Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

            A Igreja tem presente a juventude na ação evangelizadora, como parte integrante da missão, pois ela conta com os batizados, batizadas, jovens para levar a boa nova do Reino de Deus, de Jesus Cristo para toda a humanidade. Os primeiros séculos do cristianismo deram à juventude uma atenção especial devido ser a parte da comunidade e da sociedade com maior força e vitalidade. A Igreja faz hoje a opção pelos jovens em vista da renovação da comunidade e da sociedade. É por causa de Cristo que a Igreja assume os jovens para que todos vivam na paz e no amor. O Senhor chama os jovens para uma missão, de modo que ele seja anunciado e amado junto aos outros jovens e junto ao povo de Deus.

A Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB está fazendo uma missão na Prelazia de Tucumã, na parte Sul do Pará, na região Norte, de 15 a 25 de Julho, fazendo parte da Amazônia. A Diocese de Marabá acolhe os jovens que vieram de outros lugares do Brasil para esta importante missão, para ir ao encontro de outras pessoas, de outros jovens para evangelizar e serem evangelizados. A seguir veremos como a Igreja antiga e atual colocou os jovens nesta perspectiva de atenção, de valorização ao seguimento do Senhor no mundo em que vivem os jovens, também em vista da missão.

Aproximação com os jovens.

São Basílio Magno, bispo de Cesaréia, hoje na Turquia, século IV foi um dos únicos santos padres da Igreja que dedicou aos jovens uma atenção especial pela vida que eles levavam na sociedade imperial[1]. Muitos eram os motivos ao escrever para eles uma obra e dar aos mesmos, alguns conselhos que seriam de benefício no momento em que eles os aceitassem com fé e com amor. Como bispo, ele manifestou o desejo de estar próximo deles, encontrar-se vizinho a eles, logo após os seus pais, para dar-lhes um afeto todo particular[2].

Discernimento na escola.

São Basílio aconselhou aos jovens cristãos que iam às escolas pagãs, para que recebessem uma educação geral, sobretudo de autores pagãos, e tivessem o discernimento de suas doutrinas, a fim de que eles acolhessem as coisas melhores que os professores diziam e descartassem as coisas que não lhe convinham para as suas vidas de seguidores e de seguidoras de Cristo e da Igreja[3].

A vida presente passa de uma forma rápida, de modo que o bispo de Cesareia aconselhou os jovens para agarrar-se às coisas eternas. Tudo deve ajudar para alcançar a esta vida. É claro que a vida presente tem o seu devido valor, para ser bem vivida nos diversos ambientes que os jovens eram inseridos, apontando sempre à vida futura, a eterna[4].

Os bens da vida presente e da vida futura.

O bispo de Cesareia também falou da importância dos bens presentes que são meios em vista daqueles da vida futura. Eles servem para amar o próximo e a Deus. No entanto os bens desta vida estão longe pelo seu devido valor aos bens eternos pelo fato de serem sombra e sonho da realidade atual[5]. À vida futura conduzem as palavras das Sagradas Escrituras que sempre admoestam mediante os valores da conversão. As diversas doutrinas do mundo, sendo purificadas levam a preparação da alma com a vida com Deus[6]. O jovem cristão tirará da sabedoria pagã o melhor para uma vida conforme o evangelho do Senhor[7].

O valor dos poetas pagãos em vista do cristianismo.

São Basílio reforçou a idéia de que é preciso seguir os poetas, mas que tudo fosse à vista do seguimento a Jesus Cristo, à religião cristã. As narrações dos poetas, quando apresentavam fatos ou ditos de seres humanos excelentes, livremente seriam acolhidos, seguidos com o espírito de emulação e imitados. No entanto quando passavam para representações de seres humanos perversos, deveriam ser evitados porque não mereceriam o testemunho de vida[8]. Mas quando os poetas fizessem o elogio da virtude, do dom de Deus, deveriam ser imitados pelos jovens em vista do bem a ser feito neste mundo e um dia na eternidade[9].

Os jovens são as pessoas do agora de Deus.

