
por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
Na manhã desta quarta-feira (17/12), durante a Audiência Geral realizada na Praça São Pedro e na Sala Paulo VI, o Papa Leão XIV proferiu palavras de fé, esperança e reflexão, abordando a importância dos símbolos natalinos, a natureza da inquietude humana e a necessidade de paz em um mundo marcado por conflitos. A ocasião serviu como um momento de profunda conexão espiritual para peregrinos de diversas partes do globo, que se preparam para a celebração do Natal.
Presépio e Árvore: Sinais de Esperança e Convocação à Paz
O Santo Padre iniciou sua fala saudando os presentes e destacando a beleza e o significado do Presépio e da Árvore de Natal que adornam o Vaticano. A representação da Natividade, vinda da Diocese de Nocera Inferiore-Sarno, foi elogiada por sua riqueza artística e cultural, servindo como um lembrete de que Deus se faz próximo à humanidade na humildade de um Menino. A árvore, por sua vez, simboliza a vida e a esperança que resiste mesmo nos tempos frios, com suas luzes representando Cristo, a luz do mundo.
Um dos pontos altos foi a menção à Natividade da Costa Rica, intitulada “Nacimiento Gaudium”, que, com suas milhares de fitas coloridas, representa vidas preservadas do aborto. O Papa reforçou o apelo pela proteção da vida desde a concepção. Em um momento de forte clamor, Leão XIV condenou veementemente os atos de violência e ódio, citando especificamente o recente ataque terrorista em Sydney contra a comunidade judaica, e clamou “Basta com estas formas de violência antissemitas! Devemos eliminar o ódio de nossos corações.”
O Coração Inquieto e a Busca por Significado
A Audiência também explorou a catequese sobre a Ressurreição de Cristo e os desafios do mundo atual, focando na ideia do “coração inquieto”. O Papa Leão XIV explicou que a vida humana é marcada por um movimento constante de fazer e agir, muitas vezes impulsionado pela busca por resultados rápidos. No entanto, ele advertiu que o excesso de atividades pode levar à superficialidade, à exaustão e à perda de sentido, esvaziando o indivíduo em vez de preenchê-lo.
Citando Santo Agostinho, o Pontífice afirmou que “nos fizeste para Ti e o nosso coração está inquieto, até que repouse em Ti”. A inquietação, segundo ele, é o sinal de que o coração humano anseia por um destino maior, pelo amor de Deus, que só é plenamente encontrado ao amar o próximo. O verdadeiro tesouro, enfatizou, não reside nas riquezas materiais ou nos sistemas financeiros, mas na comunhão com o divino e no serviço aos irmãos. A Páscoa, com a vitória de Cristo sobre a morte, oferece o repouso verdadeiro: a paz e a alegria que provêm de Deus.
Saudações Globais e Preparação para o Natal
A Audiência Geral também incluiu saudações a peregrinos de diversas línguas e nações, reforçando a universalidade da mensagem cristã. Foram recebidos fiéis de língua francesa, inglesa (com destaque para Nigéria, Indonésia e EUA), alemã, espanhola, chinesa e portuguesa. Em todas as saudações, o tema da preparação para o Natal e a importância de manter o coração aberto a Jesus, buscando a paz e a alegria em Deus, foram recorrentes. O Papa encorajou a todos a não se deixarem consumir pelo ativismo superficial dos preparativos festivos, mas sim a dedicarem tempo à reflexão, à oração e à abertura espiritual para que a presença de Jesus se torne um tesouro duradouro.
A cerimônia concluiu com bênçãos e votos de um Advento abençoado, lembrando a todos que a esperança em Cristo é o verdadeiro porto seguro para o coração humano.
Leia o discurso do Pontífice na integra, abaixo.
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 17 de dezembro de 2025
Audiência Geral de 10 de dezembro de 2025 – Ciclo de Catequese – Jubileu 2025. Jesus Cristo nossa esperança. IV. A Ressurreição de Cristo e os desafios do mundo atual. 8. A Páscoa como porto seguro do coração inquieto
“Caros irmãos e irmãs, bom dia e bem-vindos!
