JESUS CRISTO É O BOM PASTOR, SEGUNDO SANTO AGOSTINHO

por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá 

A Igreja refletiu no quarto domingo da Páscoa e na semana seguinte a boa nova de Jesus do bom Pastor no evangelista São João (cf. Jo 10,1-18), A figura é bem percebida no mundo de hoje e na vida eclesial, nos quais os ministros sagrados e todas as lideranças são chamados a viver o pastoreio de Jesus na família, na comunidade e na sociedade. Ele conhece as suas ovelhas e as ovelhas o conhecem (cf. Jo 10, 14). Jesus dá a vida para elas para que tenham sempre mais vida e vida em plenitude (cf. Jo 10, 10). Veremos a seguir estes dados em Santo Agostinho, bispo de Hipona, nos séculos IV e V no Norte africano[1].

Jesus é o bom Pastor (cf. Jo 10, 11).

Jesus é o bom Pastor que está em comunhão com o Pai, com o seu pastoreio e que vive a dimensão da bondade infinita, carregada de paz e de amor para com as suas ovelhas. Segundo o bispo de Hipona, Jesus é o bom pastor em relação às ovelhas, pelo fato de que elas pertencem a Ele e porque elas estão em unidade com o seu Pastor. Ele vai adiante delas e as ovelhas conhecem a sua voz (cf. Jo 10,4). Ele é bom porque as ama e também pelo fato de que as conduz para a vida eterna sabendo que ele não quer que nenhuma delas se perca, mas elas vivam para sempre[2].

Jesus é a porta (Jo 10,9 ).

Para Santo Agostinho Jesus é a porta das ovelhas, porque Ele é o Pastor verdadeiro, capaz de dar sempre a sua vida pelas ovelhas[3]. Ele sendo Ressuscitado dos mortos pelo Pai vai adiante das ovelhas porque a morte não tem domínio sobre ele, de modo que a venceu para sempre[4]. A pessoa entra e sai pela porta e encontra pastagem (cf. Jo 10, 9). Ela, a pessoa entra na Igreja pela porta que é Cristo, pela meditação das coisas de Deus e sai para o serviço aos outros, e a Deus[5]. A entrada por Cristo é o pensamento de acordo com as virtudes teologais, pela fé, esperança e caridade e sai em unidade com Cristo para realizar as obras de amor[6]. Jesus é a porta que leva as pessoas para a vida eterna (cf. Jo 10,9). As pastagens referem-se para aqueles que tem fome e sede de justiça (cf. Mt 5,6).Ele mesmo vem ser a porta, o Pastor, segundo Santo Agostinho, que entra e saia também através de si mesmo vindo a ser Jesus também o porteiro[7], pelo fato de que a porta é aquilo pelo qual a pessoa entra e o porteiro é aquele que abre a porta[8].

A escuta da voz do bom pastor

A palavra de Jesus onde ele diz que é bom pastor refere-se às ovelhas presentes e as futuras, a todas aquelas que vierem a ser ovelhas. Todas escutam e escutarão a voz que diz que Jesus é o bom pastor (cf. Jo 10,11). A palavra bom não se acrescentaria se não houvesse segundo Santo Agostinho, pastores maus[9], sendo estes ladrões, salteadores, mercenários. O bispo distinguiu os nomes entre os bons que são a porta, o porteiro, o Pastor e as ovelhas e entre os maus visualizam-se os ladrões, salteadores, mercenários e o lobo[10].

Jesus é Pastor como é ovelha

O bispo de Hipona afirmou que Jesus é tanto Pastor como ovelha. Como é lido no Evangelho de São João Jesus disse que Ele é o bom Pastor, suscitando também a pergunta onde aparece que ele é a ovelha? A palavra de Deus disse que o Servo foi conduzido como ovelha a ser imolada (cf. Is 53,7). Uma grande semelhança existe entre o cordeiro, ovelha e os pastores por serem estas realidades unidas por um vinculo de amizade[11], na pessoa de Jesus como Pastor e ovelha para ser imolada em vista da salvação de toda a humanidade.