No mundo atual existe a palavra do Papa Francisco, colocando a importância dos jovens que são o agora de Deus. Eles não sejam apenas o futuro do mundo, mas vivam o presente, enriquecendo com sua contribuição para o mundo melhor. O jovem participa junto com os adultos no desenvolvimento da família, da sociedade e da Igreja[10]. O pontífice ainda teve presente que o olhar atento para quem deseja ser guia dos jovens consiste em encontrar a pequena chama que ainda arde, e ainda ela não quebrou. É a capacidade de encontrar caminhos onde os muros sejam derrubados, para que vejam as habilidades, as possibilidades, superando as dificuldades. É o olhar de Deus Pai que nutre as sementes de bem semeadas nos corações dos jovens. O Papa ainda afirma que o coração de cada jovem é considerado terra sagrada, portador de vida divina, para assim a pessoa se aproximar do Mistério do Altíssimo[11].

Realidade de muitas juventudes.

O Papa Francisco disse que os padres sinodais reforçaram a beleza de ser Igreja universal pela realização do sínodo sobre os jovens. É preciso destacar um contexto de globalização crescente, as diferenças entre as culturas, uma pluralidade de mundos juvenis, de modo que se fala de juventudes no plural[12].

O Papa pede a todos para que as pessoas se unam aos jovens que passam por problemas familiares, comunitários e sociais, sofrem formas de marginalização, e de exclusão social por motivos religiosos, étnicos ou econômicos. É fundamental como Igreja estar ao lado dos jovens, para que esta seja uma Igreja mais maternal, e em vez de matar, aprenda a dar à luz, ocorrendo o dom da vida. Se a gente chora os jovens que morrem pela miséria e pela violência, é fundamental que a sociedade aprenda ser com os mesmos, mãe solidária[13].

A missão dos jovens.

O Papa Francisco afirmou que os jovens gostam da missão, porque a missão está ligada à juventude. Ainda que alguns jovens sejam frágeis, limitados, feridos, vão ser missionários à sua maneira, pela comunicação do bem, mesmo que conviva com fragilidades. Uma missão popular sempre é oportunidade dos jovens viverem a alegria da vida e do anúncio de Jesus Cristo. A Pastoral Juvenil é uma pastoral de missão, pois é o próprio Espírito Santo que ilumina os jovens para a missão em Jesus Cristo na unidade com o Pai. É bonita a ação dos jovens visitarem as casas, tomarem contato com a vida do povo, olharem a família e assim eles compreenderem a vida de uma forma bem mais ampla, com a fé, a pertença à Igreja, a esperança, a caridade, a vocação para um sacramento é fortalecida[14].

Jesus chamou jovens para o seguirem que se tornaram seus discípulos, apóstolos. Hoje ele chama jovens que tenham um coração disposto a segui-lo e proclamá-lo aos outros. A missão é dom de Deus e é também responsabilidade humana, para que os jovens sejam dedicados ao serviço da evangelização na família, na comunidade e na sociedade. É preciso dar o apoio aos jovens para a missão de anunciar aos outros a palavra de Cristo, a valorização dos sacramentos à vida cristã e o engrandecimento do Reino de Deus.

 

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[1] Basilio di Cesarea. Discorso ai giovani, a cura di Mario Naldini. Firenze, Nardini Editore, 1984.

[2] Cfr. Idem, 1,1-3, pg. 81.

[3]  Cfr. Idem, 1, 6, pg. 83.

[4] Cfr. Idem, II, 3, pg. 85.

[5] Cfr. Idem II, 5, pgs, 85-87.

[6] Cfr. Idem, II, 7, pg. 87.

[7] Cfr. Idem, III, 1-2, pg. 89.

[8] Cfr. Idem, IV, 1-2, pg. 91.

[9] Cfr. Idem, V, 1-2, pgs. 95-97.

[10] Cfr. Papa Francisco. Exortação Apostólica Christus Vivit, 64. Brasília, Edições CNBB, 2019, pg. 31.

[11] Cfr. Idem, 67, pg. 32.

[12] Cfr. Idem, 68, pg. 32.

[13] Cfr. Idem, 74-75, pgs. 34-35.

[14] Cfr. Idem, 239-240, pg. 102.