A vida humana é caracterizada por um movimento constante que nos impele a fazer, a agir. Hoje, em toda parte, exige-se rapidez para alcançar resultados ótimos nos âmbitos mais variados. De que modo a ressurreição de Jesus ilumina este traço da nossa experiência? Quando participaremos da sua vitória sobre a morte, descansaremos? A fé nos diz: sim, descansaremos. Não seremos inativos, mas entraremos no repouso de Deus, que é paz e alegria. Bem, devemos apenas esperar, ou isso pode nos mudar desde já?
Estamos absorvidos por tantas atividades que nem sempre nos satisfazem. Muitas das nossas ações têm a ver com coisas práticas, concretas. Devemos assumir a responsabilidade de muitos compromissos, resolver problemas, enfrentar fadigas. Também Jesus se envolveu com as pessoas e com a vida, não se poupando, mas sim doando-se até o fim. No entanto, percebemos frequentemente o quanto o excesso de fazer, em vez de nos dar plenitude, se torna um turbilhão que nos atordoa, nos tira a serenidade, nos impede de viver melhor aquilo que é realmente importante para a nossa vida. Sentimo-nos então cansados, insatisfeitos: o tempo parece se dispersar em mil coisas práticas que, contudo, não resolvem o significado último da nossa existência. Às vezes, ao final de dias cheios de atividades, sentimo-nos vazios. Por quê? Porque nós não somos máquinas, temos um “coração”, aliás, podemos dizer, somos um coração.
O coração é o símbolo de toda a nossa humanidade, síntese de pensamentos, sentimentos e desejos, o centro invisível das nossas pessoas. O evangelista Mateus nos convida a refletir sobre a importância do coração, ao relatar esta belíssima frase de Jesus: «Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração» (Mt 6,21).
É, portanto, no coração que se conserva o verdadeiro tesouro, não nos cofres da terra, não nos grandes investimentos financeiros, sempre tão loucos e injustamente concentrados hoje em dia, idolatrados ao preço sangrento de milhões de vidas humanas e da devastação da criação de Deus.
É importante refletir sobre estes aspetos, porque nos numerosos compromissos que continuamente enfrentamos, aflora cada vez mais o risco da dispersão, por vezes do desespero, da falta de significado, mesmo em pessoas aparentemente bem-sucedidas. Em vez disso, ler a vida sob o sinal da Páscoa, olhá-la com Jesus Ressuscitado, significa encontrar o acesso à essência da pessoa humana, ao nosso coração: *cor inquietum*. Com este adjetivo “inquieto”, Santo Agostinho nos faz compreender o ímpeto do ser humano projetado para o seu pleno cumprimento. A frase integral remete ao início das *Confissões*, onde Agostinho escreve: «Senhor, Tu nos fizeste para Ti e o nosso coração está inquieto, até que repouse em Ti» (I, 1,1).
A inquietação é o sinal de que o nosso coração não se move ao acaso, de modo desordenado, sem um fim ou uma meta, mas está orientado para a sua destinação última, a do “retorno a casa”. E o porto seguro autêntico do coração não consiste na posse dos bens deste mundo, mas em alcançar aquilo que pode preenchê-lo plenamente, ou seja, o amor de Deus, ou melhor, Deus Amor. Este tesouro, no entanto, só é encontrado amando o próximo que se encontra ao longo do caminho: os irmãos e irmãs em carne e osso, cuja presença solicita e interroga o nosso coração, chamando-o a se abrir e a se doar. O próximo pede que você diminua o passo, que olhe nos olhos, às vezes que mude de programa, talvez até de direção.
Caríssimos, eis o segredo do movimento do coração humano: voltar à fonte do seu ser, desfrutar da alegria que não diminui, que não desilude. Ninguém pode viver sem um significado que vá além do contingente, além daquilo que passa. O coração humano não pode viver sem esperar, sem saber que é feito para a plenitude, e não para a falta.*
Jesus Cristo, com a sua Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição, deu fundamento sólido a esta esperança. O coração inquieto não será desiludido, se entrar no dinamismo do amor para o qual foi criado. O porto seguro é certo, a vida venceu e em Cristo continuará a vencer em cada morte do quotidiano. Esta é a esperança cristã: bendigamos e agradeçamos sempre ao Senhor que nos a doou!”
