
por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
Na manhã desta quarta-feira (10/12) durante a Audiência Geral, Papa Leão XIV dedicou suas palavras a um dos mistérios mais profundos da existência humana: a morte. O discurso, que abordou a Ressurreição de Cristo como a resposta definitiva a essa interrogação milenar, também tocou em aspectos sociais, filosóficos e espirituais que ressoam em nosso tempo.
A Morte: Um Tabu Contemporâneo e um Mistério Universal
O Sumo Pontífice iniciou sua reflexão destacando a dualidade da morte: um evento natural, inerente a toda forma de vida na Terra, mas ao mesmo tempo antinatural para o ser humano, que anseia pela vida e pela eternidade. Contrariando a tendência de antigas civilizações em cultuar e recordar os mortos, a sociedade moderna, segundo o Papa, tende a tratar a morte como um tabu, um evento a ser evitado e mantido à distância, gerando uma “fuga existencial” diante da questão.
O Conhecimento da Morte e a Busca por Sentido
O ser humano se distingue das demais criaturas pela consciência de sua própria mortalidade. Essa consciência, embora não salve da morte, “sobrecarrega” o indivíduo, impulsionando-o a questionar o sentido e o fim da vida. Santo Afonso Maria de Ligório é citado como um mestre nessa perspectiva, ao afirmar que a meditação sobre a morte pode ser uma grande mestra de vida, ensinando-nos a priorizar o essencial em vista do reino dos céus e a desapegarmo-nos do supérfluo.
A Promessa de Imortalidade Tecnológica e a Resposta Cristã
Em contraponto às visões contemporâneas que prometem imortalidades imanentes através da tecnologia e do transumanismo, o Papa Leão XIV apresentou a fé cristã como a resposta última. A Ressurreição de Cristo, explicou, não se opõe à vida, mas a integra, revelando a morte como uma passagem para a vida eterna. As “luzes do sábado” antes da aurora pascal simbolizam a esperança que brilha mesmo na escuridão, prenunciando a luz plena da Ressurreição, que ilumina o mistério da morte e garante que ela não é o fim, mas o início de uma eternidade feliz.
Um Chamado à Paz em Meio a Conflitos
Em um momento de apreensão global, o discurso do Papa também incluiu um apelo direto para a cessação imediata do conflito na fronteira entre a Tailândia e o Camboja, expressando solidariedade às populações afetadas e incentivando o diálogo. Este apelo reforça a mensagem de esperança e reconciliação que emana da fé cristã.
A mensagem de Leão XIV convida à reflexão sobre nossa própria finitude, à busca por um sentido autêntico para a vida e à esperança inabalável na promessa da vida eterna, ancorada no evento central da fé cristã: a Ressurreição de Jesus Cristo.
Leia o discurso do Papa, abaixo, na integra.
UDIENZA GENERALE
Piazza San Pietro
Mercoledì, 10 dicembre 2025
Ciclo de Catequeses – Jubileu 2025. Jesus Cristo nossa esperança. IV A Ressurreição de Cristo e os desafios do mundo atual. 7. A Páscoa de Jesus Cristo: resposta última à pergunta sobre a nossa morte
“Caros irmãos e irmãs, bom dia! Sejam todos bem-vindos!
O mistério da morte sempre suscitou profundas interrogações no ser humano. Com efeito, ela aparece como o evento mais natural e, ao mesmo tempo, o mais antinatural que existe. É natural, porque todo ser vivo na terra morre. É antinatural, porque o desejo de vida e de eternidade que sentimos por nós mesmos e pelas pessoas que amamos faz-nos ver a morte como uma condenação, como um “contrassenso”.
Muitos povos antigos desenvolveram ritos e costumes ligados ao culto dos mortos, para acompanhar e recordar aqueles que caminhavam para o mistério supremo. Hoje, no entanto, regista-se uma tendência diferente. A morte aparece como uma espécie de tabu, um evento a ser mantido à distância; algo sobre o qual se fala a meia voz, para evitar perturbar a nossa sensibilidade e tranquilidade. Muitas vezes, por isso, evita-se até visitar os cemitérios, onde aqueles que nos precederam repousam à espera da ressurreição.
