Introdução
Nos últimos dias a questão aborto voltou a ocupar espaço na mídia nacional. Para os autênticos católicos, discípulos de Jesus Cristo, o Senhor da Vida estamos diante de mais uma ocasião para o aprofundamento dessa delicada questão.
Muitas são as matrizes ideológicas sobre as quais se apoiam determinados argumentos a favor do aborto. As ideologias têm argumentações sutis; seus argumentos, em geral, fazem referência aos autênticos anseios da pessoa humana e são usados estrategicamente para causar impacto, comoção ou perplexidade nos interlocutores.
Todavia, são frágeis, falaciosos e reducionistas carecendo de uma visão ampla do ser humano. Em geral o ponto de partida da argumentação “pró-aborto” parece comovente, tentadora, admissível, mas é profundamente sem sustentabilidade ética. É preciso atenção! Façamos um breve passeio por esse universo ideológico que tenta defender o aborto.
- IDEOLOGIA PSICOLOGISTA: apela para o bem-estar da mulher, seus sentimentos, seu sofrimento por ter uma gravidez indesejada. Mas não somos somente sentimentos, mas convicções e, por outro lado, na vida sempre enfrentamos frustrações, sofrimentos, crises… O aborto gera um sofrimento mais profundo e indelével na consciência de uma mulher. Os confessores são testemunhas desse drama!
- IDEOLOGIA ECONOMICISTA: argumenta a insustentabilidade financeira, não ter condições econômicas, conforto, segurança para criar, educar a criança; então propõe evitar o nascimento para não colocar mais um sofredor neste mundo. Todavia, a vida tem muitas dimensões, não só a econômica. Promover a morte de um feto em nome da pobreza é negação da dimensão social e afetiva da família e da sociedade. É negar a solidariedade e a força do amor!
- IDEOLOGIA LIBERALISTA: essa ideologia afirma que tudo aquilo que se passa com a mulher, quem deve decidir é ela mesma; é uma questão de liberdade; a mulher é gestora do seu corpo e suas decisões devem ser respeitadas. Mas o feto é uma nova vida, não é parte integrante do corpo da mulher; o feto tem dinamismo próprio que não depende da vontade da mãe, é um novo ser, um novo sujeito, outra vida com sua dignidade e identidade própria.
- IDEOLOGIA UTILITARISTA: essa ideologia apela para a questão da qualidade da vida, da saúde do filho; sem qualidade de vida não vale a pena viver; é bom evitar o sofrimento dele. Em geral apresentam esse argumento no caso da descoberta de deficiências do feto. Contudo muito superior à qualidade é a questão da sacralidade da vida. A vida vale por aquilo que é e não pelo fato da qualidade física!
- IDEOLOGIA BIOLOGISTA: afirmam que o feto é puro “material biológico” sem forma, sem sensibilidade, sem subjetividade, sem sentimentos. Na verdade, muito mais que “material biológico” é o ser humano concentrado com todas as suas potencialidades a serem desenvolvidas. O tempo declara que não é puro objeto biológico! Se fosse não teria o dinamismo que tem… Todos nós passamos por esse estágio de desenvolvimento.
- IDEOLOGIA SANITARISTA: apela para a questão da saúde pública. O aborto deve entrar na pauta dos investimentos de saúde pública e ser tratado como uma pura questão de saúde pública. Contudo a saúde pública não deve promover a morte, mas a vida. A verdadeira política pública na área da saúde se fundamenta no princípio da beneficência, da acolhida, tutela, defesa e promoção integral da vida humana. A preocupação sanitária que gera a morte é contraditória por si mesma.
- IDEOLOGIA SUBJETIVISTA: essa ideologia afirma que o feto ainda não é pessoa, que não tem vontade, não tem consciência, e por isso não pode ser considerado como sujeito de direitos; tudo depende da vontade da mãe. Para ser sujeito é preciso senso de autonomia. Tal argumento é fino e falso! Também os adultos nem sempre, vivem em total autonomia e consciência, nem por isso perdem o direito de viver! O feto é pessoa, mas ainda sem o exercício da sua subjetividade e autonomia, por isso deve ser respeitado e defendido. Onde impera a lei dos mais fortes há sempre crueldade e crimes hediondos. Os mais frágeis são sempre massacrados.
- IDEOLOGIA JURIDICISTA: fazendo apelo à legalidade, delega-se às autoridades judiciais e aos tribunais as decisões de cunho ético e moral. Isso é falso! Deve ser o contrário, é justamente o parâmetro ético que deve reger o discernimento e as decisões de qualquer autoridade. Ninguém tem poder para delegar a outro sujeito, o direito de matar. Na perspectiva juridicista os juízes, ou tribunais, são vistos como senhores do bem e do mal, senhores da verdade e da justiça, também senhores dos bens éticos e morais da sociedade; isso nega a consciência das pessoas e os bens éticos universais. É idolatria!
- IDEOLOGIA DEMOCRACISTA: a ideologia democracista delega à sociedade o direito de decidir sobre aquilo que é mais conveniente; questões “polêmicas” como o aborto, pena de morte, etc. devem ser objeto de decisão da maioria; o ideal é um “referendum”. O certo é produto da maioria. Acusam que a defesa da vida é um argumento religioso. Na verdade a vida é um bem ético universal e por isso não pode ser disputado. Deve ser respeitado. Os direitos naturais não nos são conferidos por um grupo de pessoas! Temos a mesma natureza e dignidade!
- IDEOLOGIA HEDONISTA CORPOREISTA: o aborto é considerado como um bem material em função dos prazeres, do bem-viver; para isso é imprescindível a manutenção da boa forma física; a gravidez é um obstáculo para a estética (beleza), para a liberdade, para o lazer e os prazeres da vida. A maternidade exige sacrifício. Por isso é preciso evitá-la. Mas a vida humana se tornaria insustentável se cada um buscasse somente o próprio prazer e bem-estar. Vivemos graças ao sacrifício dos outros! Somos uma totalidade unificada, não somos puro corpo, somos pessoa, somos uma unidade integrada. O corpo não está somente para o prazer, mas também o trabalho! A vida não é só prazer. Fora do corpo não existimos neste mundo.
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
- Você acha importante refletirmos sobre as argumentações pró-aborto? Por quê?
- Qual dessas ideologias mais lhe chamou a atenção?
- Há outras ideologias defensoras do aborto? O que elas argumentam e como você contra-argumenta?
POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB
Bispo Auxiliar de Belém - PA e Secretário Regional da CNBB Norte 2