O Natal: O nascimento do Salvador
Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
O Natal é o nascimento de Jesus Cristo na realidade humana, sendo o Salvador da humanidade. Isto é bem notório pelo anúncio do anjo aos pastores, pois a glória do Senhor os envolveu em luz e o anjo lhes disse que era para eles não terem medo naquela noite, pois ele lhes anunciava uma grande alegria para todo o povo, na cidade de Davi, nasceu para eles e para todos um Salvador, que é o Cristo Senhor (cfr. Lc 2, 9-11). Ele é o nosso Salvador. Salvador vem da palavra latina: Salvator-oris, cujo significado é salvar, uma pessoa é salva de um perigo, material ou espiritual. Jesus Cristo, o Redentor salva e dá a salvação, como dom de Deus à humanidade[1]. A seguir veremos como esta visão deu-se pelos padres da Igreja, os primeiros teólogos na vida eclesial.
O nascimento do Salvador em Belém.
Eusébio de Cesareia, bispo na Palestina, interpretou a profecia de Malaquias( cfr. Ml 5, 1-4) no qual o Salvador Jesus Cristo deveria nascer em Belém. Ele seria o novo pastor, na qual as suas origens são desde o início dos tempos, isto é, eternos. A sua existência provem desde a eternidade, portanto divina. É de Belém que sairá o condutor que subsiste desde sempre, vindo daquele vilarejo, o nosso Salvador Jesus, o Cristo de Deus. Esta Escritura é cumprida naquele que é o verdadeiro Emanuel, o Logos preexistente a toda a criação, que é chamado Deus conosco (cfr. Mt 1,23)[2].
A lei antiga era incapaz de salvar.
São Leão Magno, bispo de Roma e Papa, afirmou que o ensinamento da Lei não era suficiente para a salvação, pois a nossa origem, viciada desde o começo depois do pecado original, não renasceria com novos começos. Em vista da reconciliação da humanidade com Deus era preciso uma vitima de nossa raça, Jesus Cristo, isenta de nossa corrupção. Desta forma o plano de Deus, que era de apagar o pecado do mundo pelo nascimento de Jesus e de sua paixão, morte e ressurreição se estenderia a todas as gerações e em todos os séculos[3].
O Salvador, Verbo de Deus e servo.
São Leão Magno também disse que em seu abaixamento humano, ele se tornou filho de mulher e sujeito à Lei, mas na sua condição divina, permanece o Verbo de Deus, na qual todas as coisas foram feitas. Aquele que em sua condição de Deus, fez o ser humano, na sua condição de servo, se fez ser humano, mas um com o outro é Deus pelo poder da natureza que assumiu um com o outro é homem pela humildade da natureza assumida. O Senhor assumiu a condição de servo sem a mancha do pecado, elevando a humanidade, mas sem a diminuição da divindade, porque o aniquilamento pelo qual o invisível se tornou visível, foi abaixamento de sua misericórdia[4] em vista da salvação do ser humano.
A recapitulação da obra plasmada.
Santo Ireneu, bispo dos séculos II e III afirmou que o Verbo de Deus pela sua encarnação recapitulou em si mesmo a obra por ele plasmada, tornando-se Filho do Homem. “Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher” (Gl 4,4) e na epístola aos romanos diz:… “Acerca do seu Filho, ele nasceu da posteridade de Davi, segundo a carne, declarado Filho de Deus, com poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dentre os mortos, Jesus Cristo Senhor Nosso” (Rm 1,3-4)[5].
A salvação é dada como dom de Deus.
O bispo de Lião afirmou que Deus Pai, pela sua imensa misericórdia, enviou o seu Verbo Criador que vindo para nos salvar esteve nos mesmos ambientes onde o ser humano perdeu a vida, rompeu as cadeias que o mantinha prisioneiro. Com a aparição de sua luz desapareceram as trevas da prisão, santificou o nascimento humano, e destruída a morte, desligou os mesmos laços que tinham prendido o ser humano. Ele manifestou a ressurreição, tornando-se o primogênito dos mortos (cfr. 2 Tm 1,10) e levantou na sua pessoa o homem caído por terra, ao ser elevado às alturas do céu até a direita da glória do Pai[6]. Santo Ireneu também disse que o Verbo é Salvador. Emanuel se traduz por “Deus-conosco”, Deus esteja conosco. Por isso, Ele é a interpretação e a revelação da “Boa-Nova”. O profeta disse que um menino foi dado à humanidade, e foi lhe dado o nome como Conselheiro-maravilhoso, Deus-forte, Pai-eterno, Principe-da-paz (Is 9, 5)[7].
O Salvador veio ao mundo
São Beda Venerável, presbítero dos séculos VII e VIII afirmou que o Salvador veio ao mundo realizando a promessa a Abraão e aos seus filhos, no caso, aos filhos da promessa dos quais se diz que sendo de Cristo, as pessoas são da descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa (cfr. Gl 3,29). Como a morte entrou no mundo pela desobediência humana diante de Deus, pela profecia do Senhor dada às duas mulheres, Maria e Isabel, as quais carregavam o Salvador e Precursor, anunciou-se ao mundo a Salvação.
A salvação em vista da renovação humana
Santo Atanásio, bispo de Alexandria, século IV disse que o Filho santíssimo do Pai, Imagem dele, veio à terra a fim de renovar o ser humano que fora feito em conformidade com ele, e a fim de recuperar os que estavam perdidos, no perdão dos pecados, conforme diz o Senhor no evangelho que ele veio procurar e salvar o que estava perdido (cfr. Lc 19,10)[8].
O Salvador é Jesus Cristo que veio na realidade humana para dar a todos a vida nova, ele que viera do Pai. O Natal é a contemplação no presépio desta verdade que anima a todos a prosseguir na missão, de vivê-la na paz e no amor junto aos pobres, aos necessitados, e a todas as pessoas. O Natal seja o nascimento do Salvador em nossos corações e no mundo inteiro.
[1] Cfr. Salvatóre. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 1467.
[2] Cfr. Eusebio di Cesarea. Dimostrazione Evangelica, VI, 2,2-4. Introduzione traduzione e note di Paolo Carrara. Paoline, Milano, 2000, pgs. 586-587.
[3] Cfr. Leão Magno. Sermões. XXIII Sermão, 3. Terceiro Sermão no Natal do Senhor, 3. Paulus, 1996, pgs. 47.
[4] Cfr. Leão Magno. Idem, 2, pg. 46.
[5] Cfr. Ireneu de Lião, III Livro, 22,1. Paulus, SP, 1995, pg. 350.
[6] Cfr. Irineu de Lyon. Demonstração da pregação apostólica, 38. Paulus, SP, 2014, pg. 98.
[7] Cfr. Idem, 54, pg. 111.
[8] Cfr. Santo Atanásio. A Encarnação do Verbo, 14,2. Paulus, SP, 2002, pg. 143.