por Dom Pedro Jose Conti
Administrador Apostólico da Diocese de Macapá
Certa noite, quando o Mahatma Ghandi estava em Pretória, na África do Sul, passou perto da casa de alguns amigos cristãos. Resolveu fazer-lhes uma visita. Quando entrou na casa daquela família, viu que estavam reunidos em oração. Todos ficaram alegres, deram as boas-vindas ao amigo e resolveram deixar a oração para outro momento. No entanto, Ghandi pediu que não parassem: – Peço-lhes que continuem nas vossas orações. Aquele a quem vocês estão rezando é muito mais importante do que eu.
Com a Solenidade da Epifania continuamos a viver o clima do Natal. Desta vez são os Magos vindos do Oriente que nos conduzem ao encontro do Menino recém-nascido. Num estilo bem bíblico, ou seja, através de uma narração, o evangelista Mateus nos apresenta um grande anúncio: aquele que nasceu não será somente o “rei dos judeus” (Mt 2,2), será uma luz para todos os povos, para a humanidade inteira. Tudo contribui para esta boa notícia. Podemos começar pela estrela que guia os Magos. Ela representa o universo com a sua grandiosidade e o seu encanto. Contemplar as estrelas nos faz sentir pequenos e nos coloca na frente de algo ou de Alguém muito maior. Tudo já estava lá antes de nós e vai continuar depois que nós passarmos. A luz das estrelas desde a antiguidade serviu para orientar o caminho sobretudo aos navegantes. Quando não conhecemos a estrada ou não sabemos para onde ir, somos como alguém que caminha no escuro, precisamos de uma luz para não nos perder. Tudo deixa pensar que os Magos, dos quais sabemos somente que vieram do Oriente, fossem astrólogos, ou seja pessoas que interpretavam segundo os seus conhecimentos e as suas crenças a posição e os movimento dos astros. Eles dizem ter visto aparecer uma estrela e somente o nascimento de um rei pode explicar isso. Querem saber onde encontrá-lo. O curioso da história é que os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, convocados por Herodes, sabem onde devia nascer o Messias, mas não vão procura-lo. Ficam perturbados com a notícia. É evidente que os Magos, que vieram de longe, estão mais interessados do que eles para encontrar o recém-nascido. Por fim, o evangelista Mateus nos apresenta a cena de um encontro que é de adoração e profecia. Os três presentes dos Magos são um reconhecimento àquele que será reconhecido como um rei manso e humilde. Ele revelará a presença misericordiosa de Deus na história humana e dará o exemplo do maior amor porque entregará a sua própria vida na cruz. Esta página do evangelho da Epifania, está cheia de símbolos, memórias e cumprimento de promessas, é um anúncio de esperança para todos.
Foi numa casa que os Magos encontraram a criança com Maria sua mãe. Não foi no Templo e nem no palácio do rei. O que ela tinha de tão especial para a adorarem? Antes de responder que era o menino Jesus, vamos lembrar a profecia de Isaias 11,6-9: “o bezerro e o leão (inimigos por natureza) pastarão juntos, e um menino pequeno os guiará” (v.6). Aquela criança representa o que pode acontecer de realmente novo. Toda criança que nasce não é somente uma vida nova, é um novo projeto de pessoa, que poderá fazer algo inédito, surpreendente, talvez algo que antes parecia impossível. Toda criança tem tempo disponível à sua frente, poderá usar de forma nova a sua inteligência, a sua capacidade de amar, a sua criatividade e imaginação. Se não fosse assim a humanidade estaria repetindo somente as coisas do passado e nunca teria inventado nada de novo. Cada criança é um potencial ainda desconhecido, é o maior sinal de esperança para uma humanidade cansada ou prisioneira nos seus velhos planos de poder, de ganância e, infelizmente, ainda de violência. O menino da profecia conduzirá juntos os inimigos, abrirá veredas de paz. Pode fazê-lo porque para ele tudo é novo, o caminho está totalmente aberto à sua frente. Nós cristãos acreditamos que se Deus se fez criança e assumiu a nossa humanidade foi para começar algo novo e nos envolver neste plano de renovação. “Adorar” Jesus é mais do que reconhecê-lo Messias e Senhor, é confiar nele e colocar em prática o que ele veio nos ensinar. Ele é sim o mais importante. É o novo horizonte.