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por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
Na noite desta sexta-feira (27), às 18h30, no auditório da Ordem dos Advogados do Amapá – OAB-AP, foi realizada a ‘Acolhida Cultural’ ao novo bispo da Diocese de Macapá, Dom Antônio de Assis Ribeiro.
Marcado pela presença das diferentes formas culturais do estado como os movimentos populares da cidade, quilombolas, grupos de Marabaixo, Batuque, ribeirinhos, comunidades tradicionais e os povos dadas florestas e das águas, o evento contou com a presença do povo de Deus, convidados, familiares, padres e religiosas, que se emocionaram com as expressões de carinho ao novo bispo.
Elisia Congós, presidente da União dos Negros do Amapá – UNA, falou da representatividade de acolhida a Dom Antônio “é um momento importantíssimo até porque nós estamos acompanhando Dom Antônio desde a chegada no aeroporto com a cultura mãe do Estado do Amapá, e muito melhor ainda porque nós já ouvimos dos lábios da boca de Dom Antônio dizer que ele adora a parte cultural, adora os ribeirinhos, adora os quilombolas. Então, esse momento é gratificante e vai ser sempre gratificante porque nós estamos com um amazônida. A gente se sente honrada neste momento e a gente só tem agradecer a Deus por ter mandado Dom Antônio para cá”, disse Elisia, muito feliz.
Dom Antônio recebeu homenagens de várias entidades, organizações e grupos convidados presentes, como de Aldenice do Espírito Santo Monteiro, do Grupo Gardiões Ambientais Ribeirinhos, que com a voz trêmula de emoção deu as boas-vindas pedindo que ele caminhasse firme a frente do povo amapaense com seu cajado, guiando-os com fé e devoção em cada gesto e elevando os corações, em especial com comunidades que muitas das vezes passavam seis meses sem a presença de um sacerdote, mas sempre animados pela força do Evangelho.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Amapá – OABAP, Israel Gonçalves da Graça, falou da alegria, que toda a instituição sentia em receber o novo bispo de Macapá não somente no Estado, mas em especial, naquela noite, naquela instituição, que o acolhia com o carinho do povo amapaense.
A professora e escritora Piedade Lino Videira, que também é militante do movimento das mulheres negras, falou das mais variadas crenças das família em um contexto cultural onde nada se opõe a benzedeira, curandeira, banho de ervas, das várias religiões de matrizes africanas e que seu povo entende que todos estão de passagem, que todos possuem seus valores, tem respeito e fé e estão em suas escalas evolutivas, em conexão com suas ancestralidades quando tocam seus tambores de batuca e a caixa de mar abaixo “e é neste batuque no interior das calas que nós o recebemos com muito carinho e amor no coração, e pedimos ao senhor que venha conviver conosco para conhecer os caminhos dessa itinerância dos rios dos igarapés, das vielas. Conhecer a população que vive a míngua do Estado, às custas dos benefícios sociais e nós não queremos mais viver assim. Somos otimistas, mas sabemos nos proporcionar e esperamos do senhor essa propagação da Paz, da harmonia, do respeito e da fé, que ela não esteja apenas no santo ou dentro do espaço religioso, mas em nossas casas, dentro de nós. Seja bem-vindo, Dom Antônio”, pediu com coração a professora.
Jorge Ferreira Figueiredo, mestre da cultura popular, o quadrilheiro mais antigo de Macapá, saudou o novo bispo “venho saudar Dom Antônio de Assis nesse momento de renovação de fé e do com promisso com o amor ao próximo, valor fundamental para todos, independentes das nossas crenças ou tradições espirituais. Queremos reafirmar o nosso compromisso com a convivência pacífica e o respeito à diversidade religiosa nessa cidade, no nosso estado e no nosso país, territórios de muitas expressões de fé, porém com uma luta incansável contra a desigualdade, racismo e intolerância religiosa. Que seja construído um mundo de respeito, equidade e justiça com sua chegada, Dom Antônio, os inquices os voduns e os orixá e os guias espirituais e todas as forças que regem o universo lhe abençoe e lhe guie neste caminho de união e de respeito. Seja bem-vindo ao nosso estado e um grande axé em seu coração”, disse o mestre da cultura.
