Dom Antonio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém

LÍDER: SEMEADOR DE ESPERANÇA E OTIMISMO (Parte 15)

Introdução:

O autêntico líder não é aquele que simplesmente manda, mas sobretudo, é quem alimenta esperança e nutre o otimismo nos seus liderados! Para que isso aconteça ele deve continuamente, não somente considerar o passado, mas estar atento ao presente (com suas riquezas e fragilidades) e manter sua cabeça erguida para o futuro.

O bom líder traz na mente e no coração, boas ideias e projetos, também energia e visão estimulando os liderados a olhar para frente, a encarar desafios com otimismo, firmeza e coragem. A sua missão não é aquela de ser um “crítico cobrador”. Liderar é despertar nos outros o crer naquilo que é possível!

Vivemos numa cultura marcada pelo pessimismo; isso pode contaminar a mente de muitos líderes que, facilmente, deixam de vibrar, sonhar, inquietar-se. O aniquilamento de um líder acontece quando ele perde a esperança, ânimo, o testemunho da alegria e do otimismo que devem naturalmente brotar da sua fé. Líderes desanimados promovem um mal devastador em seus liderados.

 

  1. Movidos pela força da Esperança

Nos anos ’70 o sociólogo francês François Lyotard batizou a era contemporânea como “pós-modernidade”. Segundo ele a modernidade foi o período compreendido entre a época medieval até os séculos dos grandes sonhos e transformações que promoveram a revolução científica, técnico-industrial, a política e a cultural (Sec. IX). Após os anos sessenta do século XX, segundo Lyotard, surgiu no mundo ocidental um vazio de grandes sonhos que ele chamou de “meta-narrações”: tempo do fim das grandes utopias e caracterizado pelas incertezas, crises, instabilidade, insegurança, desorientamento, ausência de referências seguras, pessimismo.

Todavia, nesse mesmo período a Igreja proclamou profeticamente a esperança, a alegria e o otimismo (cf. GS, 1). A Igreja movida pela Esperança que brota de Cristo Ressuscitado, continua a crer e a promover o sonho do Reino de Deus porque não vive sem as utopias. Sem a utopia da Civilização do Amor e da justiça a fé se esvaziaria, perdendo sua tensão. Por isso, o líder pastoral, sonha, olha para a frente, contempla o que já existe, mas imagina o que falta e projeta comunitariamente o que é possível realizar.

A esperança é uma virtude capital, geradora de outras virtudes! Portanto, onde há esperança, há também, alegria, confiança, entrega, serenidade, otimismo, entusiasmo, firmeza, animação, sonhos, projetos.  São realidades profundamente relacionadas ao serviço de liderança. Lidera, de fato, quem é capaz de alimentar a esperança, estimular o otimismo, promover a inquietudes, afugentar o pessimismo, consolidar a firmeza no coração dos liderados. São atitudes que emergem do natural dinamismo da Fé, da Esperança e do Amor. A virtudes teologais são integradas entre si.

 

  1. O mal do pessimismo

Quando nos falta a energia que nasce da esperança nos tornamos reféns do desânimo, do desespero, da tristeza, da síndrome do fracasso. A ausência da esperança nos leva ao derrotismo, a sermos prisioneiros do medo e cegos diante das oportunidades. Quem está desanimado não pode liderar porque já perdeu aquilo que caracteriza o serviço de liderança, que é aquele de dar manutenção ao ânimo dos liderados para que possam viver com alegria, entusiasmo, coragem, firmeza de ânimo, resistência ao mal.

O pessimismo liquida as utopias, porque se viciou a viver da renda dos juros do passado; sendo assim, lamentavelmente só conserva e dá o mínimo de manutenção ao que já existe. Por isso, o Documento de Aparecida convoca os líderes da Igreja para que, animados pela conversão pastoral, superem a “pastoral da conservação” e abracem uma postura decididamente missionária (cf. DA,370).

Líderes pastorais desanimados, porque são pessimistas, prestam um grave desserviço à Igreja, porque não sentem o compromisso do dever avançar; sem avanço não há progresso, crescimento, expansão, amadurecimento, conquistas. Os pessimistas em geral, para justificar o que não fazem, dizem que já foi feito o que se devia, não há necessidades, ou não dá para avançar porque não é possível e apelam para a falta de meios, carência de recursos, ausência de ajuda, incapacidade pessoal.

