Introdução
A liturgia Católica é muito rica e dinâmica! Cada tempo litúrgico apresenta aos fieis uma oportunidade para o crescimento espiritual e moral. O crescimento na profundidade da fé em Jesus Cristo, por seu dinamismo próprio, estimula o fiel a qualificar as suas atitudes.
A liturgia tem uma íntima relação com a vida e lá onde a fé celebrada se distancia da fé vivida, há um grave problema religioso. Se o amor a Deus e ao próximo são inseparáveis, da mesma forma, serve para a relação entre a liturgia e a vida. A liturgia está para a vida, e a vida, permeada pela liturgia, ganha novo brilho e conteúdo!
Sobre essa íntima relação entre fé e vida, o concílio Ecumênico Vaticano II na Constituição Dogmática Sacrossanctum Concilium afirmou que a liturgia impele os fiéis, saciados pelos mistérios pascais, a viverem unidos no amor; pede que sejam fiéis na vida a quanto receberam pela fé e através da Eucaristia para crescerem na Caridade de Cristo (cf. SC,10). Isso significa que a liturgia tem uma séria dimensão moral, ou seja, deve levar o fiel a assumir boas atitudes. Esse é um caminho de santidade!
- Estímulos do tempo do advento
Cada tempo litúrgico traz consigo uma grande carga de estímulos. Dessa forma o advento se apresenta como um tempo grávido de convites à alegria pela vinda do Senhor; é tempo de esperança, renovação, reflexão, vigilância, sobriedade, prática da caridade, mudança de mentalidade, conversão, etc.
O advento tem muitas dimensões! Tem uma dimensão religiosa por ser um tempo de ressignificação da nossa relação com Deus que vem ao encontro da humanidade; tem uma dimensão litúrgica com suas orações próprias, cores, textos e celebrações específicas; tem uma dimensão socioafetiva e familiar por se tratar de um tempo de expectativa do nascimento do Salvador da humanidade dentro do contexto de uma família concreta.
O advento tem também uma dimensão estética e, sobriamente festiva, como sinais reveladores do sentimento de alegria, e expectativa da acolhida do Filho de Deus. Esse sentimento de esperança e alegria leva os fies à decoração de ambientes. Sinais evidentes e significativos dessa dimensão estética, rica de memória, é a montagem do presépio e da árvore de Natal.
O Filho de Deus é a árvore da Vida, por isso disse: “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10); “Eu sou o pão da vida” (Jo 6,48); “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11,25); “quem crê possui a vida eterna” (Jo 6,47); «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). O tempo do advento é uma ocasião especial para uma renovada contemplação da beleza da vida humana, pois o Senhor da Vida a assume e se encarna por inteiro no concreto da nossa história.
- Pistas para compromissos
Diante disso, não devemos reduzir o tempo do advento às celebrações litúrgicas. O esquecimento dos seus compromissos concretos esvaziaria a grandeza da sua finalidade. Somos convidados a fazer todo esforço possível para conceber a experiência do advento como um caminho de preparação ao Natal; naturalmente esse processo de preparação tem sempre diversas dimensões e deve abraçar a nossa vida.
Com a intenção de facilitar a vivência do tempo do advento seguem algumas pistas que podem ser colocadas em práticas em diversos níveis: pessoal, familiar e comunitário. Dependendo do fervor do zelo do fiel, da família ou da comunidade, pode-se organizar uma agenda dessas atividades para cada dia, considerando que algumas delas podem ser repetidas. Seguem as atividades.
- Preparar uma celebração penitencial. De preferência na comunidade ou na família. Essa celebração favorece a reflexão, o exame de consciência e a abertura para da conversão como sinal de mudança de vida. A celebração penitencial tem como finalidade a revisão de vida nos estimulando o desejo de mudança.
- Organizar uma celebração da Reconciliação. Quantas vezes tanto na família, quanto nas comunidades, há conflitos, antipatias, rixas, mágoas, relacionamentos rompidos, hostilidade, indiferença, frieza, fofoca… de problemas interpessoais não resolvidos! A celebração da reconciliação fraterna gera a oportunidade para o retorno da paz, do perdão, da amizade. O caminho para a celebração do Natal deve nos levar à restauração das relações fraternas, caso contrário, não haverá Natal.
