por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
foto Vatican News
Em meio às reflexões sobre o Jubileu 2025, o Pontífice destaca a importância de reconhecer a própria necessidade e fraqueza como caminho para a verdadeira liberdade e comunhão com Deus.
Na manhã desta quarta-feira, 3 de setembro, a Praça de São Pedro foi palco da Audiência Geral conduzida pelo Papa Leão XIV. Em sua catequese, o Pontífice discorreu sobre o significado profundo das palavras de Jesus na cruz “Tenho sede!” e “Tudo está consumado”, convidando os fiéis a uma reflexão sobre a humildade, a interdependência e a busca por amor e comunhão.
O Papa Leão XIV enfatizou que a sede de Jesus na cruz vai além da necessidade física, representando um desejo profundo de amor e relacionamento. Ele destacou que ninguém pode se bastar a si mesmo e que a vida se realiza quando aprendemos a receber e a confiar no outro, mesmo quando este se mostra hostil.
“A sede do Crucificado não é apenas a necessidade fisiológica de um corpo atormentado. É também, e sobretudo, expressão de um desejo profundo o de amor, de relação, de comunhão”, afirmou o Papa.
O Pontífice também ressaltou a importância de superar a vergonha e o medo de pedir ajuda, reconhecendo a própria necessidade como um caminho para a liberdade e para a comunhão com Deus. Ele criticou a cultura da autossuficiência e da eficiência, tão valorizada nos tempos atuais, e convidou os fiéis a redescobrirem a alegria da fraternidade, da simplicidade e da partilha.
Ao final da Audiência, o Papa Leão XIV fez um apelo pela paz no Sudão, expressando sua preocupação com a situação de violência e carestia em Darfur e com a propagação da cólera. Ele pediu aos responsáveis e à comunidade internacional que garantam corredores humanitários e implementem uma resposta coordenada para pôr fim à catástrofe humanitária.
Leia seu discursso na integra, abaixo:
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro Quarta-feira, 3 de setembro de 2025
Ciclo de Catequese – Jubileu 2025. Jesus Cristo, Nossa Esperança. III. A Páscoa de Jesus. 5. A crucificação. “Tenho sede!” (Jo 19,28)
“Queridos irmãos e irmãs!
No coração da narração da paixão, no momento mais luminoso e ao mesmo tempo mais tenebroso da vida de Jesus, o Evangelho de João entrega-nos duas palavras que encerram um mistério imenso: «Tenho sede» (19, 28), e logo depois: «Tudo está consumado» (19, 30). Palavras últimas, mas carregadas de uma vida inteira, que revelam o sentido de toda a existência do Filho de Deus. Na cruz, Jesus não aparece como um herói vitorioso, mas como um mendigo de amor. Não proclama, não condena, não se defende. Pede, humildemente, aquilo que sozinho não pode de modo algum dar a si mesmo.
A sede do Crucificado não é apenas a necessidade fisiológica de um corpo atormentado. É também, e sobretudo, expressão de um desejo profundo: o de amor, de relação, de comunhão. É o grito silencioso de um Deus que, tendo querido partilhar tudo da nossa condição humana, se deixa atravessar também por esta sede. Um Deus que não se envergonha de mendigar um golo, porque nesse gesto nos diz que o amor, para ser verdadeiro, também deve aprender a pedir e não apenas a dar.
Tenho sede, diz Jesus, e assim manifesta a sua humanidade e também a nossa. Nenhum de nós pode bastar a si mesmo. Ninguém pode salvar-se sozinho. A vida “realiza-se” não quando somos fortes, mas quando aprendemos a receber. E precisamente nesse momento, depois de ter recebido de mãos estranhas uma esponja embebida em vinagre, Jesus proclama: Tudo está consumado. O amor tornou-se necessitado e, precisamente por isso, levou a cabo a sua obra.
Este é o paradoxo cristão: Deus salva não fazendo, mas deixando-se fazer. Não vencendo o mal com a força, mas aceitando até ao fim a fraqueza do amor. Na cruz, Jesus ensina-nos que o homem não se realiza no poder, mas na abertura confiante ao outro, mesmo quando este nos é hostil e inimigo. A salvação não está na autonomia, mas em reconhecer com humildade a própria necessidade e saber expressá-la livremente.
A realização da nossa humanidade no desígnio de Deus não é um ato de força, mas um gesto de confiança. Jesus não salva com um gesto clamoroso, mas pedindo algo que sozinho não se pode dar. E aqui se abre uma porta para a verdadeira esperança: se até o Filho de Deus escolheu não ser suficiente para si mesmo, então também a nossa sede – de amor, de sentido, de justiça – não é um sinal de fracasso, mas de verdade.
Esta verdade, aparentemente tão simples, é difícil de acolher. Vivemos numa época que premeia a autossuficiência, a eficiência, a prestação. No entanto, o Evangelho mostra-nos que a medida da nossa humanidade não é dada pelo que podemos conquistar, mas pela capacidade de nos deixarmos amar e, quando necessário, também ajudar.
Jesus salva-nos mostrando-nos que pedir não é indigno, mas libertador. É o caminho para sair do escondimento do pecado, para reentrar no espaço da comunhão. Desde o início, o pecado gerou vergonha. Mas o perdão, o verdadeiro, nasce quando podemos olhar de frente para a nossa necessidade e não temer ser rejeitados.
A sede de Jesus na cruz é, portanto, também a nossa. É o grito da humanidade ferida que ainda busca água viva. E esta sede não nos afasta de Deus, mas une-nos a Ele. Se tivermos a coragem de reconhecê-la, podemos descobrir que também a nossa fragilidade é uma ponte para o céu. É precisamente no pedir – não no possuir – que se abre um caminho de liberdade, porque deixamos de pretender ser suficientes a nós mesmos.
Na fraternidade, na vida simples, na arte de pedir sem vergonha e de oferecer sem cálculo, esconde-se uma alegria que o mundo não conhece. Uma alegria que nos devolve à verdade original do nosso ser: somos criaturas feitas para dar e receber amor.
Queridos irmãos e irmãs, na sede de Cristo podemos reconhecer toda a nossa sede. E aprender que não há nada mais humano, nada mais divino, do que saber dizer: eu preciso. Não tenhamos medo de pedir, sobretudo quando nos parece que não o merecemos. Não nos envergonhemos de3 estender a mão. É precisamente aí, nesse gesto humilde, que se esconde a salvação.
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APELO Do Sudão, em particular de Darfur, chegam notícias dramáticas. Em El Fasher, numerosos civis estão presos na cidade, vítimas de carestia e violência. Em Tarasin, um deslizamento de terra devastador causou muitas mortes, deixando para trás dor e desespero. E, como se não bastasse, a propagação da cólera ameaça centenas de milhares de pessoas já exaustas. Estou mais do que nunca próximo da população sudanesa, em particular das famílias, das crianças e dos deslocados. Rezo por todas as vítimas. Faço um apelo sincero aos responsáveis e à comunidade internacional, para que sejam garantidos corredores humanitários e seja implementada uma resposta coordenada para parar esta catástrofe humanitária. É hora de iniciar um diálogo sério, sincero e inclusivo entre as partes, para pôr fim ao conflito e devolver ao povo do Sudão esperança, dignidade e paz.
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Saudações: Saúdo cordialmente os fiéis de língua portuguesa, de modo especial os grupos vindos de Portugal e do Brasil. Jamais devemos envergonhar-nos de pedir: todos nós temos necessidade do Senhor e da sua graça. Peçamos a Ele a água viva que sacia a nossa sede de Deus. Deus vos abençoe!”
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