Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
Jesus proferiu uma bem-aventurança aos pobres, pois o Reino dos céus é dado para eles (Lc 6,20). Estes são aqueles que confiam em Deus, porque Ele é o sustento em suas vidas. Os pobres serão os nossos porteiros, dizia São Gregório de Nissa. Em Marabá, na visita aos locais onde estão os desabrigados por causa das enchentes dos rios Itacaiúnas e Tocantins, nós percebemos que este povo é o mais vulnerável por ocasião das enchentes porque vive bem durante o verão perto dos rios e no tempo do inverno sofre com a subida das águas. Eles não têm outro lugar senão viver desta forma devido à falta de políticas públicas para o povo mais necessitado de moradia. Os pobres são os preferidos de Deus, dos quais o Senhor disse que o Espírito do Senhor estava sobre ele para evangelizar os pobres (Lc 4,18). A seguir vejamos como os santos padres, os primeiros escritores conceberam estes dados em relação aos pobres, e como Cristo Jesus se identificou com eles.
Os pobres no juízo final: sinal da presença de Cristo.
O evangelista Mateus tem presentes às palavras do Senhor para com todos os povos, nas quais as pessoas entrarão no Reino dos céus ou irão para a condenação eterna(Mt 25, 31-46). Os pobres adquirem uma posição de privilégio em relação ao Reino, porque eles são um sinal universal da presença de Cristo em meio aos seres humanos. A comunhão de bens não é somente uma aceitação recíproca entre os fiéis, seguidores de Jesus, mas exprime, enquanto manifestação de pobreza, que todo o cristão é um servo do Senhor, que o segue de uma forma simples e pobre[1].
A pobreza de Cristo Jesus.
No Novo Testamento a pobreza ganha significado e valor a partir da pobreza de Jesus Cristo (Mt 8, 20; Lc 2,7; 12), da sua amizade para com os pobres (Lc 4,18), para alcançar ao pedido de pobre para aqueles que desejam segui-lo (Mt 19,16; Mc 1,16), colocando a todos a necessidade do desprendimento diante do dinheiro e ajuda para com todos os que passam por necessidades[2]. Como o Senhor diz de que valeria a pessoa ganhar o mundo inteiro e arruinar a sua vida? (Mc 8,36). O seguimento a Cristo dá-se pela pobreza material e espiritual.
Os porteiros no Reino dos céus
São Gregório de Nissa, Padre da Igreja do século IV, afirmou que os pobres serão os nossos porteiros no Reino dos céus. Na interpretação de Mt 25, 31-47 junto com o Filho do Homem, Jesus, eles são os dispensadores dos bens esperados, os porteiros do reino, aqueles que abrem as portas aos justos, aos bons, mas fecharão aos maus, e injustos, pois estes não manifestaram o seu amor aos outros, sobretudo com os mais pobres[3]. A compreensão é percebida como a abertura das portas ou o seu fechamento.
Acusadores e advogados.
São Gregório de Nissa também dizia que os pobres serão duros acusadores, mas também hábeis advogados. O fato é que será o Filho do Homem a falar como o evangelho de Mateus tem presente, no sentido de que as pessoas ajudaram os pobres nas necessidades e o Cristo se identificou com eles ou as pessoas não ajudaram a eles e por isso não ajudou o Cristo neles, ao dar a sentença final. Eles acusarão e defenderão não falando, mas eles aparecerão ao lado do Juiz universal, o Senhor Jesus Cristo[4].
As ações feitas aos pobres.
O bispo de Nissa também disse que as ações feitas aos pobres gritarão com voz mais forte de qualquer arauto, notícia, na presença de Deus, que conhecia os corações das pessoas[5]. As ações feitas com amor às pessoas necessitadas colocam a relação direta com o Senhor, a ele foram realizadas ou também a ele não foram realizadas ( Mt 25, 39; 45).
A comunidade fazia obras em favor dos pobres.
São Justino de Roma, padre da Igreja, século II, descreveu bem a ação feita pela comunidade de Roma em obras para com os pobres. Ela procurava pôr em prática a palavra de Deus. Ele disse que as pessoas que possuíam alguma coisa, davam ao presidente, no caso o bispo. Este o distribuía aos órfãos e viúvas, aos que por necessidade ou outra causa passavam por necessidades, aos que estavam nas prisões, aos forasteiros de passagem, tornando-se desta forma o provisor de todos os que se encontravam em necessidades[6].
A generosidade torna o ser humano glorioso.
São Basílio de Cesareia, bispo do século IV disse ao interpretar Pr 22,1, ‘Muito melhor um nome bom que grandes riquezas’ no sentido de que a riqueza passa por que a pessoa a deixará na terra, quer ela deseja ou não, mas a honra conquistada com as boas obras será levada com a pessoa à face do Senhor, quando todo o povo reunido em torno da pessoa diante do Juiz comum lhe aclamará provedor, benfeitor e dará todos os títulos da caridade[7]. O Senhor se identificará com aqueles que fizerem as boas obras de amor pelos outros, glorificando desta forma o Senhor Deus.
A importância da partilha.
A Didaqué, escrito do século I falou a importância da partilha. A pessoa deveria dar para quem pedia pois, ela necessitaria para a sua sobrevivência. O Pai, disse o documento quer que os bens da pessoa sejam dados a todos. A pessoa receberá pela necessidade que tem para ir para frente, louvar a Igreja e o Reino de Deus[8].
A identificação do Senhor com os pobres, os porteiros no Reino dos céus, indica o caminho da caridade para ser feito em cada momento de nossa vida. O Senhor estava com eles e eles com o Senhor. A obra de caridade realizada com eles será prêmio de vida eterna, na ressurreição dos justos e das justas. A palavra de Deus é sempre motivo de força e de ação na caminhada que se faz em cada dia para seguir o Senhor, evangelizar os pobres, os porteiros no Reino dos céus.
[1] Cfr. M. G. Mara. Poveri – Povertà. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, diretto da Angelo Di Berardino, P-Z. Marietti, Genova – Milano, 2008, pg. 4245.
[2] Cfr. Idem.
[3] Cfr. Gregorio Nisseno. L´amore per i poveri, PG 46, 460. In: Giordano Frosini. Il Pensiero Sociale dei Padri. Brescia, Queriniana, 1996, pg. 79.
[4] Cfr. Idem, pg. 79.
[5] Cfr. Ibidem.
[6] Cfr. Justino de Roma. I Apologia, 67, 6. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 83.
[7] Cfr. Basílio de Cesareia. Homilia sobre Lucas 12, 3. São Paulo, Paulus, 2015, pg. 29.
[8][8] Cfr. Didaqué, 1, 5. In: Padres Apostólicos. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 344.