O Pastor Felipe Ferreira de Oliveira, representando as Comunidades Evangélicas, falou aos presentes sobre fé, catolicismo e superação “Dom Antônio, seja bem-vindo em nome de Jesus, quero aproveitar para dar um testemunho. Eu peguei um câncer e passei pelo vale da sombra da morte, dias terríveis até ser desenganado pelos médicos. Mas todos os dias, às três da tarde, eu me levantava, na hora da visita e aguardava, e nenhum irmão da minha igreja ou um parente ia me visitar, somente minha esposa e filhos. Mas eu tive um amigo fiel, um padre que visitava os doentes que levava diariamente a hóstia e o vinho. Eu lhe digo Dom Antônio, eu sentia a presença do Espírito Santo na minha vida. Um dia fui convidado a visitar a capela do hospital e fui me arrastando com a enfermeira, e lhe digo em nome de Jesus, ao entrar o cabelo dos meus braços e cabeça se arrepiaram todos. Eu senti o Espírito Santo entrando em minha vida verdadeiramente. E a partir de então, diariamente eu passava pelo menos uma hora falando com Deus agradecendo por todos meus irmãos católicos que rezaram por mim. E hoje o meu testemunho é que eu estou aqui curado e já voltei ao trabalho. Quero te dizer que a minha luta, é a tua luta. E que o teu Deus que é o meu Deus, é muito bom. Sua chegada traz consigo a esperança de uma renovada missão de fé, acolhimento e amor para todos os filhos e filhas a esta diocese. Seja bem-vindo”, falou o pastor com muita emoção.
O advogado e cristão Jairo Pereira Santana Júnior, portador do espectro autista, levou uma mensagem muito importante de inclusão e acessibilidade “sua chegada traz consigo uma renovada missão de fé, acolhimento e amor para todos os filhos e filhas. Sabemos que sua sabedoria irá nos guiar e queremos expressar nossa confiança e apoio desejando que sua caminhada entre nós seja iluminada pela graça divina. Quero aproveitar e pedir de maneira especial, que como Bom Pastor, o senhor olhe com carinho e dedicação para todas as ovelhas do seu rebanho, em especial aquelas invisíveis aos olhos da sociedade. Refiro-me a nós irmãos e irmãs com o transtorno do espectro autista e pessoas com deficiência que merecemos ser abraçadas com muito mais amor, atenção e compreensão. Que o senhor possa ser um defensor de nossas necessidades, um abrigo, um acolhimento, um farol de inclusão, para que cada um de nós sinta-se parte da grande família de Deus. Que a diocese seja um exemplo de acolhimento não apenas aos autistas, mas PCDs e toda a comunidade de pais, mães, familiares de neuro divergentes, que possamos nos sentir amados e acolhidos. Que seu ministério possa fortalecer ainda mais os laços que nos unem como filho de Deus, e que Deus lhe abençoe abundantemente sua missão, amém”, clamou o jovem autista.
O indígena Glauber Wiyampo Tiryó, que não é oriundo de Macapá, mas de uma cidade próxima a Óbidos, do rio Comin, passando Orinar, que fixou moradia naquela comunidade desde 2005, contou que quem os catequizou foram os franciscanos “o senhor deve ter percebido que fiz sua saudação na minha língua, no meu idioma, e que estou vestido como manda nossa tradição. Logo que chegamos aqui buscamos por uma Igreja, pois tínhamos a necessidade de sermos acolhidos. Talvez o senhor possa nos ver de outra forma, mas nós somos do Pará, mas nos identificamos com o Amapá. Meus parentes estão lá atrás vestidos como o senhor, mas queremos dizer que esperamos que o senhor possa vir se vestir como nós, e nos chamar de parente, porque o senhor é parente. Seja bem-vindo”, disse o representante do povo Tiryó.
Representando a comunidade Israelita no Amapá, Samuel Távora, leu uma ‘colinha’, como ele mesmo se referiu a carta de boas-vindas a Dom Antônio, onde expressou a alegria de toda a comunidade judaica em recebê-lo como o novo bispo de Macapá “Congratulamos com muita alegria sua chegada a este ministério apostólico, os desafios virão mas como diz o salmista Davi ‘o choro pode durar toda uma noite mas a alegria virá pelo amanhã’, por isso desejamos somar convosco e lhe desejar muito sucesso missionário. Queremos como comunidade judaica, estreitar nossos laços de amizade e irmandade, cordialidade e parceria de diálogo e admiração pela causa abraçada pela fé católica legítima apostólica. Desejamos uma abençoada gestão frente a entidade religiosa coirmã do Judaísmo, colocando-nos a sua disposição. Shalom!”, despediu-se Samuel Távora.
Após as apresentações e homenagens a noite transcorreu com apresentações culturais, com músicas, representações religiosas, tradições marajoaras e amapaenses, apresentações dos Guardiões Ambientais Ribeirinhos, do Batuque da Comunidade do Ajudante-Mazagão, da Cavalaria de São Tiago e São Jorge, do Grupo Estrela do Norte, e como as danças que em alguns momentos convidaram Dom Antônio de Assis a fazer parte de suas comunidades, como quando recebeu um cocar do grupo Tiryó da Terra Indígena do Parque do Tumucumape e juntou-se a eles em sua dança festiva.
A Fazenda da Esperança, que atua desde 1983 no processo de recuperação de pessoas que buscam a libertação de seus vícios principalmente do álcool e da droga, em Macapá, transmitiu, através da apresentação, dos acolhidos, uma mensagem de superação e renovação, através de um verdadeiro espetáculo de fé e esperança.