- Preparar a celebração da Esperança. O tempo do advento é uma estrada de renovação da esperança, do otimismo e da alegria. Os profetas, sobretudo Isaías, nos convidam a essa reflexão. No mundo atual há muito medo, incerteza, pessimismo, opressão psicológica, desânimo, tristeza, pesar, luto… É preciso realimentar a esperança! O Messias que renasce em nós, é o mesmo que passa pela cruz, morte e ressuscita!
- A novena do Natal. Já é um caminho proposto pela Igreja envolvendo, sobretudo, as famílias. Mas não devem ser feitas mecanicamente e com pressa… É preciso que os encontros sejam preparados e bem participados. Às vezes, poucos falam muito e grande parte fica calada. É preciso incentivar a partilha!
- A Leitura Orante da Palavra de Deus. A liturgia da Palavra do tempo do advento é muito rica. Alguns encontros semanais, talvez, usando as leituras do domingo, poderia ser de grande enriquecimento para grupos. Pessoalmente cada um pode fazê-la todos os dias.
- A experiência de visita à pessoas necessitadas como gesto de solidariedade e compromisso com a justiça. Pode ser também visitas à instituição como hospitais, abrigos, asilos, prisões, viciados… O Messias vem ao encontro dos oprimidos.
- Propósito de uma boa ação para cada dia em casa, no trabalho, na comunidade, com os amigos… É experiência de treinamento de virtudes.
- Aprofundamento sobre a identidade do Messias lendo o profeta Isaías.
- Meditação sobre as virtudes de Maria, buscando conhecê-la mais profundamente.
- Reflexão sobre as palavras e atitudes de João Batista e qual é a sua relação com a vida pessoal e os nossos dias.
- Récita do Terço, mas com uma breve meditação dos mistérios entre cada dezena.
- Uma experiência de retiro sobre o advento. Vale a pena reservar uma manhã ou um final de semana para um retiro e nele já fazer uma avaliação do ano.
- Fazer a decoração da própria casa, colocando a cada semana algumas novidades. Não fazer tudo de uma só vez; a ideia é estimular um caminho de reflexão, como um convite para a ornamentação da vida.
- Montar o presépio enfeitando-o com palavras e frases referentes às profecias, valores cristãos e bons estímulos como: ser fraterno, promover a paz, acolhida, perdão, solidariedade…
- Visitar uma família e fazer com ela um encontro de oração e breve meditação da Palavra de Deus.
- Distribuir frases bíblicas e valores pela casa e na frente, colocar algo que estimule as pessoas a pensar no verdadeiro Natal. Os símbolos e palavras nos ajudam!
- Preparar o “amigo secreto” dentro de um contexto celebrativo, orante, festivo e fraterno ressaltando as virtudes das pessoas e seus bons propósitos de vida para o ano vindouro. Isso pode ser feito tanto na família, quanto no trabalho, nas comunidades… É importante que a confraternização não se reduza à comida e bebida.
- Organizar a própria árvore de Natal decorando-a com palavras (valores).
- Preparar a caixinha dos bons propósitos para que as pessoas, todos os dias, possam tirar uma sugestão de compromisso pessoal. Os compromissos devem ser simples, concretos e possíveis de serem cumpridos no dia. Pode ser também uma boa mensagem.
- Escolher uma família muito pobre ou portadora de graves problemas para ser “adotada”, por um tempo, ou ao longo do ano e ajudá-la na superação dos dramas pelos quais passa.
- Visitar uma Igreja e fazer um tempo de oração pessoal (adoração, louvor, súplica de perdão, ação de graças) e meditação mais aprofundada de um texto bíblico.
- Convidar para a Ceia de Natal uma família pobre compartilhando com ela os próprios alimentos, amizade estímulos para o futuro.
- Fazer uma seleção de músicas natalinas para serem ouvidas a longo do tempo do advento. A música tem um influxo educativo e terapêutico.
- Promover um encontro com gestantes para compartilharem a experiência da gestação em todas as dimensões e compromissos.
- Dedicar um tempo para estudo em grupo refletindo sobre o sentido do verdadeiro e o falso Natal. O que pode nos desviar do verdadeiro Natal? Como se manifesta as falsas celebrações do Natal?
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
- Quais são, em geral, as suas preocupações no tempo do advento?
- Você acha importante assumirmos compromissos concretos no advento?
- O que a sua família faz de extraordinário no tempo do advento?