Os mercenários

Santo Agostinho teve também presentes, segundo a palavra de Jesus a realidade dos mercenários, que fogem ao ver o perigo e o lobo chegarem (cf. Jo 10,12-13). Eles buscam os próprios interesses, não os de Jesus Cristo (cf. Fl 2,21). Eles não amam a Cristo gratuitamente, não buscam a Deus por causa de Deus, mas perseguem benefícios temporárias, sempre aspirando lucros, indo atrás de honrarias da parte dos seres humanos[12]. O Senhor disse também aos seus seguidores e seguidoras sobre a necessidade de não serem mercenários, mas bons pastores, porque pelos seus frutos as pessoas conhecerão que tipo de pastores são na realidade (cf. Mt 7,16). Por isso é preciso viver a mensagem de Jesus na realidade atual.

Os pastores em unidade com o único Pastor, Jesus

Santo Agostinho afirmou que os apóstolos foram pastores em unidade ao único Pastor, Jesus. Eles se regozijavam naquela Cabeça, viviam fortalecidos por um só Corpo num só Espírito, pertencendo todos ao único Pastor, Jesus[13]. Todos as pessoas que vieram depois dos apóstolos são chamados a viver a unidade no Pastor que é o Senhor Jesus. Santo Agostinho convidou a todos os pastores para que apascentam bem as ovelhas nas pastagens do Senhor e ao mesmo tempo sejam apascentados[14], evangelizam e também sejam evangelizadas pelas ovelhas do Senhor e como Jesus dêem as suas vidas pelo rebanho do Senhor e à glória de Deus Uno e Trino.

[1][1] Cfr. Comentários a São João I. Evangelho – Homilias 1-49. Tradução:Ir. Nair de Assis Oliveira, CSA (+), Luciano Rouanet Bastos. In: Santo Agostinho. São Paulo: Paulus 2022,

[2] Cfr. Idem, pg. 897.

[3] Cfr. Ibidem, pg. 901.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 897.

[5] Cfr. ibidem, pg. 898.

[6] cfr. Ibidem, pg 898.

[7] Cfr. Ibidem, pg. 899.

[8] Cfr. Ibidem, pg. 904.

[9] Cfr. Ibidem, pg. 901.

[10] Cfr. Ibidem, pg. 901.

[11] Cfr. Ibidem, pg. 903.

[12] Cfr. Ibidem, pg. 905.

[13] Cfr. Ibidem, pg. 910.

[14] Cfr, Ibidem, pg. 912.

Artigos Anteriores

A AMIZADE SEGUNDO SANTO AGOSTINHO

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá A amizade é um dos grandes valores da vida humana e divina (cfr. Ecl 6,14). Ela condiz com o mandamento da lei do Senhor pelo amor a Deus, ao próximo como a si mesmo (cfr.Mt 22,37-39). Jesus disse para os seus...

A PARÁBOLA DO HOMEM RICO E DO POBRE LÁZARO EM SANTO AMBRÓSIO

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá  Jesus contou para os seus discípulos a parábola do homem que tinha muitas riquezas, e de uma pessoa muito pobre, Lázaro (cfr. Lc, 16,19-31). Os dois estavam próximos e ao mesmo tempo distantes. O Senhor quis dizer...

O REINO DE DEUS COMO O GRÃO DE MOSTARDA EM SANTO AMBRÓSIO DE MILÃO

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá             Jesus ensinava com muita freqüência aos seus discípulos e ao povo por meio de parábolas, comparações a respeito do Reino de Deus, que se faz presente aqui e agora e um dia na eternidade. Era a forma para...

A VIRTUDE DA CARIDADE EM SÃO JOÃO CRISÓSTOMO

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá São João Crisóstomo foi bispo de Constantinopla no final do século IV e início do século V, sendo uma das importantes expressões do episcopado da Patrologia Grega, o Oriente. As suas homilias encantavam o povo de...

