“A vinda do Filho de Deus à terra é um acontecimento tão grandioso, que Deus quis prepará-lo durante séculos. Ritos e sacrifícios, figuras e símbolos da primeira Aliança, tudo Deus faz convergir para Cristo. Anuncia-o pela boca dos profetas que se sucedem em Israel. E, por outro lado, desperta no coração dos pagãos a obscura expectativa desta vinda. São João Batista é o precursor imediato do Senhor, enviado para lhe preparar o caminho. Profeta do Altíssimo (Lc 1, 76), supera todos os profetas, é o último deles, inaugura o Evangelho; saúda a vinda de Cristo desde o seio de sua Mãe e põe a sua alegria em ser o amigo do esposo (Jo 3, 29) que ele designa como Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1, 29). Precedendo Jesus com o espírito e o poder de Elias (Lc 1, 17), dá testemunho dele pela sua pregação, pelo seu batismo de conversão e, finalmente, pelo seu martírio. Ao celebrar em cada ano a Liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta expectativa do Messias. Comungando na longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo da sua segunda vinda”. (Catecismo da Igreja Católica, 522-524)

Somos mais uma vez introduzidos pela Igreja neste tempo especial, vivido no horizonte da fé. “A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se veem” (Hb 11,1). E aprendemos também que “em Jesus Cristo, o que vale é a fé agindo pelo amor” (Gl 5,6). São colunas de nossa vida cristã as virtudes teologais, recebidas de presente no Batismo, a Fé, a Esperança e a Caridade. Assim, Deus nos dê as disposições necessárias para viver intensamente estas semanas preparatórias ao Natal do Senhor. E o Tempo do Advento pode alimentar em nós a virtude da Esperança, resposta de Deus e dos cristãos às buscas dos homens e mulheres de todos os tempos, especialmente dos dias em que vivemos, com famílias, comunidades e sociedade fragmentadas.

É ainda o Catecismo da Igreja Católica que nos orienta (Catecismo, 1817): “A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos Céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. “Conservemos firmemente a esperança que professamos, pois aquele que fez a promessa é fiel” (Hb 10, 23). “O Espírito Santo, que ele derramou abundantemente sobre nós, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador, para que, justificados pela sua graça, nos tornássemos, em esperança, herdeiros da vida eterna” (Tt 3, 6-7).

Nasce naturalmente a pergunta a respeito das atitudes decorrentes de nossa profissão de fé, que suscita a esperança e se manifesta no amor de caridade. O primeiro olhar há de ser para o alto e para frente, com a certeza de que nossa esperança em Deus não é só para esta terra, mas tem as dimensões da eternidade. Se formos consultar apenas os dados da realidade cotidiana, perderá sentido nossa caminhada nesta terra. Todos nós nos deparamos com frequência com o mistério da morte, que toca de perto a sensibilidade de cada pessoa e das famílias. Recentemente, surgiu-me a oportunidade de dizer a uma pessoa enlutada o quanto são importantes e respeitáveis as lágrimas e a saudade, desde que não deixemos habitar em nosso coração o desespero e a falta de confiança, inclusive porque é fundamental enxergar o acontecimento da morte do lado de quem partiu, dizendo a nós mesmos que aquela pessoa “já chegou”! Sabemos bem que “se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão” (I Cor 15,19).

Esperança pede ainda que edifiquemos nosso dia a dia com as certezas dadas pela fé. Não haveremos de desvalorizar ou desprezar todos os pequenos ou grandes gestos que ocupam nossa vida. Cabe-nos renovar com frequência a intenção com a qual tomamos decisões e empreendemos nossos passos. Para caminhar seguros, apoiar-nos na assistência do Espírito Santo, colocar mãos à obra em tudo o que estiver ao nosso alcance para edificar o bem, valorizar o que as pessoas realizam ao nosso redor.

Todos nós podemos falhar, somos pecadores! A virtude da Esperança suscite em cada pessoa a certeza do perdão, com o qual Deus quer dizer-nos que, postos na balança, nós valemos mais do que nossas faltas, o que podemos dizer uns aos outros, animando os que estão desanimados e prostrados pelos próprios pecados. Tanto estas pessoas como todos nós podemos redescobrir neste período a beleza do Sacramento da Reconciliação, que nos dá o perdão e a paz.

Este é um tempo forte e significativo na Igreja, oportuno para a participação intensa na Santa Missa, compromisso pelo menos dominical a ser retomado, depois de tantas dificuldades vividas em tempo de pandemia. E nossas Paróquias também incentivam a Novena de Natal, com a qual as famílias se reúnem para rezar e acolher a mensagem da Palavra de Deus, que traz vida e santidade!

A virtude da Esperança abra ainda para nós o espaço da fraternidade e da solidariedade, diante do estupendo e eterno gesto do Pai, que envia seu Filho numa carne semelhante à nossa. Dá para espalhar gestos de fraternidade ao nosso redor. A Arquidiocese de Belém realiza neste período o Projeto “Belém, Casa do Pão”, organizado pela Cáritas Arquidiocesana, envolvendo todas as Paróquias de nossa Igreja, provocando positivamente a solidariedade com os que mais sofrem e pagam na própria pele as estruturas tão pesadas e injustas de nossa época. E a ajuda recolhida e distribuída se transforma em atenção continuada, pois às Comunidades Paroquiais cabe acompanhar as famílias ajudadas, para que soluções mais duráveis se implantem, no sentido da promoção humana efetiva.

Virtude da Esperança é ainda semear confiança, lutando contra a onda de derrotismo e pessimismo existente em nosso tempo. Nossa proteção está no nome do Senhor, que fez o Céu e a Terra, proclamamos muitas vezes em nossas liturgias. Podemos repetir e insistir: olhar para o alto e para frente