Que é, pois, a morte? É verdadeiramente a última palavra sobre a nossa vida? Só o ser humano se coloca esta pergunta, porque só ele sabe que tem de morrer. Mas a consciência disso não o salva da morte; antes, num certo sentido, o “sobrecarrega” em relação a todas as outras criaturas viventes. Os animais sofrem, certamente, e dão-se conta de que a morte é próxima, mas não sabem que a morte faz parte do seu destino. Não se interrogam sobre o sentido, o fim, o resultado da vida.
Ao constatar este aspeto, deveria pensar-se que somos criaturas paradoxais e infelizes, não só porque morremos, mas também porque temos a certeza de que este evento ocorrerá, embora ignoremos o como e o quando. Descobrimo-nos conscientes e, ao mesmo tempo, impotentes. Provavelmente daqui provêm as frequentes remoções, as fugas existenciais perante a questão da morte.
Santo Afonso Maria de Ligório, no seu célebre escrito intitulado Preparação para a Morte, reflete sobre o valor pedagógico da morte, evidenciando como ela é uma grande mestra de vida. Saber que ela existe e, sobretudo, meditar sobre ela ensina-nos a escolher o que fazer verdadeiramente da nossa existência. Rezar, para compreender o que é útil em vista do reino dos céus, e deixar ir o supérfluo que nos liga às coisas efémeras, é o segredo para viver de modo autêntico, na consciência de que a passagem pela terra nos prepara para a eternidade.
Contudo, muitas visões antropológicas atuais prometem imortalidades imanentes, teorizam o prolongamento da vida terrena mediante a tecnologia. É o cenário do transumano, que se abre no horizonte dos desafios do nosso tempo. A morte poderá ser realmente derrotada pela ciência? Mas, depois, a própria ciência poderia garantir-nos que uma vida sem morrer seria também uma vida feliz?
O evento da Ressurreição de Cristo revela-nos que a morte não se opõe à vida, mas é parte constitutiva dela como passagem para a vida eterna. A Páscoa de Jesus faz-nos pre-saborear, neste tempo ainda repleto de sofrimentos e provas, a plenitude daquilo que acontecerá após a morte.
O evangelista Lucas parece captar este presságio de luz na escuridão quando, no final daquela tarde em que as trevas tinham envolvido o Calvário, escreve: «Era a véspera da Páscoa e já brilhavam as luzes do sábado» (Lc 23,54). Esta luz, que antecipa a manhã de Páscoa, já brilha nas obscuridades de um céu que ainda se apresenta fechado e mudo. As luzes do sábado, pela primeira e única vez, prenunciam a alvorada do dia seguinte ao sábado: a luz nova da Ressurreição. Só este evento é capaz de iluminar até ao fundo o mistério da morte. Nesta luz, e só nela, torna-se verdade aquilo que o nosso coração deseja e espera: que a morte não seja o fim, mas a passagem para a luz plena, para uma eternidade feliz.
O Ressuscitado precedeu-nos na grande prova da morte, saindo vitorioso graças ao poder do Amor divino. Assim nos preparou o lugar do descanso eterno, a casa onde somos esperados; deu-nos a plenitude da vida em que já não há sombras nem contradições.
Graças a Ele, morto e ressuscitado por amor, com São Francisco podemos chamar a morte de “irmã”. Esperá-la com a certeza da Ressurreição preserva-nos do medo de desaparecer para sempre e prepara-nos para a alegria da vida sem fim.
Saudações
Saúdo cordialmente as pessoas de língua francesa, em particular os peregrinos vindos de França e especialmente da diocese de Rennes com o Bispo D. Pierre d’Ornellas.
Irmãos e irmãs, neste tempo do Advento, peçamos ao Ressuscitado que faça de nós vigilantes que preparam e apressam o triunfo último do seu Reino, o reino do Amor. Que Deus vos abençoe!