Saudações
Saúdo cordialmente as pessoas de língua francesa, em particular as paróquias e os jovens vindos da França. Com a aproximação do Natal, tenhamos cuidado para não nos deixarmos levar por um ativismo frenético nos preparativos da festa, que acabaríamos vivendo superficialmente e que daria lugar à decepção. Tomemos o tempo, ao contrário, para tornar nosso coração atento e vigilante na espera de Jesus, para que a sua presença amorosa se torne duradouramente o tesouro da nossa vida e do nosso coração. Deus vos abençoe!”
“Estendo uma calorosa boas-vindas esta manhã a todos os peregrinos e visitantes de língua inglesa que participam da Audiência de hoje, especialmente aqueles vindos da Nigéria, Indonésia e dos Estados Unidos da América. Rezo para que cada um de vocês, e vossas famílias, possam vivenciar um Advento abençoado na preparação para a vinda do recém-nascido Jesus, Filho de Deus e Salvador do mundo. Deus abençoe a todos vocês!”
“Queridos irmãos e irmãs de língua alemã, o Advento nos convida à preparação para o Natal, abrindo-nos incondicionalmente a Jesus. Ele é a nossa esperança. Esperemos a festa do seu nascimento com alegria e oremos com confiança: ‘Vem, Senhor Jesus!'”
“Saúdo cordialmente os peregrinos de língua espanhola. Peçamos ao Senhor que nos ensine a dizer com Santo Agostinho: ‘Fizeste-nos para Ti e o nosso coração está inquieto até que repouse em Ti’, e com esse desejo entremos no dinamismo do amor para o qual fomos criados, caminhando para Cristo, a esperança que não defrauda. Deus vos abençoe. Muito obrigado.”
“Saúdo cordialmente as pessoas de língua chinesa. Queridos irmãos e irmãs, neste tempo de Advento, abram seus corações ao Senhor que vem para trazer os dons da paz e da alegria. A todos a minha bênção!”
“Queridos peregrinos de língua portuguesa, bem-vindos! Estamos na novena de Natal que, rica de tradições em algumas das vossas comunidades, se torna para todos uma renovada oportunidade de aliviar o coração, preparando-o para o iminente nascimento do Filho de Deus. Que Nossa Senhora da Esperança vos acompanhe neste empenho espiritual e vos proteja sempre, a vós e às vossas famílias. O Senhor vos abençoe!”
“Saúdo os fiéis de língua árabe. O cristão é chamado a abrir seu coração ao amor de Deus e do próximo, para que possa ser preenchido com a verdadeira paz e alegria. O Senhor vos abençoe a todos e vos proteja sempre de todo o mal!”
“Saúdo cordialmente os poloneses! Que os últimos dias do Advento sejam para vocês um tempo de reflexão e oração. Preparem-se para a vinda de Jesus, sobretudo através do sacramento da penitência e dos retiros espirituais, graças aos quais experimentarão a verdadeira paz, a alegria e o sentido da vida. Abençoo a todos vós!”
“Dirijo uma cordial boas-vindas aos fiéis de língua italiana. Em particular, saúdo os fiéis de Torino di Sangro; Teramo; San Marco Argentano, com o Bispo Dom Stefano Rega; Fermo Centro, com o Arcebispo Dom Rocco Pennacchio. Acolho com afeto a Escola de Suboficiais do Exército de Viterbo e o 72º Curso de alunos Guardas de Segurança Pública da Polícia de Estado.
Saúdo, por fim, os doentes, os recém-casados e os jovens, especialmente os estudantes do Instituto Cicerone de Sala Consilina e os do Instituto Capriotti de San Benedetto del Tronto. Daqui a poucos dias será Natal e imagino que em vossas casas a montagem do presépio esteja sendo finalizada ou já esteja pronta, sugestiva representação do Mistério da Natividade de Cristo. Espero que um elemento tão importante, não só da nossa fé, mas também da cultura e da arte cristã, continue a fazer parte do Natal para lembrar Jesus que, fazendo-se homem, veio ‘habitar no meio de nós’.
A todos a minha bênção!”
LEONE XIV“
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