Ao final da apresentação, Dom Antônio expressou sua gratidão “Caríssimos amigos, caríssimos irmãos o que, que eu posso dizer a vocês após essas apresentações todas? Quero dizer que me sinto emocionado eu vi, vejo, contemplo a beleza da cultura da riqueza dos valores culturais de vocês o Estado do Amapá tem uma riqueza maravilhosa que deve ser cada vez mais conhecida pelo Brasil.
Hoje de manhã me encontrando com meu cunhado que está ali, ele me dizia rapaz eu acho que eu vou é ficar aqui que terra boa, né? Então merece já um aplauso, né? Então é o impacto da acolhida, o impacto dos gestos afetivos desse calor humano fundamental, para quem chega. E isso é tipicamente de quem sabe amar, quem sabe acolher, sabe envolver, sabe fazer o outro, participar do próprio mundo, da própria cultura, do próprio coração, da própria mente.
Então, parabéns a vocês isso é inteligência, é inteligência afetiva, é inteligência cultural. Parabéns, neste evento nessa diversidade de manifestações de sujeitos. Eu vi um vasto Horizonte para qual a para com qual a Igreja deve ser sensível, a Igreja deve ser sensível para com as culturas indígenas, acolhemos com muito carinho os povos indígenas. Quero dizer a vocês que faremos tudo o possível para estar presente, presente no mundo de vocês, nas culturas indígenas nas comunidades e assim por diante. Essa é uma dívida que a igreja tem, por toda a história, em todo o contexto latino-americano nós temos essa dívida com os povos indígenas e tudo aquilo que nós podemos fazer para preservar a riqueza cultural a língua, os valores, nós faremos nada mais do que um dever. Um dever que todos os povos possam contar com uma presença mais revitalizada da igreja, nas comunidades indígenas.
Vi com muito apreço, com muita simpatia as manifestações afro, Padre Paulo, parabéns por essa sensibilidade tão significativa.
Quero dizer a vocês que a minha cor me diz que eu não sou puramente europeu, né? Então, estamos aí no mesmo barco na mesma cultura com a mesma sintonia. Contem comigo, tá bom? A minha família tem uma parte europeia portuguesas e a outra parte Africana e uma outra parte indígena. Eu tenho 30% de sangue europeu português, 30% indígena e 40% africano. Essa é a nossa riqueza do Brasil e a riqueza da Amazônia. Então, caríssimos irmãos e irmãs contem com a gente para ser irmão de vocês. Eu não sou político não tenho essa vocação e não estou aqui para fazer discurso estou dizendo que são campos de ação, são horizontes, são necessidades que fazem parte da missão da igreja. Então, onde quer que a igreja esteja, ela deve ser sensível a essas realidades humanas, realidades culturais.
E me vem agora a minha mente o primeiro número de um grande Documento da Igreja Católica que marca as novas relações do mundo de hoje a partir do ‘Vaticano I’, nós estamos nos anos 60 exatamente em 1965. Diz esse documento chamado ‘Gaudium et Spes’ onde as alegrias e as esperanças as tristezas e as angústias dos homens de hoje sobretudo dos mais pobres são também as alegrias e as esperanças as tristezas e as angústias dos discípulos de Jesus Cristo e não há nada que toque o coração humano, que não fira, que não faça Eco no coração dos discípulos de Cristo, ou seja da Igreja. Então, tudo aquilo que é profundamente humano interessa a Igreja, tudo aquilo que é profundamente humano saudável ético autêntico, certamente vai interessar ao bispo de Macapá e a todos os bispos que estão aqui, porque nós somos servidores de Deus e servidores da humanidade. Ajudem-me a ser um bom servidor de vocês, muito obrigado! Parabéns, caminhamos juntos!”, pediu Dom Antônio a todos os presentes.
O coordenador do evento, padre Paulo Roberto da Conceição, fechou a noite, pegando o gancho do final da fala de Dom Antônio e relembrou as alegrias e lamentos da cultura Cristã, da essência humana, do vir de onde vier sem perder a esperança e relembrou uma passagem do Evangelho “O senhor disse eu vi a aflição do meu povo que estava no Egito e eu ouvi os seus clamores, por causa de seus opressores. Sim eu conheço os seus sofrimentos’. Deus se encarnou e assumiu a nossa humanidade, o que era palavra virou história. Eu sou porque eles foram, eu me ergo porque eles marcharam, eu sonho porque eles ousaram”, e nesse sentimento relembrou aos presentes que a palavra maior de ordem entre a humanidade é o amor ao próximo “o amor é a maior expressão do coração de Deus”. Finalizando, citou São João Paulo I “Uma fé que não se torna cultura, é uma fé que não é verdadeiramente plena, aceita não inteiramente pensada, não fielmente vivida e que esta celebração, Dom Antônio, que o Senhor nos ajude a quebrar os grilhões que separam fé e vida, que separam a cultura do povo. Que o senhor possa nos ajudar a entender que não dá mais para a gente separar fé e vida, o que é profano e o que é sagrado porque tudo que Deus tocou é sagrado. Seja Bem-vindo!!
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