por William Bonfim / Comunicação CNBB
com informações da Comissão para a Ação Transformadora

Nos dias 6 e 7 de agosto de 2025, o Fórum Nacional da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora (Cepast) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) consolidou-se como um espaço vital para diálogo e reflexão, reunindo, nos dois dias, mais de 50 participantes, incluindo agentes e lideranças das pastorais, religiosas, religiosos, padres, bispos e representantes dos organismos e redes que integram a Cepast

“O Fórum se consolidou como um espaço de esperança e transformação, onde a espiritualidade libertadora se entrelaça com ações concretas em favor da justiça social”, disse o bispo diocesano de Brejo (MA) e presidente da Comissão Sociotransformadora da CNBB, dom José Valdeci Santos Mendes, reafirmando a missão da Igreja de caminhar lado a lado com as pessoas empobrecidas e destacando o trabalho colaborativo e articulado das pastorais.

A programação do Fórum, realizada na plataforma Zoom, foi cuidadosamente elaborada para promover um intercâmbio produtivo de ideias e acúmulos pastorais sociotransformadores. Em um dos momentos mais importantes do Fórum, a assessora Alessandra Miranda apresentou a síntese das escutas que antecederam o encontro, destacando as convergências entre as pastorais.

Vocação sociotransformadora

As escutas revelaram a atuação efetiva e múltipla das pastorais como presença profética na assistência e no acompanhamento direto de diversas comunidades, grupos, realidades e territórios. As pastorais sociais estão buscando fortalecer suas ações em políticas públicas relacionadas à saúde e assistência social, direito à terra e ao território, moradia, direitos das crianças e adolescentes, inclusão de pessoas com deficiência, neuroatípicas, mulheres marginalizadas e que sofrem todo tipo de violação de seus direitos, pessoas em situação de rua, comunidade LGBTQIA+, migrantes e refugiados, juventudes, população privada de liberdade, entre outras realidades urgentes, do ponto de vista pastoral e também diante das muitas vulnerabilidades sociais. Além disso, a sustentabilidade foi destacada como um fator crucial para garantir a continuidade da ação evangelizadora com esses grupos pastorais.

A síntese da escuta também revelou a urgência em mobilizar escuta plena, processos formativos e de acompanhamento com as novas gerações de agentes pastorais, com especial atenção para as juventudes. “Como reanimar o nosso povo para a dimensão sociotransformadora? A escuta que fizemos revela o risco de que os processos pastorais e evangelizadores sigam sempre nas mãos de poucas pessoas. Esse talvez seja mesmo um tema-chave para o futuro da nossa caminhada. Gostaria de deixar três palavras inspiradoras nesse processo que saíram diversas vezes aqui: escutar, imaginar e apaixonar”, ponderou o assessor da Cepast, padre Dário Bossi.

“Nós achamos que é muito importante que as pastorais sociais assumam pautas que movimentam, que chamam, conectam e atingem as juventudes, como a questão climática, o racismo estrutural e ambiental, e a luta pelo fim da escala 6×1”, enfatizou Mayra Santos, da Juventude Franciscana (JUFRA).

“Na questão da iniciação à vida cristã, perdemos muitas coisas; por isso, nós temos uma crise de lideranças e de assessorias qualificadas neste momento para o acompanhamento das juventudes, o que acaba acarretando a falta de diálogo intergeracional. Em muitas situações, as juventudes são tratadas apenas como temática e não se realiza uma escuta ativa, uma construção coletiva. A gente espera da Cepast, desse conjunto de pastorais sociais, essa escuta, esse espaço; a juventude está viva e resiste”, destaca Wanessa Freire, da Secretaria Nacional da Pastoral da Juventude.

Análise de conjuntura

A análise de conjuntura apresentada por padre Geraldo Luiz De Mori destacou questões relevantes sobre o cenário externo e interno da Igreja no Brasil, além de aprofundar o cenário geopolítico conturbado que o Brasil enfrenta. “As últimas semanas têm sido marcadas por um certo acirramento da polarização, provocado pelas penalidades aplicadas pelo governo Trump sobre vários produtos brasileiros e sobre autoridades da Suprema Corte”, destacou padre Geraldo, evidenciando como a política internacional tem impactos diretos na dinâmica social e política do Brasil.

Outro ponto relevante da análise destaca que a adesão significativa entre os evangélicos e considerável entre católicos à figura de Bolsonaro sugere um fenômeno que precisa ser compreendido no contexto das relações entre religião e política no Brasil, especialmente em um momento de instabilidade e polarização.

A análise lançou um olhar também para o futuro, trazendo uma questão essencial para as comunidades católicas: “Como formar as sensibilidades para o olhar samaritano? Esse é, talvez, um dos principais desafios da Igreja hoje, frente à cultura do descarte ou, no máximo, a olhares colonizados pela racionalidade do ‘sucesso’ e da ‘prosperidade’, para a qual, se alguém se encontra caído à beira do caminho, é por culpa própria e não por causa do sistema”.

Esses trechos da análise ressaltam a complexidade do cenário atual, apontando para desafios que a Igreja e as pastorais enfrentam em sua missão evangelizadora, que se compromete com a vida e se empenha para promover justiça e inclusão em um ambiente marcado por tensões políticas e sociais.

Oportunidades e crescimento

A programação do Fórum também proporcionou um rápido olhar para as estratégias de comunicação e ações sociotransformadoras. Entre algumas iniciativas e informes apresentados estão o Grito dos Excluídos e Excluídas, o Plebiscito Popular, a Jornada Mundial dos Pobres, o Censo das pastorais sociais que está em curso, os processos da Campanha da Fraternidade 2026 que vai abordar o tema da moradia, a formação para a proteção de crianças e adolescentes, além da apresentação da coleção Ação Sociotransformadora, que reúne quatro cadernos de estudo sobre a Doutrina Social da Igreja (DSI).

“A caminhada continua, com a certeza de que as vozes unidas podem construir um futuro mais justo e solidário, transformando desafios em oportunidades de mudança e crescimento”, destacou dom Valdeci ao final do Fórum.

O grupo também vai se manifestar em uma carta, a ser publicada em breve, sobre a soberania, a economia e a democracia a serviço do projeto popular para o Brasil.