Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém

Terminadas as festas pascais, cuja repercussão nos levou a celebrar a Santíssima Trindade, Corpus Christi e o Sagrado Coração de Jesus, como um precioso cristal que desdobra a única luz que é Cristo em várias dimensões, multiplicam-se as celebrações dos santos e santas padroeiros, começando com os “santos de junho”, Santo Antônio, São João Batista e São Pedro, para alcançar, com as memórias dos que são sinais da perfeição da vida cristã e as devoções populares, as várias situações humanas nas quais o Evangelho penetrou, encharcando de vida cristã nossa cultura, nossos hábitos e nossa linguagem. Não nos permitamos desperdiçar tudo aquilo que o Espírito Santo inspirou, inclusive nas festas folclóricas existentes em cada região. Recordar a vida dos santos e olhar para as figuras que a arte expressou a respeito deles é contemplar, narrar e passar às novas gerações histórias verdadeiras de homens e mulheres que nos legaram a santidade, o heroísmo, a virtude e, em tantos casos, o martírio!

Em tempo de vida pública, Jesus chamou muitas pessoas, cada qual em seu ambiente e na história percorrida entre acertos e erros (Cf. Mt 9,36-10,8). Para onde foram? Simão Pedro, pescador, gênio difícil, inseguro, medroso, pecador, mas feito “pedra”. Parece que o Senhor quis mostrar seu poder num milagre de conversão: “Simão, Simão! Satanás pediu permissão para peneirar-vos, como se faz com o trigo. Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31-32). Pedro, depois de um tempo em Antioquia, foi plantar as Sementes do Verbo de Deus em Roma, onde foi crucificado de cabeça para baixo.

André, seu irmão, parece mais bem comportado, foi na frente, seguindo Jesus com João, e apresentou Simão ao Senhor. Hoje é considerado “Primeiro Chamado” pelas Igrejas Ortodoxas. Foi martirizado numa cruz em forma de “X”, pelo que até os sinais de trânsito reconhecem a “Cruz de Santo André”!

João, com o irmão Tiago, mesmo que o Quarto Evangelho e as Cartas tenham tantas referências ao amor, eram chamados “Filhos do Trovão”, tinham lá seus defeitos, com mania de violência e carreirismo. Entretanto, deixaram tudo e se tornaram colunas da Igreja! João foi morar em Éfeso. O Quarto Evangelho, as Cartas e o Apocalipse continuam espalhando a Boa Nova!

Tiago foi o primeiro dos Apóstolos a ser martirizado, no ano 42, e sua fama se espalhou tanto que seus devotos continuam percorrendo o “Caminho de São Tiago”! Continua a ir para evangelizar! Filipe, pescador discreto e ao mesmo tempo presente, apresentou a Jesus o jovem com pães e peixes, levou alguns gregos para conhecerem Jesus (Cf. Jo 12,20-25) e ele mesmo aprendeu de Jesus a conhecer o Pai (Cf. Jo 14,9). No início, foi chamado pela palavra forte, várias vezes dirigida a vários deles – “Segue-me” – logo conduziu Natanael, seu conterrâneo, um homem desconfiado, a Jesus. Simplicidade, desconfiança, medo! Nada é obstáculo para Jesus chamar (Jo 1,43-51). Provavelmente Filipe chegou, com o zelo da Evangelização, à martirizada Ucrânia de nossos dias. Natanael, ou Bartolomeu, deve ter levado a Boa Nova de Jesus à Licaônia, à Frígia e à Armênia.

Tomé, chamado Dídimo, que quer dizer gêmeo, mostrou-se pronto a dar tudo por Jesus. Diante dos riscos de ir a Betânia, disse aos companheiros: “Vamos nós também, para morrermos com ele!” (Jo 11,16). Na Última Ceia, suscitou a belíssima afirmação de Jesus como Caminho, Verdade e Vida (Cf. Jo 14,5-6). E ele mesmo ficou conhecido pela dúvida diante da notícia da Ressurreição (Cf, Jo 20,19-29). Entretanto, em seu coração havia o amor e, com o amor, a fé: “Meu Senhor e meu Deus!”. Foi o que disse em nosso nome! Há fundamentos históricos que dizem ter evangelizado na Índia, onde também foi martirizado!

A lista dos Apóstolos continua com Mateus, o Publicano ou Cobrador de Impostos (Cf. Mt 9,1-9), que vivia em Cafarnaum. Uma profissão inusitada para fazer companhia justamente ao Messias esperado! No entanto, Jesus o chama, fazendo-o Apóstolo, depois foi Evangelista. Tradições diversas o indicam evangelizando na Pérsia, na Síria, Macedônia.

Depois vem outro Tiago, chamado Menor pela sua estatura, mas esteve à frente da Comunidade de Jerusalém. Excelente seu ensinamento na Carta que lhe é atribuída no Novo Testamento, indicativa de seu modo de evangelizar: “A sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento. O fruto da justiça é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz” (Tg 3,17-18).

Simão, o Zelota, provavelmente pertencente a um grupo de pessoas muito radicais no cumprimento da lei, foi também martirizado, tendo antes escapado com sua comunidade cristã, para fugir da segunda guerra judaica provavelmente para a Etiópia, antes chamada de Abissínia, ou também na Macedônia. A Boa Nova do Evangelho foi com ele!

Ao seu lado, na lista dos Apóstolos, está Judas Tadeu, cujo nome quer dizer “magnânimo”. Na última Ceia, um diálogo com Jesus: “Judas, não o Iscariotes, perguntou-lhe: “Senhor, como se explica que tu te manifestarás a nós e não ao mundo?” Jesus respondeu-lhe: ‘Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras'” (Jo 14,22-24). A imagem de São Judas tem o livro, que é a Palavra que ele pregou e a machadinha, com a qual foi morto. Conta-se que Nosso Senhor, em revelações particulares, teria declarado que atenderá os pedidos daqueles que, nas suas maiores aflições, recorrerem a São Judas Tadeu. Tantos e tão extraordinários são os favores que concede aos seus devotos, que se tornou conhecido em todo o mundo com o título de Patrono dos aflitos e Padroeiro das causas impossíveis. Os traços de seu apostolado estão na Palestina, na Síria e na Mesopotâmia, tendo morrido Mártir em Edessa. Sua devoção é muito forte entre nós. Completa a lista o nome de Judas Iscariotes, o traidor de Jesus, mas foi por ele chamado e amado!

Estes são os primeiros chamados. Receberam a missão de irem primeiro às ovelhas perdidas de Israel. E estas existem também hoje, para serem por nós alcançadas. Sabemos que sua palavra e seu testemunho se espalharam por todas as partes. Conhecer pelo menos breves referências aos Apóstolos pode ser verdadeira injeção de ânimo para nosso ardor missionário, igualmente urgente e necessário em tempos tão desafiadores como o nosso. De coração aberto, podemos acolher o convite à missão: “No vosso caminho, proclamai: ‘O Reino dos Céus está próximo’. Curai doentes, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expulsai demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar!” (Mt 10,7-8).