por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
Belém do Pará se prepara para sediar a 30ª Conferência das Partes (COP30), um evento crucial para o futuro do planeta. Em meio a desafios climáticos urgentes e um cenário global complexo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a sociedade civil se unem em uma mobilização histórica, buscando soluções inovadoras e um compromisso global renovado com a sustentabilidade.
O relatório da CNBB sobre ‘Análise de Conjuntura Social COP 30: conjuntura cenários e a contribuição da Igreja Católica’, elaborado pelo Grupo de Análise de Conjuntura, expõe a gravidade da crise climática. As atividades humanas já elevaram a temperatura global em 1,1°C entre 2011 e 2020, em comparação com o período pré-industrial (1850-1900). As emissões de gases de efeito estufa continuam a crescer, impactando desproporcionalmente as comunidades vulneráveis e os ecossistemas frágeis.
Diante desse cenário alarmante, a CNBB ressalta a necessidade de superar a “crise ética da humanidade”, impulsionada por padrões insustentáveis de produção e consumo. A instituição defende que a COP30 seja um espaço para que os países em desenvolvimento apresentem suas demandas históricas por justiça climática, financiamento e transferência de tecnologia.
A Igreja Católica no Brasil, com sua forte presença na Amazônia, tem se mobilizado em diversas frentes para garantir o sucesso da COP30. A iniciativa “Igreja Rumo à COP30” articula a CNBB, a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), o Movimento Laudato Si’, a Cáritas Brasileira e a Rede Eclesial Pan-Amazônica – Brasil em ações conjuntas em defesa da justiça socioambiental.
A CNBB tem se dedicado a colocar as vozes das comunidades amazônicas no centro das decisões globais sobre o futuro do planeta. A “Mobilização dos Povos pela Terra e pelo Clima”, que articula povos e movimentos sociais territoriais, é uma iniciativa fundamental para fortalecer as lutas de povos e comunidades tradicionais em seus territórios e sua capacidade de incidência política.
A educação ambiental é um dos pilares da mobilização da Igreja Católica em direção à COP30. A Pastoral da Educação da CNBB Norte 2, com o apoio de diversas organizações, desenvolveu o e-book “COP 30 nas escolas – amigos da Casa Comum”, um material pedagógico inovador que tem como objetivo levar a temática da COP30 para as salas de aula e conscientizar as futuras gerações sobre a importância do cuidado com o planeta.
O e-book “COP 30 nas escolas” é uma ferramenta poderosa para sensibilizar crianças e jovens sobre os desafios da crise climática e para incentivá-los a se tornarem agentes de transformação em suas comunidades. Ao abordar temas como a ecologia integral, a justiça climática e a importância da participação cidadã, o e-book contribui para a formação de cidadãos conscientes e engajados na construção de um futuro mais justo e sustentável.
A sociedade civil brasileira, com sua rica história de mobilização em defesa do meio ambiente, tem se articulado em diversas iniciativas para garantir que a COP30 seja um espaço de diálogo e de construção de soluções para a crise climática. A “Cúpula dos Povos”, que desde 1992 se ergue como um grito de resistência, é um exemplo da força da sociedade civil na luta por um futuro mais justo e sustentável.
Com a proximidade da COP30, a mobilização da Igreja Católica e da sociedade civil se intensifica, com o objetivo de garantir que a conferência seja um marco na luta por um futuro em que a justiça social e a justiça ambiental caminhem juntas. É hora de unir forças, de amplificar as vozes dos mais vulneráveis e de construir um futuro em que a vida seja celebrada em toda a sua plenitude.
Da ECO-92 à COP30: O Legado do Rio de Janeiro na Luta Contra a Crise Climática
Em 1992, o Rio de Janeiro se tornou o epicentro de um debate global crucial para o futuro do planeta. A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como ECO-92 ou Cúpula da Terra, reuniu chefes de estado, representantes de 179 países, organizações internacionais, ONGs e a sociedade civil para discutir a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. O evento marcou um ponto de inflexão na conscientização mundial sobre as questões ambientais e na promoção do conceito de desenvolvimento sustentável.