Estendo uma calorosa boas-vindas esta manhã a todos os peregrinos e visitantes de língua inglesa presentes na Audiência de hoje, especialmente aos que vêm de Inglaterra, País de Gales, Malta, Uganda, Austrália, Japão, Malásia, Singapura e Estados Unidos da América. Rezo para que cada um de vós, e as vossas famílias, possa experienciar um abençoado Advento em preparação para a vinda do recém-nascido Jesus, Filho de Deus e Salvador do mundo. Deus vos abençoe a todos!
Dirijo uma calorosa saudação aos peregrinos de língua alemã, especialmente aos participantes da conferência “Perdoamos e pedimos perdão”, que se realiza em concomitância com a exposição “Reconciliação para a Europa”. Agradecendo por este significativo evento, encorajo todos os homens de boa vontade a empenharem-se pela reconciliação e a paz entre os povos.
Saúdo cordialmente os peregrinos de língua espanhola. Peçamos ao Senhor que nos ensine a viver cada dia à luz do mistério pascal, caminhando com esperança para o encontro definitivo com Ele. Que Deus vos abençoe. Muito obrigado.
Saúdo calorosamente as pessoas de língua chinesa. Queridos irmãos e irmãs, Deus, no curso da história, continua a conceder abundantemente a Sua graça à humanidade; que os vossos corações se abram a esta graça. A todos a minha bênção!
Uma cordial saudação aos fiéis de língua portuguesa, de modo especial ao grupo de escuteiros de Montijo! Para aqueles que creem na Ressurreição de Cristo, a morte não é o fim, mas o início da eternidade. Como peregrinos de esperança nesta vida, caminhemos rumo à sua plenitude na Casa do Pai! Deus vos abençoe!
Uma cordiale saudação aos fiéis de língua portuguesa, de modo especial ao grupo de escuteiros de Montijo! Para aqueles que creem na Ressurreição de Cristo, a morte não é fim, mas início da eternidade. Como peregrinos de esperança nesta vida, caminhemos rumo à sua plenitude na Casa do Pai! Deus vos abençoe!
Saúdo os fiéis de língua árabe. Convido-vos a refletir sobre o mistério da morte e da vida com esperança, na consciência de que Cristo ressuscitado nos precedeu na prova da morte, venceu-a e abriu-nos as portas da vida eterna. O Senhor vos abençoe a todos e vos proteja sempre de todo o mal!
Saúdo cordialmente os polacos! Em particular os organizadores e participantes da conferência dedicada à mensagem de reconciliação que os Bispos polacos enviaram aos Bispos alemães há sessenta anos, a qual mudou a história da Europa. Que as palavras daquele documento – “Perdoamos e pedimos perdão” – sejam para os povos hoje em conflito um testemunho de que a reconciliação e o perdão são possíveis quando nascem do desejo recíproco de paz e do empenho comum, em verdade, para o bem da humanidade. Abençoo a todos vós!
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APELO
Estou profundamente entristecido com a notícia do reacendido conflito ao longo da fronteira entre a Tailândia e o Camboja, onde houve vítimas também entre os civis e milhares de pessoas tiveram de abandonar as suas casas. Expresso a minha proximidade em oração a estas queridas populações e peço às partes que cessem imediatamente o fogo e retomem o diálogo.
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Dirijo uma cordialmente bem-vinda aos fiéis de língua italiana. Em particular, saúdo os Membros da Família Carismática Camiliana, o Destacamento do Comando de Aviação do Exército de Viterbo, o Grupo de Jovens Federmanager, a Fundação Aldeia dos Rapazes de Maddaloni, o Liceu D’Annunzio de Pescara e o Instituto Fermi de Lecce.
Saúdo, por fim, os jovens, os doentes e os recém-casados. Hoje celebramos a memória da Beata Virgem Maria de Loreto. Caros jovens, na escola de Maria aprendei a amar e a esperar; queridos doentes, que a Santa Virgem seja vossa companhia e conforto no sofrimento; e vós, caros recém-casados, confiai o vosso caminho conjugal à Mãe de Jesus.
A todos a minha bênção!”
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