Introdução

O exercício da escuta é importante para a tomada de decisões em nossa vida. Mas para que o discernimento seja seguro, precisamos ser formados, pois a formação nos proporciona a assimilação de critérios e parâmetros que nos possibilitam analisar com mais profundidade algum fenômeno social ou situação existencial.

Entre a escuta e a ação é necessário o discernimento. Trata-se de uma atitude profundamente virtuosa, pois implica uma clara visão da consistência das opções. Sem a experiência do discernimento agimos movidos pela impulsividade ou por condicionamentos externos. Por isso, muitas vezes, as nossas atitudes são violentas ou inconsistentes.

Na segunda parte do texto-base da Campanha da Fraternidade somos chamados a nos confrontar com a pessoa de Jesus Cristo, o mestre do discernimento, bem como, a acolhê-lo e reconhecê-lo como a Verdade personificada, educador por excelência.

 

  1. Discernimento e senso crítico

Em nossa vida todos os dias somos chamados a tomar decisões e, muitas vezes, a pressão de pessoas, grupos e as circunstâncias desagradáveis nos exigem uma atitude de grande firmeza, forte autocontrole, prudência e senso de justiça.

Somos chamados também a discernir os desafios da realidade da educação no Brasil, nos seus mais variados contextos. Há no Brasil, uma situação de muita desigualdade no que se refere à questão da educação, tanto em relação às regiões geográficas, quanto à disparidade entre as classes socio-econômicas e grupos humanos do ponto de vista étnico.

Os pobres, genericamente mais vulneráveis e com menor índice de anos de formação, são compostos basicamente por pardos, negros e indígenas. Assim o analfabetismo persiste somando ainda cerca de 12% da população brasileira, havendo mais intensidade na região norte e nordeste. A pobreza e o analfabetismo têm um rosto e endereço.

Essa dramática e injusta realidade educacional brasileira, explica a composição do lamentável quadro da população carcerária em nível nacional. Quanto menor é o nível de escolarização, maior é a pobreza, o desemprego, o subemprego e também a criminalidade. Há, portanto, uma relação íntima entre educação, pobreza e criminalidade; o mesmo, dizem as estatísticas brasileiras, sobre a relação entre formação, bem-estar e justiça.

 

  1. A Igreja e o discernimento

Não há autêntica educação sem discernimento. A Igreja no seu ministério educativo-pastoral dedica forte atenção à formação da mente e do coração das pessoas, seja nas escolas, universidades, pastorais, centros sociais, liturgia, da pregação da Palavra de Deus, bem como através da dinâmica de vida fraterna nas comunidades eclesiais.

Para alicerçar-se na profundidade do discernimento, a Igreja faz uso da Palavra de Deus, confronta-se com as atitudes de Jesus Cristo, dá atenção aos tesouros da Tradição e do seu Magistério. Mais ainda, a Igreja acolhendo as conquistas da razão, também considera os recursos das ciências humanas e está sempre atenta à reflexão sobre os sinais dos tempos. Por exemplo, a experiência da pandemia tem sido um fenômeno que está convocando a humanidade a uma profunda revisão de vida, hierarquia de valores e de investimentos.

A educação libertadora capacita as pessoas para o discernimento crítico das realidades do próprio contexto sociocultural. Vivemos numa sociedade profundamente marcada pelo pluralismo em todas as áreas. Uma das manifestações mais significativas do pluralismo contemporâneo, diz respeito à existência das ideologias; muitas delas, são caracterizadas por uma visão reducionista do ser humano. Por isso, a Igreja considera a dignidade humana com sua pluridimensionalidade e visão integral, como um dos critérios fundamentais para discernir o que convém diante das variadas situações existenciais.

 

  1. Jesus Cristo, educador por excelência

Jesus nos ensina a importância do discernimento para podermos educar com amor, por isso, com suas atitudes, nos estimula a pensar com sabedoria. Diante da pecadora acusada de adultério (cf. Jo 8,1-11) não respondeu imediatamente cedendo à pressão dos frios e legalistas acusadores. Jesus nos ensina que o primeiro critério a ser seguido para o justo discernimento, é conservar o respeito incondicional para com a dignidade da pessoa humana, manter a paciência e agir com sabedoria.

Jesus de Nazaré, profundamente humano, foi educado e a partir da prática religiosa de sua família aprendeu, participou e assimilou as exigências religiosas do seu tempo (cf. Lc 2,52), bem como na sua maturidade manifestou a necessidade da purificação da religião. A educação tem uma dimensão religiosa que não pode ser descartada.

Jesus ao longo do seu ministério revelou-se educador; ele atraía pessoas, grupos e multidões, os ensinava e sua sabedoria era admirável. Ele falava com profundidade e ensinava com autoridade e compaixão (cf. Mt 7,28-29; Mc 6,30-34), testemunhando assim, não ser um mero professor, mas o mestre de todas as categorias de pessoas.

É digna de destaque a pedagogia de Jesus sendo portador de uma profunda capacidade de facilitar a compreensão daquilo que queria ensinar. Por isso falava de coisas concretas da vida do povo, ensinava através de palavras, parábolas, exemplos, comparações, gestos, atitudes e tirava lições dos acontecimentos (cf. Lc 13,1-5).

Jesus ensinava sempre: nas sinagogas e no templo, nas montanhas e no deserto, na beira do lago e dentro do barco, nas casas e na beira de um poço, no caminho e nas estradas, nas vilas e povoados, numa festa de casamento e num funeral. A meta da educação de Jesus era conduzir a conversão, à mudança de vida como aconteceu com Zaqueu, Bartimeu, Madalena, a mulher adúltera etc.  A pedagogia de Jesus promovia a libertação. A educação cristã é profundamente libertadora.

 

  1. Horizontes da educação católica

Jesus disse a seus discípulos: “ide e ensinai” (Mt 28,19-20). Portanto, no mandato missionário está presente a necessidade da educação. A pregação da Palavra de Deus requer processos educativos que geram a mudança de vida. Não basta que a Palavra seja ouvida. Por isso a educação é um componente essencial da missão da Igreja. Evangelização e educação são inseparáveis por força do dinamismo da fé.

Ao longo da sua história, a Igreja sempre se preocupou com a educação; no início era voltada para o aprofundamento da fé, através da catequese! Pouco a pouco, a Igreja foi assumindo a educação formal e universitária. Grande contribuição educativa veio e continua vindo das congregações religiosas.

A educação católica tem características específicas, como por exemplo, a promoção da educação integral, a centralidade da pessoa de Jesus Cristo, a atenção incondicional à dignidade humana, o respeito para com os direitos humanos, a sensibilidade para com a realidade sociocultural, a convicção de que a educação é processo participativo envolvendo muitos sujeitos, a necessidade da formação moral, fraterna, para a justiça e o diálogo. Enfim, com sua sensibilidade educativa, a Igreja evitando o tecnicismo profissional, educa para a alteridade, para o amor, para o sentido da vida terrena e aponta para a vida eterna.

 

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Por que a educação católica educa para o discernimento e o senso crítico?
  2. Por que a educação deve ser libertadora?
  3. Qual aspecto da sensibilidade educativa de Jesus mais lhe chama a atenção?