Na abertura da Primeira Semana da Vida Religiosa Consagrada no Brasil, mais de 60 religiosas e religiosos brasileiros que vivem em Roma se reuniram na Praça São Pedro, no domingo, 16 de agosto, para um momento memorável: rezar a oração do Angelus com o Papa Francisco. A ideia nasceu no coração do padre Orlando Zanovelli, da Congregação do Espírito Santo, e logo ganhou o apoio do “Grupo Zero” que anima as religiosas e religiosos brasileiros em Roma, o RBR. “O trabalho de coordenação e execução desta iniciativa entre nós, causou-me uma profunda alegria e gratidão”, sublinha padre Orlando.
Próximo ao meio dia, sob o sol escaldante do verão europeu, eles e elas chegaram de todos os cantos e foram passando o controle entre as colunas de Bernini que circundam a Praça, portando bandeiras, faixas, símbolos da Amazônia e a Imagem da Mãe Aparecida. Nem o uso obrigatório das máscaras para conter a pandemia, escondeu no rosto a alegria do reencontro de tantos carismas comprometidos com a missão mundo afora.
Os gestos e os cânticos surgiam espontaneamente e Roma pode ouvir novamente um dos mantras entoados durante o Sínodo para a Amazônia. “Tudo está interligado, como se fôssemos um… nesta Casa Comum”. E não poderia faltar “Santa Mãe Maria, nessa travessia. Cubra-nos Teu manto cor de anil”, no momento em que as mortes por Covid-19 no Brasil já somam 107.852 (16/08/2020).
“Sentíamos falta desses momentos, tínhamos tanto para compartilhar. Poder ver o rosto e perceber a alegria de estarmos ali neste tempo desafiador foi algo marcante e encantador”, descreve padre Júlio César Werlang, missionário da Sagrada Família e membro do Grupo Zero. “Unidos na oração, na diversidade da missão e no compromisso com a vida em todas as suas expressões, experimentamos a manifestação do amor de Deus na comunhão com o Papa Francisco”, destaca padre Júlio.
E quando Francisco apareceu na janela a manifestação do grupo foi singular, conforme relata, a irmã Maria José Meira Dedé, das Carmelitas da Caridade de Vedruna. “Estávamos ali de corpo e alma em comunhão com toda a Vida Religiosa. Nós nos unimos à oração do Angelus e o Papa se uniu à nossa oração. A comunhão, nesse momento foi fantástica. Voltamos para nossas casas fortalecidas e fortalecidos na certeza de sermos ‘amadas e amados, chamadas e chamados por Deus’”, conta a religiosa.
O momento do Angelus se tornou um sinal da vitalidade, profecia e utopia presente na multiplicidade dos carismas. “Estar na Praça São Pedro em Roma assume esse significado da internacionalidade e da interculturalidade na Vida Religiosa”, explica a irmã Maria Augusta de oliveira, das Servas de Maria Reparadoras. “Celebrar a Vida Religiosa em comunhão com todas as missionárias e missionários brasileiros espalhados pelo mundo e com o nosso profeta, o Papa Francisco, que nos convida hoje a sermos Vida Religiosa em saída, renova a nossa vocação, na certeza de que somos missão nesta terra”.
As palavras do Papa
Após rezar o Angelus, Francisco se dirigiu ao grupo de forma afetuosa. “Saúdo os religiosos brasileiros presentes aqui em Roma, com muitas bandeiras. Estes religiosos seguem espiritualmente a Primeira Semana Nacional da Vida Consagrada, que é celebrada no Brasil” (16 a 22 de agosto). O Papa desejou uma boa Semana e encorajou: “em frente” (avante).
Essas palavras “refletiram meus sentimentos e escolhas, e encontraram eco nesse momento delicado e santo da Vida Consagrada tão agitada pelas ideologias e medos”, comenta o monge Beneditino Camaldolense, Cristiano de Oliveira Sousa, OSB Cam. E complementa: “Aquele ‘avante’ proferido pelo Papa tem uma substância vital que precisa ser metabolizada por nós. Estou ainda refletindo sobre esse ‘em frente’. Ajuda a humanizar e a recobrar o ânimo pela missão e a vocação”.
Desde Brasília, a presidente da CRB Nacional, Irmã Maria Inês Vieira, agradeceu a todos que estiveram na Praça São Pedro e ao RBR pela comunhão. “O gesto do Papa Francisco mencionando vocês em comunhão conosco e depois se dirigindo a nós, foi fantástico. Emocionou o Brasil”.
Irmã Cláudia Camara, das Irmãs Salvatorianas, recorda que as palavras de Francisco “sempre encorajam e animam a seguir em frente com renovada esperança. Sou muito grata por ter participado deste momento, ter encontrado tantas religiosas e religiosos que vibram pela missão ao celebrarmos juntos o nosso dia. Que possamos manter sempre esta unidade entre nós e compartilhar da vida que se faz missão através de nossa doação”.
Esse mesmo sentimento contagiou todo o grupo, conforme ressalta a Irmã Helena Marques Pimenta, das Irmãs Palotinas. “Somos gratas por esta oportunidade de celebrar o dom da Vida Religiosa, com a bênção do nosso Papa Francisco. Foi um momento de particular emoção e motivação. A Mãe Aparecida é o Modelo da Vocação por excelência. Com ela pudemos evidenciar a particularidade de ser brasileiros: na alegria e na dor, mas firmes na opção. Queremos continuar ouvindo aquele ‘avante’”.
Reunir diante da Basílica de São Pedro representou um testemunho público e causou um impacto positivo, conforme avalia a Irmã Isair Barbaro, das Filhas do Amor Divino. “Sentimos uma nova efusão do Espírito Santo, onde não existem distâncias e nem barreiras para a revelação do amor de Deus, a solidariedade e a esperança. Este foi também um grande testemunho público, pois muita gente nos fotografou”. Segundo a religiosa, esses momentos deveriam se repetir, sobretudo nesta fase sofrida da história em que o mundo, em especial o Brasil, enfrenta esse terrível coronavírus.
Nesse sentido, as máscaras nos rostos dos religiosos e religiosas, mostraram solidariedade e sintonia com os que mais sofrem nessa pandemia.
Com o tema “Amadas e amados, chamadas e chamados por Deus”, a Semana Nacional da Vida Consagrada segue uma programação especial e iniciativas em todos os Regionais da Conferência dos Religiosos no Brasil (CRB). Confira a programação (AQUI).
Por padre Jaime C. Patias, Conselheiro Geral dos Missionários da Consolata