Na primeira parte da oração que o Senhor nos ensinou, o Pai Nosso, três pedidos se complementam: Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino e seja feita a vossa vontade. Os três pedidos nos fazem olhar para o alto, para buscar justamente as “coisas do alto”, no dizer de São Paulo (Cf. Cl 31,1). Os outros pedidos da oração nos remetem às coisas que mais necessitamos, a saber, pão, perdão, reconciliação, superar as tentações e livrar-nos do mal. Entretanto, a fonte está no relacionamento com Deus. Lembremo-nos de que a oração foi ensinada por Jesus e é o Espírito que clama em nós Abbá-Pai. Rezá-la é mergulhar no coração de Deus e trazer para a terra o estilo de vida que o caracteriza, já que Jesus, trazendo o Céu à Terra, assim proclamou: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,34-35).

Ao celebrar neste final de semana a Solenidade de Cristo Rei, último Domingo do Ano Litúrgico, voltemos os corações para o Reino de Deus e sua justiça, o que deve ser procurado com todo o ardor de nossa vida. E podemos partir dos meses que precedem esta festa, quando nosso país viveu uma intensa campanha eleitoral, no qual vieram à tona nossos deveres de cidadania, os direitos de opções, os contrastes e conflitos, demonstrando o feio e o bonito, presente em nossos corações e nossas ações.

Numa conversa, “os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Ele respondeu: ‘O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: Está aqui’ ou: Está ali, pois o Reino de Deus está no meio de vós'” (Lc 17,20-21). Todas as vezes na história em que alguém pretendeu substituir o Reino de Deus por poderes humanos de qualquer espécie, o bom senso e o conhecimento da Palavra de Deus contribuíram para entender que este Reino, que vem de sempre e perdura para sempre, questiona e julga com misericórdia e verdade todos os poderes do mundo, não se identificando com nenhum deles.

Toda a pregação de Jesus tem seu ponto forte no anúncio da chegada do Reino de Deus, que é ele mesmo com seu mistério pascal de morte e ressurreição. Para facilitar a compreensão de seus discípulos e das multidões, o Senhor usou parábolas tiradas do cotidiano, para que o mistério do Reino fosse identificado. O Reino de Deus é semente, sal, luz fermento, árvore que cresce, rebanho de ovelhas, alguma delas perdida e reencontrada, moeda, filho sem juízo que abandona seu pai para depois voltar, e daí por diante. Cada um de nós pode entrar em alguma das parábolas e se descobrir, para entender que o Reino de Deus é a presença do próprio Senhor. E somos ajudados cada vez que participamos da Santa Missa, pelas diversas vezes em que repetimos: “Ele está no meio de nós”.

Celebrar a Solenidade de Cristo Rei é proclamar, antes de tudo, o Senhorio de Jesus Cristo sobre todas as pessoas, famílias, cidades, povos e nações, ou seja, a realeza social do Senhor Jesus sobre o mundo. É necessário começar dentro de nós, escolhendo o seu seguimento e abandonando todos os ídolos, sejam eles nossos próprios pecados, nossas manias, os vícios, as ideologias de qualquer gênero, o indiferentismo e o chamado laicismo (Cf. Igreja em Oração – CNBB, novembro de 2020, página 86). Mais ainda o ateísmo, muitas vezes proclamado, outras vezes prático, quando Deus é excluído de nossas escolhas e da vida cotidiana. Infelizmente, já encontramos crianças que nunca ouviram falar de Deus e nem a ele se dirigirem em suas próprias famílias.

Olhando o lado positivo, trata-se de proclamar com a Igreja, do jeito que ela reza nesta Solenidade: “Jesus Cristo, submetendo ao seu poder toda criatura, entregará à vossa infinita majestade um reino eterno e universal: reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”. São os valores do Reino de Deus a orientarem nossas escolhas diárias.

A Solenidade de Cristo Rei, em nosso país, é a celebração do Dia dos Leigos e Leigas, irmãos e irmãs marcados com a graça do Batismo, da Confirmação e da vida Eucarística, chamados a ser justamente o que as parábolas propõem: sal, luz e fermento no meio da humanidade, no exercício da cidadania, em suas famílias e no trabalho exercido com dedicação e coragem, justamente porque se encontram, e aqui está a maioria das pessoas que acolhem esta mensagem, diretamente envolvidos nos desafios do tempo presente. A Igreja se une em oração para que vivam corajosamente esta missão.

E para a Igreja no Brasil, esta Solenidade é também a abertura do Terceiro Ano Vocacional, com o tema “Vocação: Graça e Missão” e o lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (Cf. Lc 24,32-33), que recorda os discípulos de Emaús. Enquanto a Graça faz o coração arder, a Missão faz pés estarem no caminho, em Movimento. Isso nos ajuda a todos, na descoberta de nossa vocação e missão. O Coração de Jesus, que é visto no cartaz que se espalha por todo o Brasil, nos recorda que a origem, o centro e a meta de toda vocação e missão é a pessoa de Jesus Cristo. Aquele que chama, também envia. Iniciativa do próprio Deus, mistério, graça, experiência de encontro, fascínio, alegria, assombro, sensibilidade, inconformidade, resposta pessoal, envolvimento comunitário, missão, serviço, entrega de vida, coragem e determinação, esperança e firma convicção, testemunho de fé. À luz do mistério de Cristo, cada pessoa compreende a sua vocação como graça e missão! (Cf. Texto-base do terceiro Ano Vocacional do Brasil)

Belíssimo tripé para vivermos estes dias: “Vosso é o Reino, o poder e a glória para sempre!”; “Missão dos leigos e leigas, espalhando e edificando o Reino de Deus!”; “Vocação, graça e missão: Corações Ardentes, pés a caminho!”