por Dom Antônio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo da Diocese de Macapá (AP)

Estamos concluindo o Ano Jubilar que nos convidou a reacender em nós a chama da Esperança reavivando em a consciência de que somos peregrinos e estamos caminhando rumo à pátria celeste! O céu é o Santuário para o qual todos nós estamos caminhando; é isso que nos diz a Palavra de Deus. Estamos a caminho da nossa pátria definitiva. Disse Jesus: “Que o vosso coração não se perturbe, pois na casa do meu Pai há muitas moradas” (Jo 14,1-2); “se a nossa habitação terrestre, esta tenda em que vivemos for dissolvida, possuímos uma casa que é obra de Deus…” (2Cor 5,1).

Neste mundo somos estrangeiros; estamos em busca da nossa meta projetada por Deus (cf. 1Pd 1,17; Hb 13,14). Essa é nossa vocação e ao mesmo tempo nosso sonho: o paraíso. A esperança exerce um papel fundamental em nossa vida; ela nos motiva, estimula, empurra, mobiliza, conforta, nos dá segurança: “a esperança não causa decepção porque o Amor de Deus foi derramado em nossos corações” (Rm 5,5).

A esperança nos dá conforto: “os sofrimentos do tempo presente não se comparam com a glória futura que deverá ser revelada em nós” (Rm 8,18); “não haverá mais morte; não haverá mais choro, nem grito, nem dor… Tudo passou e passamos para uma nova vida” (Ap 21,4). A esperança nos educa a olhar para o futuro, para frente, não parar, nunca desanimar do bem, não desistir! A esperança nos livra do desespero porque nos fala de superação, prêmio, glória, vitória, recompensa nos estimulando à perseverança!

A esperança nos diz que vale a pena lutar, vale a pena superar momentos difíceis, que neste mundo tudo é passageiro! A Esperança nos educa à paciência! Quem tem esperança vive com mais serenidade, otimismo, alegria, senso empreendedor porque está sempre motivado para fazer o bem!

O ano jubilar como temas peregrinos da Esperança, muito além das celebrações litúrgicas, foi um intenso exercício das muitas formas de manifestarmos a nossa esperança viva, pois ela não é vazia; ela se faz exercício de abertura aos outros, de Caridade, de solidariedade, de partilha, de luta pela promoção da paz, da justiça, da reconciliação, da experiência de compaixão, da Alegria, da firmeza de ânimo, sabedoria de vida!

Compromissos permanentes e frutos do ano jubilar:

  1. Manter as portas abertas do ser humano

Um dos símbolos mais significativos de um ano jubilar é a “Porta Santa”. Neste Jubileu de 2025, por desejo do Papa Francisco, as Portas Santas foram abertas apenas em Roma nas basílicas de São Pedro, São João de Latrão (catedral de Roma), Santa Maria Maior e São Paulo Fora dos Muros. Uma exceção foi a abertura de uma Porta Santa no complexo penitenciário de Rebibbia, em Roma. Essas Portas vão se fechar, mas fomos convidados a manter permanentemente abertas outras portas: todas aquelas que fazem parte da vivência da nossa fé.

A abertura da Porta Santa significa um convite para a entrada numa intensa experiência de Deus e de abertura da fraternidade. Isso deve continuar! O discípulo de Jesus deve estar continuamente aberto ao bem, mas profundamente fechado a tudo o que se opõe ao Reino de Deus. Portanto, precisamos abrir as portas do coração que nos leva a experiência da Caridade; necessitamos da abertura da porta da mente que nos leva a compreender as realidades do mundo e as exigências da justiça e da paz; animados pela fé devemos continuamente abrir as portas dos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar), pois nos proporcionam a possibilidade de sentir os outros e dão peso para relações humanas; enfim, mantenhamos abertas as portas dos nossos templos, das nossas paróquias, das nossas pastorais, dos nossos movimentos eclesiais e instituições várias, pois fechados perdem a razão de ser. Enfim, manter abertas as portas do ser humano e da vida pastoral da Igreja! A abertura da “Porta Santa” significou um convite para a entrar no Reino de Cristo que nos educa para o Amor. Por isso, não adianta passar pela porta santa de um santuário se a porta do coração e da mente continuarem trancadas. Jesus Cristo é a Porta (cf. Jo 10,3); então entrar no seu interior significa assumir a prática do amor, da acolhida, da solidariedade, do perdão, da misericórdia, da compaixão, da justiça, da reconciliação. Essa porta é estreita porque é exigente, pois requer de nós discernimento, escolha, esforço, adesão profunda, mudança interior (cf. Mt 7,13), conversão permanente.