A HOSPITALIDADE NA REGRA BENEDITINA EM SÃO LEÃO MAGNO

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá A hospitalidade é uma atitude bíblica que coloca a presença de Deus na vida da pessoa que vem de longe ou de perto para a residência humana para pedir ajuda, consolo, uma palavra de esperança e de amor. No dia do...

O CONCÍLIO DE NICÉIA E A UNIDADE DO PAI E DO FILHO

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá O ano 2025 lembra os 1700 anos de Nicéia realizado em 325 em um grande Concílio, convocado pelo Imperador Constantino, onde foi reafirmada a divindade do Filho, diante da negação ariana que o Filho não fosse Deus. O...

O MISTÉRIO DE DEUS UNO E TRINO EM SANTO AGOSTINHO

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá Nós acreditamos em Deus Uno e Trino que se manifestou seja pela Sagrada Escritura, o Antigo Testamento, seja por Jesus Cristo, pelo Novo Testamento. É claro que pela noção do Antigo Testamento nós temos mais uma...

A HOSPITALIDADE NOS SÉCULOS IV E V

  por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá A acolhida é um dom divino e é também um dos compromissos dos fiéis seguidores e seguidoras do Senhor Jesus, uma vez que Ele quer ser amado por todas as pessoas mas sobretudo por aquelas mais necessitadas,...

O EXEMPLO DE SANTO AGOSTINHO EM RELAÇÃO À HOSPITALIDADE

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá Santo Agostinho viveu no Norte da África e atuou como Bispo de Hipona de 396 a 430. Foram mais de trinta anos na direção da Igreja de sua Diocese e também em toda a região, juntamente com outros bispos, sacerdotes e...

A ACOLHIDA NO TEMPO ATUAL E NA VIDA DA IGREJA NO SÉCULO IV

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá A acolhida é uma atitude da vida humana e cristã. Ela coloca a importância de vivê-la na realidade das pessoas, com o intuito de ajudá-las, pois ela faz-nos entrar em contato com o Senhor Jesus. Ele espera de nós...

A SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR NA IGREJA ANTIGA

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá O evangelista São Lucas pelo outro seu livro, os Atos dos Apóstolos (cfr. At 1,9-11) descreveu a Ascensão do Senhor Jesus, quarenta dias após a sua ressurreição no Monte das Oliveiras (cfr. At 1,3,12). A Igreja dos...

SANTO AGOSTINHO: SEGUIDOR DO SENHOR, DA IGREJA E DO REINO DE DEUS

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá Os estudos sobre Santo Agostinho são muito abrangentes, englobantes tornando-se quase impossível dar uma idéia de seu pensamento, prática pastoral e eclesial. A sua influência tornou-se grande nos séculos passados,...

O SENHOR, O CRIADOR DE TUDO E A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá Nós meditamos a Campanha da Fraternidade 2025 sobre a Ecologia Integral, pelo fato de que todas as pessoas cuidem da Casa Comum, e sejam guardiões da mesma. O poder dado pelo Senhor ao ser humano é percebido como...

A SABEDORIA DE DEUS NA CRIAÇÃO E A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá Nós estamos na Quaresma e na Campanha da Fraternidade 2025, organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), meditando a Palavra de Deus realizada na criação. Nós percebemos a sabedoria de Deus em...

A HARMONIA DO UNIVERSO E A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá Deus criou as suas obras de uma forma maravilhosa, bonita, de modo que ao encerrá-las, Ele disse que tudo era muito bom (cfr. Gn 1,31). Uma harmonia é existente entre as criaturas pois tudo se alterna para o bem das...

O SEXTO DIA DA CRIAÇÃO E A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

por Dom Vital Corbellini Bispo da Diocese de Marabá Deus viu que tudo era muito bom (Gn 1,31). Este lema da Campanha da Fraternidade 2025 ajude-nos a ver na criação a beleza das coisas, pois Deus criou o universo, os seres vegetais, espirituais, animais e humanos com...