Na verdade, quando falta a inquietude no coração de um líder, ele perde a paixão, a vontade de lutar, e por isso, não se doa, evita sacrifícios. O pessimista, acometido pela síndrome do derrotismo, é muito mais que um conformista e acomodado. É na verdade um egoísta e narcisista, porque está plantado na sua auto referencialidade e não é capaz de deixar-se conduzir pela fé, nem pela força da comunhão e solidariedade da Igreja, muito menos pelo Espírito Santo que tudo conduz e dá vida! É por isso que, quando um líder pessimista deixa seu posto de serviço, em geral, logo acontece um forte movimento de transformação naquele ambiente. Isso é sinal de que o problema não estava nos liderados.

 

  1. Estímulos Bíblicos

Uma das mais significativas atribuições dos líderes e autoridades é animar os liderados. Vamos encontrar essa atitude em muitos líderes na Bíblia. Abraão é otimista (cf. Gn 18,16-36); Moisés, confiando em Deus e com bom ânimo, abraça um projeto humanamente impossível; a Josué, que foi o sucessor de Moisés, Deus lhe diz: “Seja forte e corajoso, pois você conduzirá os israelitas à terra que lhes prometi sob juramento, e eu mesmo estarei com você” (Dt 31,23).

No livro do Levítico uma das funções do sacerdote era aquela de manter o fogo do altar acrescentando-lhe lenha a cada manhã para que ardesse sem nunca se apagar (cf. Lv 6,5-6). Esse é o serviço mais desafiador de um líder, alimentar o fogo das pessoas, sobretudo quando elas passam por crises, dificuldades, problemas pessoais, para que não desanimem se aceitarem a ser desafiadas.

Todos os profetas de Israel, enquanto intérpretes da vontade de Deus, foram animadores da fé do povo porque “Ele não se cansa, nem se fatiga, e sua inteligência é insondável. Ele dá ânimo ao cansado e recupera as forças do enfraquecido” (Is 40,28-29). O profeta Ezequiel, em estilo de parábola, estimulou o povo a superar o desafio do desânimo (cf. Ez 37).  Por muitas vezes, Jesus dizia às pessoas beneficiadas, palavras animadoras como: coragem, ânimo, levante-se, não tenham medo etc. (cf. Mt 9,2.22; Mt 14,27; Jo 16,33). Também os apóstolos foram otimistas líderes animadores do povo, como São Paulo dizendo: “Alegrem-se sempre no Senhor, repito, alegrem-se”! (Fl 4,4), e dava seu testemunho de superação: “tudo posso Naquele que me fortalece” (Fl 4,13).

 

  1. Smeagol, o avesso do líder

No filme “O senhor dos anéis” há um personagem muito feio, estranho, isolado, triste, infeliz, negativista, que vive na penumbra das cavernas e a tudo deprecia; que tem como marca do seu comportamento estimular o desencanto, o desânimo e incutir o medo nas pessoas desafiadas a cumprir alguma missão. Esse é o Smeagol! O pessimista é um Smeagol! Ele não reflete, não dialoga, não sonha, não tem inquietudes, não vê possibilidades, não tem projetos; só rosna e murmura buscando desanimar e amedrontar os outros.

Esse personagem é o contrário do líder e representa para toda a humanidade uma advertência: não cair na tentação do desânimo e do derrotismo diante das possibilidades positivas. O nosso Smeagol pode ser o medo, o pensamento de que tudo depende de nós (isolamento), a tentação da não preocupação com os outros, o temor da luta etc.

O líder pessimista gera desinteresse, desligamento, afastamento das lutas, comodismo generalizado, apatia, inércia. O líder otimista promove a esperança, o desejo de luta, a sensibilidade empreendedora, a conectividade entre as pessoas, a disponibilidade, a perseverança, o senso de corresponsabilidade, o desejo de desenvolvimento.

Enfim, o líder otimista torna-se fonte de inspiração, educa para a percepção de oportunidades, anseio por significatividade, motivação para vencer. Quando o pessimismo contamina a mente e o coração de um líder, e isso não se esconde, pois logo se manifesta através das suas palavras, gestos e atitudes, é sinal de que a sua capacidade de servir como líder terminou, porque está desconectado do Espírito do Ressuscitado que anima, educa, fortalece, inspira, provoca o novo, lidera a Igreja.

Concluamos esta reflexão com estes estímulos do Papa Francisco presentes na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: “Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre. Ninguém pode empreender uma luta, se de antemão, não está plenamente confiado no triunfo. Quem começa sem confiança, perdeu de antemão metade da batalha e enterra os seus talentos” (EG,85). “Sejamos realistas, mas sem perder a alegria, a audácia e a dedicação cheia de esperança” (EG, 109). O líder é um semeador de esperança e otimismo!

 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Você acha importante que os líderes testemunhem senso de animação, esperança e otimismo?
  2. Quais são as consequências de um líder pessimista?
  3. Você já assistiu as atitudes de Smeagol, o que isso lhe provocou?