Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Dia trinta de setembro comemora a Igreja São Jerônimo. Ele foi presbítero, um grande tradutor de obras de autores diversos, mas, sobretudo lidou com as Sagradas Escrituras. Nascido entre os anos 331 ou 347 na Panônia, antiga Província do Império Romano, norte da Itália, e morto em Belém, na Palestina em 30 de setembro de 420 foi ele um dos quatro grandes padres da Patrologia Latina. Ele teve uma educação bem fundamentada dada pelos seus familiares, sobretudo pelo seu pai[1]. Esteve em Roma na qual seguiu com um grupo de pessoas o ideal monástico. Depois foi para o Oriente para aprender as línguas, sobretudo o hebraico e o grego. Esteve novamente em Roma pelos anos de 380 na qual foi secretário do Papa Dâmaso que lhe solicitou uma nova versão da Sagrada Escritura, a tradução latina da assim chamada Vulgata, de modo que ele iniciou a sua caminhada familiar com os livros das Sagradas Escrituras[2]. É fundamental analisar alguns pontos, que o tornou conhecido como o patrono dos biblístas[3].

A sua importância pela transmissão dos textos bíblicos no Ocidente.

São Jerônimo teve uma missão importante na transmissão no Ocidente dos textos patrísticos, mas, sobretudo bíblicos. Ele se interessou pela publicação de suas obras para o publico em geral. A Sagrada Escrituras por ele traduzida dos textos originais para o latim, a famosa Vulgata foi considerada uma edição oficial, promulgada pelo Papa Dâmaso e adotada pela Igreja de Roma, também pelo inteiro Ocidente católico e do mundo. Na verdade o Papa Dâmaso queria uma versão melhor para que assim a palavra de Deus chegasse mais perto do público em geral[4].

A atenção à Bíblia.

São Jerônimo deu uma grande atenção à Bíblia, uma vez que era necessária uma nova versão das Escrituras Sagradas. Já em Roma ele traduziu do grego para o latim os quatro evangelhos, a versão dos Salmos, que foi perdida. Em Belém, na Palestina, ele se dedicou a tradução do hebraico das Escrituras para o latim, tendo presente também as versões judaicas de Áquila e de Símaco, os quais fizeram traduções das Sagradas Escrituras[5].

A atenção à Bíblia foi realizada pelo fato de que deu uma forte acentuação da importância do texto hebraico da Bíblia com o redimensionamento do texto grego dos LXX (os setenta). O fato era que à medida que relia a Bíblia dos Setenta impulsionava-lhe à aproximação do texto original. Desta forma aprendeu ele o hebraico, e ele envolveu neste esforço, os seus discípulos, sobretudo mulheres, Paula e Marcela, dos quais tiveram como conseqüência de suas traduções a sua monumental tradução dos textos bíblicos do hebraico, grego ao latim na Bíblia Vulgata, que foi o texto alto de referência de toda a cultura cristã ocidental até aos nosso dias[6].

O Livro inspirado.

São Jerônimo tinha presente nos livros das Sagradas Escrituras a inspiração como o núcleo central, no qual fazia todo o progresso das traduções do hebraico, grego para o latim e também como fim da vida cristã do qual se nutria na fé e no amor, na esperança do cumprimento da historia da salvação, com a volta do Senhor na glória[7]. A Escritura foi inspirada por Deus. Esta familiaridade com a Sagrada Escritura, a Bíblia, compreendeu-se como condição essencial do respiro para ele e para o fiel cristão. Este ponto muito forte em São Jerônimo à abordagem cristã à Bíblia foi determinante para a cultura cristã ocidental, e, influenciou muito também na transmissão do saber dos Padres sucessivos, e também na Idade Média até chegar à modernidade[8].

São Jerônimo era um grande seguidor da escritura clássica, latina. Mas ao perceber a importância das Sagradas Escrituras, resolveu o seu conflito interior e orientou todas as suas energias à fé, dedicando alma, corpo à tradução e ao estudo da Escritura inspirada[9].