  1. Aprofundar o sentido da esperança

A virtude da Esperança foi, ao longo do ano santo, tema de reflexão em muitos eventos como encontros, retiros, palestras, celebrações… Vivemos num mundo profundamente marcado pela carência da Esperança. Essa realidade se expressa através de muitos fenômenos como o pessimismo, o derrotismo, a fragilidade psicológica, murmuração, hipocondria, a descrença (niilismo), o pensamento negativo, passivismo, o desespero, o suicídio… A falta de esperança estimula a cultura da morte! Todavia, a reflexão sobre a virtude da Esperança nos estimula a viver com alegria, a cultivar o otimismo, a manter a firmeza de ânimo, a alimentar a coragem, a zelar pela resiliência e capacidade de enfrentar os problemas da vida com serenidade e sabedoria.

  1. Revigorar a consciência da unidade das virtudes teologais

Concluindo este ano jubilar a Igreja espera de nós que estejamos revigorados no inseparável amor a Deus e ao próximo; que estejamos mais conscientes da inseparável relação entre Fé, Esperança e Amor! Essas três virtudes sintetizam a totalidade do dinamismo do discípulo de Jesus Cristo. Elas estão profundamente relacionadas entre si: da fé deriva a Esperança e, por sua vez, se traduz concretamente no dinamismo do amor, ou seja, em atitudes coerentes de um autêntico peregrino que trabalha pelo Reino de Deus e caminha rumo à sua plenitude!

  1. Renovar o compromisso de fraternidade

O que se espera de cada um de nós ao final do ano jubilar? Que tenha sido um ano em que renovamos a nossa consciência de sermos filhos de Deus chamados a viver fraternalmente, a fazer com mais frequência a necessária a experiência da reconciliação, do perdão, da prática da justiça e a estarmos abertos para um estado de permanente conversão. Atitudes de indiferença, fechamento, ódio e vingança invalidam o ano jubilar! À medida em que crescemos na consciência de sermos filhos de Deus, naturalmente tende a aumentar em nós o compromisso de permanente exercício de fraternidade com os outros! A requalificação das relações dentro da família deve fazer parte desta lista de compromissos. Os frutos do ano jubilar devem ser vistos de sentidos em cada família católica.

  1. Renovar o amor à Igreja

O ano jubilar foi proclamado pela Igreja dentro de um contexto de intensa renovação da vida eclesial que já assumiu uma série de compromissos bem concretos: a comunhão, a participação, a sinodalidade, a missionariedade (ser Igreja em saída), a alegria do anúncio do Evangelho… Após o ano jubilar a Igreja espera de cada um de nós que tenhamos crescido na consciência do nosso dever de promoção da comunhão eclesial em todos os contextos e níveis; que tenhamos fortalecido em nós o compromisso de participação na vida pastoral da Igreja com suas muitas necessidades superando a simples frequência aos Sacramentos; que estejamos mais convictos de que apesar da diversidade de sujeitos, carismas, vocações e ministérios, formamos uma única família e devemos caminhar juntos, evitando toda e qualquer forma de paralelismo e dispersão.

O que se espera de cada um de nós ao final do ano jubilar em relação à vida da Igreja? Que estejamos com o nosso coração cheio de paixão missionária, disposto a superar toda e qualquer forma de comodismo, conformismo e a “pastoral da manutenção” que só deseja conservar e não “avança para águas mais profundas” na evangelização (Lc 5,4). Sem paixão missionária não há autêntica Esperança cristã! Assim como o Espírito Santo impeliu Jesus para ir ao encontro dos mais pobres (cf. Lc 4,1-4) assim também deve acontecer com a Igreja. Por isso precisamos de paróquias abertas e inquietas (agentes de pastorais), capazes de manifestar a presença da Igreja com estruturas visíveis, em todas as áreas dos bairros, condomínios, áreas de ocupação, assentamentos, comunidades ribeirinhas, quilombolas, indígenas….

Uma Igreja com o coração pastoralmente renovado é capaz de revitalizar todas as suas pastorais e ministérios! Somente assim ela será capaz de testemunhar a Alegria do anúncio do evangelho a todos aqueles que desconhecem a pessoa do Salvador da humanidade aquele que disse: “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Caríssimos irmãos e irmãs o ano Santo, liturgicamente falando chega ao seu final, mas permanecem nós o compromisso de alimentar cotidianamente a nossa santidade através das boas obras, da bondade de coração, da qualificação das nossas relações com os outros, da nossa firmeza de ânimo diante das dificuldades, paciência e perdão a quem precisa. Portanto, continuemos a testemunhar a nossa fé católica através do amor a Jesus Cristo, do engajamento na Igreja, dos compromissos profissionais da nossa vida quotidiana, na família! A santidade é um compromisso permanente que é feita de atitudes concretas!

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