A ECO-92 representou um esforço pioneiro para conciliar o crescimento econômico com a proteção do meio ambiente. A conferência enfatizou a necessidade de apoio financeiro e tecnológico aos países em desenvolvimento para alcançar um crescimento sustentável, além de destacar a responsabilidade desproporcional das nações desenvolvidas pelos danos ambientais. A ECO-92 resultou em diversos documentos e acordos importantes, como a Agenda 21, um plano de ação para o desenvolvimento sustentável; a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que estabeleceu princípios para o desenvolvimento sustentável; e os Princípios Florestais, que definiram princípios para a gestão sustentável das florestas.
Um dos legados mais importantes da ECO-92 foi a criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), que estabeleceu a base para a cooperação internacional na luta contra o aquecimento global. A UNFCCC deu origem às Conferências das Partes (COPs), que se tornaram o principal fórum global para negociações sobre o clima. A primeira COP foi realizada em Berlim, em 1995, e desde então, as COPs têm se reunido anualmente para avaliar o progresso na implementação da Convenção e tomar decisões para enfrentar a crise climática.
Vinte anos depois, em 2012, o Rio de Janeiro voltou a ser palco de um importante evento sobre sustentabilidade: a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Com o objetivo de renovar o compromisso global com o desenvolvimento sustentável, a Rio+20 buscou avaliar as lacunas nos acordos internacionais, abordar os desafios emergentes e discutir formas de se recuperar dos danos ambientais, ao mesmo tempo em que se progredia economicamente. Os principais temas da conferência foram a “economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza” e a “estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável”.
A Rio+20 enfrentou desafios significativos, incluindo críticas sobre a falta de diálogo efetivo com a academia, movimentos sociais e organizações ambientais. Houve preocupações de que a abordagem da “economia verde” pudesse levar o mercado a assumir questões cruciais como a pobreza e o acesso aos recursos naturais. No entanto, a conferência também alcançou progressos, como o desenvolvimento de novas métricas, a exemplo do Índice de Riqueza Inclusiva, que incorpora o bem-estar social e o capital natural nas avaliações da riqueza nacional. O documento final, “O Futuro Que Queremos”, reafirmou compromissos de cúpulas anteriores e estabeleceu os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a serem implementados a partir de 2015, abordando a erradicação da pobreza e o acesso à energia limpa.
Quase três décadas depois da ECO-92, e mais de uma década após a Rio+20, o Brasil se prepara para sediar a COP30 em Belém, na Amazônia. A escolha da capital paraense como sede da conferência representa um reconhecimento da importância da Amazônia para o equilíbrio climático global e um chamado à ação para proteger a floresta e as comunidades que dela dependem. A COP30 é uma oportunidade para que o Brasil reafirme seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e lidere os esforços globais para enfrentar a crise climática.
A ECO-92 lançou as bases para a cooperação internacional em questões ambientais, a Rio+20 buscou renovar e fortalecer esses compromissos, e agora a COP30 surge como um momento crucial para transformar promessas em ações concretas. Assim como a ECO-92 despertou a consciência global e a Rio+20 buscou caminhos para um desenvolvimento mais inclusivo, a COP30 tem o potencial de catalisar soluções inovadoras e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.
Nesse contexto, o e-book “COP30 nas Escolas – Amigos da Casa Comum”, desenvolvido pela Pastoral da Educação da CNBB Norte 2, emerge como uma ferramenta vital para empoderar crianças, jovens e a comunidade em geral. O material oferece um guia prático e acessível para a implementação de ações simples e eficazes no dia a dia, desde a redução do consumo de energia até o apoio a iniciativas de agricultura sustentável. O e-book nos lembra que já possuímos o conhecimento e as ferramentas necessárias para transformar o mundo, mas que, por algum motivo, esses saberes permanecem apenas no campo das palavras e das promessas, especialmente entre os líderes mundiais. Chegou a hora de todos darmos as mãos e colocarmos em prática as ações que o e-book nos inspira a realizar, construindo um futuro em que a sustentabilidade seja uma realidade em cada lar, em cada escola, em cada comunidade, no Brasil e no mundo. Afinal, a mudança que queremos ver no mundo começa com as pequenas atitudes que tomamos no nosso dia a dia.
Que Belém possa inspirar o mundo a construir um legado de esperança e ação em prol do nosso planeta e da nossa querida Amazônia.
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