A sacralidade dos textos bíblicos.

São Jerônimo era convicto da sacralidade do texto bíblico e de sua importância como leitura à vida cristã. Desta forma ele não fez traduções dos livros sagrados por apenas traduzir como se fosse uma profissão, mas ele fez das traduções com toda a sua equipe, uma vida de fé, encontrando na Bíblia, a palavra de Deus para as pessoas e para o mundo. Os textos bíblicos eram para ele reconhecidos como depositários de verdade percebidas, para a venerabilidade que lhes era reconhecida, além de sua antigüidade[10]. Ele não ficou num simples ponto de vista técnico, mas através da atividade de traduções ligou o seu espírito com o espírito do texto tornando-se mestre espiritual[11] levando também as pessoas para a dimensão espiritual através do texto sagrado.

O Cristo presente nas Escrituras.

Tendo presente o dado que o texto na qual ele traduzia era inspirado por Deus, São Jerônimo afirmou que era necessário perscrutar as Escrituras (Jo 5,39), percebendo a presença do Senhor Jesus em todas elas. E seguindo a palavra do evangelista São Mateus que disse na palavra de Jesus, que ignorar as Escrituras é ignorar o Poder de Deus ( Mt 22,29), pois Deus é o Deus dos vivos e não de mortos, e Deus ressuscitará com o seu poder os corpos, ou para a condenação eterna ou para a vida eterna (Mt 22, 23-33), na crítica que o Senhor Jesus fez aos saduceus, negadores da ressurreição, São Jerônimo afirmou que ignorar as Escrituras é ignorar Cristo[12]. É preciso perceber a presença de Jesus no AT que se completou em Jesus Cristo, o enviado do Pai.

Em São Jerônimo ficou claro o dado que a sua fé em Cristo permaneceu um critério preferencial na interpretação do Antigo Testamento[13]. A presença de Cristo impulsionou a sua tradução das Sagradas Escrituras. São Jerônimo, um dos grandes Padres da Igreja nos ensina ver nas Sagradas Escrituras, a presença do Senhor que falou na Lei de Moisés, nos Profetas, nos Salmos(Lc 24,44) e, sobretudo Jesus fez-se carne (Jo 1,14), morreu na cruz, ressuscitou dos mortos para a nossa salvação e caminha conosco como Eterno Encarnado para juntos um dia gozar da vida eterna.

 

 

[1] Cfr. Patrologia, Vol. III. I Padri Latini (Secoli IV-V), Institutum Patristicum Augustinianum, a cura di Angelo Di Berardino con presentazione di Johannes Quasten. Casale, Marietti, 1983, pg. 203.

[2] Cfr. J. Gribomont. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, F-O, diretto da Angelo Di Berardino. Genova-Milano, Casa Editrice Marietti SpA, 2007, pgs. 2262-2263.

[3] Cfr.Missal Cotidiano, Missal da Assembleia Cristã. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 1755.

[4] Cfr. Patrologia, Vol. III. I Padri Latini (Secoli IV-V), pgs. 209-210.

[5] Cfr. J. Gribomont. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, F-O, pg. 2264.

[6] Cfr. Guido Innocenzo Gargano. Il Sapore dei Padri dsella Chiesa nell´esegesi biblica. Cinisello Balsamo, Milano, Edizioni San Paolo, 2019, pg. 228.

[7] Cfr. Idem, 229.

[8] Cfr. Idem, pgs. 229-230.

[9] Cfr. Idem, pgs. 230-231.

[10] Cfr. Idem, pg. 232.

[11] Cfr. P. Hadot. Esercizi spirituali e filosofia ântica. Torino, Einaudi, 1988, pgs. 14-16; Idem, pg. 234.

[12] Web site: Ofício das Leituras da Memória de São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja – Liturgia das Horas Online.

[13] Cfr. Patrologia, Vol. III. I Padri Latini (Secoli IV-V), pg. 232.