Introdução
Continuemos nossa reflexão sobre a identidade da educação católica centrando o nosso olhar sobre a pessoa de Jesus Cristo. O fundamento cristológico é determinante para a educação católica, porque Jesus Cristo é a pedra angular, o Mestre e o Senhor da Igreja.
A pessoa de Jesus Cristo muito contribui para o enriquecimento da pedagogia através das suas palavras, do conteúdo de suas pregações, da excelência das suas atitudes, da sabedoria dos seus ensinamentos, da sua sensibilidade indo ao encontro de todas as pessoas, acolhendo-as, escutando-as, advertindo-as e estimulando-as à mudança de vida.
A educação católica perderia totalmente a sua identidade específica se deixar de lado a centralidade da pessoa de Jesus Cristo. O educador cristão católico é um discípulo que se identifica com Jesus Cristo e busca configurar-se com suas atitudes.
Na arte de educar, os educadores católicos são inspirados por Ele e chamados a cultivar a espiritualidade pedagógica do Bom Pastor (cf. Ez 34,1-16; Is 40,11; Sl 23; Jr 23,1-4; 1Pd 5,1-3; Jo 10,1-18), assumindo seu modo de pensar, sentir e agir, levados pela paixão do zeloso cuidado (cf. 1Pdr 5,1-3).
- Os desafios do pluralismo
Vivemos numa sociedade pluralista onde os educadores católicos, como todos os profissionais, vivem inseridos num contexto sociocultural profundamente marcado pelo pluralismo de ideias. Assim a educação católica é ameaçada por muitas ideologias como o relativismo moral, o reducionismo educacional, o tecnicismo profissional, o naturalismo etc. porque todas elas têm uma visão reducionista e desequilibrada do ser humano.
Em meio a esse complexo e tentador contexto sociocultural, a educação católica é chamada a preservar a sua identidade que deve ser visibilizada através do seu currículo proposto, das palavras, atitudes dos educadores, fidelidade dinâmica e visão dos seus gestores.
Livre de qualquer forma de influxo ideológico, a educação católica é fiel propositora da promoção da formação integral do educando. Educar é estimular o desenvolvimento pluridimensional da pessoa humana. Essa sensibilidade educativa holística é claramente visível nas atitudes e palavras de Jesus Cristo para com os seus discípulos e o povo.
Por isso, enquanto educadores católicos assumimos a pessoa de Jesus Cristo como o nosso modelo. Como educadores cristãos, não podemos assumir o «sincretismo pedagógico», ou seja, não ter um «fio condutor», um centro de referências, uma estrutura de valores, um princípio norteador fundamental, uma instância de confronto e modelo ideal permanente.
- Jesus, Educador por excelência
Jesus Cristo é a fonte inesgotável de estímulos e critérios permanentes de como devemos entrar em relação com o outro no ensino, na aprendizagem, no discernimento, na correção, no conflito, nas intervenções diante dos problemas, nas crises, na dor, na alegria, na festa, nas situações de pressão social, institucional, cultural, moral, religiosa etc.
A excelência educativa de Jesus Cristo está no seu ser, em suas palavras, no seu agir; em tudo isso, vemos suas atitudes educativas, sensibilidade pedagógica, conteúdo de ensinamentos, linguagem acessível, percepção crítica, cuidado e compaixão para com todos! Jesus Cristo não é um professor, mas é o Mestre que se revelou diante dos seus discípulos, no encontro com as pessoas, na relação com as massas, diante dos adversários, nas advertências aos seus seguidores. Diante de todos!
Onde Jesus foi educador? Jesus educou na rua, na praia, no deserto, nos caminhos, nos montes, na beira de um poço, na casa de amigos, nas sinagogas, no templo, na família, no tribunal, na cruz… Em todos os lugares.
Jesus foi educador em todas as circunstâncias: na experiência de conflito, na tensão, na fome, na solidão, na angústia, na dor, no cansaço, na serenidade, na perseguição, na incompreensão… Sem estresse, sem agressividade, sem violência, sem mau humor, sem falsidade, sem omissão… em todas as circunstâncias.
Como Jesus foi educador? Jesus exercitou sua arte de educar acolhendo as pessoas, aproximando-se delas, escutando, convivendo, conversando, caminhando, perdoando, entendendo, ensinando, libertando, corrigindo, curando, esclarecendo, desafiando, defendendo, alertando, motivando, envolvendo, estimulando, animando… sempre conciliando ternura e firmeza!
- A sensibilidade educativa de Jesus
Jesus Cristo não só convocou, mas sobretudo, dedicou-se à formação dos seus discípulos; a meta da educação é a conversão, a transformação do coração e da mente, para a acolhida da Salvação. Não esperava seus educandos, mas ia ao encontro deles percorrendo toda a Galileia, entrando nas cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino (cf. Mt 4,23; Mc 1,39; Lc 4,14; Jo 6,59).
Jesus provocou seus discípulos e o povo para o cultivo de nobres ideais e atitudes diferenciadas pela gratuidade do amor (cf. Mt 5,1-12; Lc 6,27-49). Dirigindo-se para a terra onde cresceu (Nazaré), pôs-se a ensinar as pessoas que estavam na sinagoga; o povo ficou maravilhado com seus ensinamentos cheios de sabedoria, autoridade e feitos maravilhosos (cf. Mt 13,54; Mc 1,27; Lc 4,22).
Jesus não tinha uma postura centralizadora, por isso, disse: “a minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quer cumprir a sua vontade, saberá se a minha doutrina é de Deus ou se falo por mim mesmo” (Jo 7,14-17). O educador católico não ensina aquilo que quer! A atenção às pessoas mais simples, levava Jesus a ensinar muitas coisas por meio de parábolas (cf. Mc 4,2;12,38).
A tarefa de educar faz parte da missão que Jesus confiou aos seus apóstolos: “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as (…) e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28,19-20; Mc 16,15). A missão que Jesus confiou à Igreja tem uma dimensão educativa.
Jesus educou seus discípulos para a dimensão espiritual quando lhes ensinou a rezar e lhes falou do Reino de Deus despertando neles o compromisso de fraternidade, perdão e partilha (cf. Mt 6,9-13; Mt 13,1-33). Também os educou para o sentido da vida alertando seus discípulos para o perigo do materialismo e do egoísmo: “quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim, esse a salvará. De fato, que adianta um homem ganhar o mundo inteiro, se perde e destrói a si mesmo?” (Lc 9,24-25).
Jesus concebeu a educação como instrumento de transformação social: “Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas…” (Mc 6,34). Nesse mesmo evento Jesus educa para a sensibilidade, corresponsabilidade, partilha, envolvimento, gestão, organização, e cuidado com o não desperdício de alimentos.
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
- Por que o fundamento cristológico é determinante para a educação católica?
- Por que as ideologias são uma ameaça à educação católica?
- Quais das atitudes educativas de Jesus mais lhe chamam a atenção e são importantes para a educação católica?