Após o Natal celebra a Igreja a Sagrada Família, de Jesus, Maira e José. É uma festa expressiva porque diz respeito à família humana na qual viveu o Filho de Deus, tendo como pais adotivos, Maria e José. A encarnação do Verbo ocorreu num contexto familiar. Assim como Jesus estava sempre no seio do Pai e junto com o Espírito Santo, ele entrou na realidade humana pela família. A família é fundamental para a vida humana e para a salvação. A salvação é sempre dada como iniciativa de Deus, da qual exige a participação humana num contexto familiar, comunitário e social.

A família vem do latim família, cujo significado é doméstico, um conjunto de pessoas ligadas entre si por uma relação de convivência, de parentesco, de afinidade[1]. Nós dizemos que a família é projeto de Deus, no qual a nossa vida dar-se-á a graça da vida eterna. Rezemos pela unidade de nossas famílias, para que haja a fraternidade, o amor e menos violência sobretudo contra as mulheres, contra as pessoas idosas e assim todas vivam o espírito de unidade e de amor como ocorreu na Sagrada Família de Nazaré. Os Papas e o magistério realçam sempre a unidade nas famílias. Em nível de CNBB estamos celebrando o ano vocacional, rezando pelas vocações e também pela vocação à vida matrimonial. A seguir, nós veremos algumas considerações importantes a partir da Sagrada Escritura e dos primeiros escritores cristãos sobre a festa da Sagrada Família.

José acolheu Maria, como sua mulher.

Jesus foi acolhido por Maria e também por José num contexto familiar, da Sagrada Família. O evangelista Mateus falou que o anjo do Senhor apareceu em sonho para José dizendo que Maria estava grávida por obra do Espírito Santo. O anjo ressaltou para Ele para não temer de tomar Maria como sua mulher, sua esposa pois o que fora gerado nela era ação do Espírito de Deus. Ela daria à luz um filho e ele poria o nome de Jesus, pois ele salvaria o seu povo dos seus pecados. Portanto Jesus é o Salvador. Ela conceberia um filho cujo nome seria também Emanuel, cujo significado é Deus conosco. Quando José despertou do sono, José fez tudo conforme o anjo do Senhor lhe disse e acolheu Maria como sua mulher ( Mt 1, 19-24).

José e Maria acolheram o Filho de Deus na carne.

São Cromácio de Aquiléia, bispo no século IV afirmou que José e Maria acolheram o Filho de Deus na realidade humana. Quando eles estavam em Belém para fazerem o registro, Maria deu a luz o filho primogênito. Ela o enfaixou e depôs na manjedoura porque não havia lugar para eles na hospedaria (Lc 2,7). As coisas foram colocadas em evidência pelo nascimento do Verbo de Deus como Primogênito da Virgem porque era o primeiro e único a nascer dela, e era também o Unigênito do Pai, porque foi o único gerado pelo Pai, desde sempre. É essencial perceber a humildade do Filho de Deus por causa do ser humano, sendo colocado na manjedoura, aquele que com o Pai reina nos céus e é envolto em faixas aquele que concede a veste da imortalidade, mostra-se pequeno no corpo aquele que é sublime e poderoso[2].

A alegria pelo nascimento do Verbo de Deus é de toda a humanidade

São Cromácio ainda disse que o anjo comunicou aos pastores uma grande alegria porque nasceu para eles o Salvador, Cristo Senhor, na cidade de Davi (Lc 2,11). A alegria não seria somente dos pastores, mas também aos anjos de Deus. A Escritura disse que em seguida juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste dizendo: ´Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz a todos por ele amados´ (Lc 2,13–14). Era conveniente que ao nascimento de um Rei assim poderoso se alegrassem não somente os seres humanos, mas também os anjos, porque ele era o Criador dos seres humanos, mas também o Criador dos anjos e o Deus de todo o poder[3].

O dia eterno de unidade com a humanidade.

Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V afirmou que a encarnação do Verbo iniciou um dia sem o seu fim na realidade humana, familiar. Aquele único Verbo de Deus, a vida, a luz dos seres humanos era então o dia eterno. Assim a família humana foi enriquecida com a presença do Filho de Deus na Sagrada Família. Aquele dia da unidade com a carne humana tornou-se como um esposo que sai do quarto nupcial (Sl 18,6). Desta forma aquele que nasceu lembra o eterno nascido da Virgem, porque o eterno nasceu da Virgem, consagrando o cotidiano da existência humana[4].

A mesma pessoa, Jesus Cristo, Deus e Homem.

São Leão Magno, papa no século V, ressaltou a unidade da pessoa do Verbo de Deus como Filho de Deu e Filho do Homem. Cristo Senhor subsistiu na unidade da pessoa: sendo Filho de Deus pelo qual os seres humanos foram criados, tornou-se ele também Filho do Homem mediante a assunção da carne, com o fim de morrer como disse o Apóstolo pelos pecados por todos e ele ressurgiu para a justificação de todos (Rm 4,25)[5]. Desta forma a sua unidade com a família humana foi total, para reconciliá-la com Deus e com a humanidade.

A importância da Sagrada Família na Família humana.

Santo Ambrósio, bispo de Milão, final do século IV, colocou também na festa da Sagrada Família, a Família humana. Simeão, o ancião que esperou o Senhor, recebeu o menino Jesus, em seus braços na presença de Maria e de José. Outras pessoas e personagens viram o Salvador como os anjos, os pastores, mas também os idosos e os justos receberam o testemunho do nascimento do Senhor. Todas as idades testemunharam que uma virgem deu à Luz, uma mulher estéril teve um filho, um mudo falou, Isabel profetizou, os magos adoraram, um menino pulou de alegria, uma viúva louvou a Deus, um justo esteve na espera[6].

A alegria de Simeão.

Santo Ambrósio disse também que Simeão esperou ver o Messias prometido, o Ungido do Senhor, ao recebeu em suas mãos o Verbo de Deus e o agarrou entre os seus braços da sua fé, de modo que não veria mais a morte, porque viu a vida. Assim se a profecia é negada aos incrédulos, mas não aos justos (cfr. 1 Cor 14,22), eis que também Simeão profetizou que o Senhor Jesus veio para a ruína e para ressurreição de muitos (Lc 2,34), para fazer a divisão entre os justos e os injustos, segundo os merecimentos e para dar-nos como juiz verdadeiro e justo, seja a pena seja a graça da vida eterna segundo as ações de caridade e de amor[7].

A Sagrada Família colocou a presença do Filho de Deus na família humana. Este fato valorizou as ações que a família faz e também da família que o Senhor deseja de cada um de nós. Ela é dom de Deus e é também missão. A Igreja é chamada a estar com todas as famílias, a rezar por elas, para que vivam na paz e no amor e um dia glorifiquem a Deus Uno e Trino na eternidade. A Sagrada Família acompanhe e abençoe a todas as famílias do mundo inteiro.

 

[1] Cfr. Famiglia. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 570.

[2] Cfr. Cromazio di Aquileia. Sermone 32,2. In: Ogni Giorno con i Padri della Chiesa. A cura di Giovana della Croce. Presentazione di Enzo Bianchi. Milano, Paoline, 1996, p. 399.

[3] Cfr. Idem, Sermone 32,5. In: Idem, pg. 400.

[4] Cfr. Agostino d´Ippona. Sermone188,2. In: Idem, pg 403.

[5] Cfr. Sermone 10 (30), Sul Natale Del Signore 10, 5. In: Leone Magno. I Sermoni del Ciclo Natalizio, a cura di Elio Montanari, Mario Naldini, Marco Pratesi. Bologna, Edizioni Dehoniane Bologna, 2007, pg. 213.

[6] Cfr. Ambrogio. Exp. In Luc., 2,58-60. In: I Padri vivi. Commenti Patristici al Vangelo dominicale, Anno B, a cura di Marek Starowleyski. Roma, Città Nuova Editrice, 1984, pg. 31.

[7] Cfr. Idem, pg. 31.