurreição dos mortos, onde não haverá mais fome, sede, doença, mas a vida plena com o Senhor Jesus Cristo[5]. Será a vida eterna que o Senhor dará aos seus eleitos e eleitas. Ele ressuscitou Lázaro concedendo-lhe novamente a vida humana, não o fazendo para que o fosse eterna neste mundo. Mas a vida eterna a doará para os seus filhos e as suas filhas que eram mortais.
Santo Agostinho também afirmou que aquilo que os seres humanos não viam pelos seus milagres pudessem crer na vida no além, construía a fé naquilo que as pessoas não viam. O Senhor fez tudo aquilo para convidar os seres humanos à fé, férvida na Igreja, difundida em todo o mundo. Atualmente, o milagre é a abertura do coração cego aos olhos à palavra do Senhor[6]. As pessoas ficam felizes por acreditar na Palavra do Senhor e isso são os milagres de hoje, por viverem a Palavra do Senhor.
Ainda em Santo Agostinho, os milagres provenientes nos lugares destinados ao culto dos mártires estariam ligados à fé que pregavam pela ressurreição de Cristo na carne e a sua ascensão ao céu. Os mártires foram testemunhas da fé diante do mundo que venceram não o combatendo, mas morrendo, pelo nome de Jesus Cristo. Nesta fé em Cristo Jesus os mártires acreditaram na ressurreição da carne em vista da eternidade com Deus Uno e Trino[7].
[1] Cfr. A. Monaci Castagno. Miracolo. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, diretto da Angelo Di Berardino. Institutum Patristicum Augustinianum, Roma, Marietti, 2007, Genova-Milano, pgs. 3297-3298.
[2] Cfr. Lattanzio, Epitome delle Divine Istituzioni, 38-41. In: La teologia dei Padri, v. 04. Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pg. 199
[3] Cfr. Agostino, Commento al Vangelo di san Giovanni, 8,1-3. In: La teologia dei Padri v. 02, Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pgs. 123-124.
[4] Cfr. Agostino, Commento al Vangelo di san Giovanni, 24,1. In: Idem, pg. 125.
[5] Cfr. Agostino, Commento al Vangelo di san Giovanni, 17,1. Idem, pgs. 125-126.
[6] Cfr. Agostino, Dircorsi, 88,1.3. In: Idem, pgs. 126-127.
[7] Cfr. Agostino. La Città di Dio, 22,9. In: Idem, pg. 67.
POR Dom VITAL CORBELLINI
Bispo de Marabá - PA