texto e fotos CPT Xinguara / PA
Na manhã deste domingo (18 de maio), as famílias de trabalhadores/as rurais da ocupação Jane Júlia, localizada na antiga fazenda Santa Lúcia, em Pau D’Arco (PA), realizaram a Feira da Agricultura Familiar e da Resistência no Campo, reafirmando que onde antes houve dor e luto, hoje brota vida, alimento e dignidade.
A feira ocorreu na quadra coberta da cidade de Pau D’Arco/PA e faz parte da abertura da programação em memória aos 08 anos do triste episódio de violência no campo, conhecido como massacre de Pau D’arco, ocorrido em 2017.
A programação se inicia com a feira demonstrando que a terra onde dez trabalhadores rurais (09 homens e 01 mulher) foram brutalmente assassinados pela polícia, agora é lar de cerca de 200 família camponesas que a transformaram em produção e esperança.
A feira teve início com uma mística de celebração da terra e da vida, conduzida pela equipe da CPT Xinguara, e com a participação das crianças da comunidade, que apresentaram os alimentos produzidos na comunidade.
A programação incluiu também um momento de denúncia e memória, com a apresentação simbólica de cartazes trazendo dados sobre a violência no campo e os conflitos agrários no Sul do Pará. A apresentação dos dados do Caderno de Conflitos no Campo 2024, revelou o crescimento dos conflitos agrários na região e a persistente criminalização dos defensores do território.
Representantes de entidades defensoras de direitos humanos estiveram presentes, como a Comissão de Direitos Humanos da OAB de Xinguara, na pessoa de seu presidente, Dr. Rivelino Zarpellon. Parceiros locais, como a FETAGRI PA e sindicatos de trabalhadores rurais, além de professores da rede pública de ensino dos municípios de Redenção e Xinguara, todos também fizeram questão de comparecer e mostrar apoio às famílias. Além disso, também estiveram presentes o prefeito municipal de Pau D’arco, Sr. Alexandre Blanco e o secretário municipal de agricultura, que reafirmaram apoio às famílias e receberam as demandas destas no que se refere ao apoio para escoamento da produção.
A comunidade expôs uma grande variedade de produtos agroecológicos, como frutas, hortaliças, farinha, feijão, raízes e doces caseiros, todos livres de agrotóxicos. A ocupação Jane Júlia é hoje uma das maiores produtoras de farinha de mandioca da região Sul do Pará, fruto do trabalho coletivo e da organização das famílias.
Apesar da expressiva produção, as famílias seguem sob ameaça de despejo, mesmo morando e produzindo na terra há anos. O medo de serem retiradas por decisão judicial paira sobre quem apenas busca viver com dignidade e alimentar outras vidas.
A feira encerrou com falas de solidariedade de parceiros, movimentos sociais e sindicatos, além do convite especial para participação da comunidade nos próximos eventos que fazem parte da programação dos 08 anos de memória.
Os eventos e atos previstos para ocorrer nos próximos dias 24 e 25, vão acontecer dentro da ocupação – Faz. Santa Lúcia, e inclui o lançamento do documentário “Pau D’arco” (na programação do 10° Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira (FIA CINEFRONT), além da tradicional caminhada pelo mesmo percurso realizado pelas vítimas enquanto tentavam escapar com vida da perseguição policial, e deve se encerrar com um almoço produzido e servido pelas famílias atualmente ocupantes da área.
A Feira da Agricultura Familiar da ocupação Jane Júlia é mais do que um espaço de comercialização: é um ato de vida contra a violência, um grito por reforma agrária e justiça por Pau Dárco.