por Vívian Marler / Assessoria de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB

Na tarde de quinta-feira (26/5) Papa leão XIV encontrou-se com os Sacerdotes reunidos, no Auditório Conciliação, na rua que dá acesso à Praça São Pedro, para o ‘Jubileu dos Sacerdotes’, que foi promovido pelo Dicastério para o Clero. Sob o tema “Sacerdotes Felizes” o Pontífice fez sua reflexão, inspirado no capítulo 15 do Evangelho de João “Eu vos chamo amigos”, e exortou os participantes a valorizarem a amizade com Cristo como chave para o ministério sacerdotal.

O Papa destacou a importância da formação como um caminho de relação, da fraternidade como estilo de vida presbiteral e da preparação dos formadores para cultivar sacerdotes amigos de Cristo.

Em seu discurso, traduzido para o português, que pode ser lido ao final da matéria,  o Santo Padre Leão XIV ao enfatizar a amizade com Cristo como fundamento do ministério sacerdotal, ressaltou que a formação deve ser um caminho de relação, não apenas de aquisição de noções, moldando os sacerdotes à imagem do Bom Pastor. A fraternidade entre sacerdotes e bispos foi destacada como essencial para construir comunidades vivas, e a preparação dos formadores foi apontada como crucial para cultivar homens capazes de amar, escutar, rezar e servir juntos. O Papa também mencionou a importância de envolver todos os amigos do Senhor na formação dos futuros ministros ordenados

Leia abaixo o discurso do Santo Padre com tradução livre para o português.

DISCURSO DO SANTO PADRE LEÃO XIV AOS PARTICIPANTES DO ENCONTRO INTERNACIONAL SACERDOTES FELIZES «EU VOS CHAMEI AMIGOS» (Jo 15,15) PROMOVIDO PELO DICASTÉRIO PARA O CLERO”

Comecemos com o Sinal da Cruz, porque estamos todos aqui porque Cristo, que morreu e ressuscitou, nos deu a vida e nos chamou para servir. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A paz esteja convosco!

[Saudação do Cardeal Lazzaro You Heung-sik, Prefeito do Dicastério para o Clero]

Caríssimos irmãos no sacerdócio, queridos hermanos, dear brothers priests,

Caríssimos formadores, seminaristas, animadores vocacionais, amigos no Senhor!

É para mim uma grande alegria estar hoje aqui com vocês. No coração do Ano Santo, juntos queremos testemunhar que é possível ser sacerdotes felizes, porque Cristo nos chamou, Cristo nos fez seus amigos (cf. Jo 15,15): é uma graça que queremos acolher com gratidão e responsabilidade.

Desejo agradecer ao Cardeal Lazzaro e a todos os colaboradores do Dicastério para o Clero pelo seu serviço generoso e competente: um trabalho vasto e precioso, que se desenvolve muitas vezes no silêncio e na discrição e que produz frutos de comunhão, de formação e de renovação.

Com este momento de intercâmbio fraterno, um intercâmbio internacional, podemos valorizar o patrimônio de experiências já amadurecidas, encorajando a criatividade, a corresponsabilidade e a comunhão na Igreja, para que aquilo que é semeado com dedicação e generosidade em tantas comunidades possa se tornar luz e estímulo para todos.

As palavras de Jesus «Eu vos chamei amigos» (Jo 15,15) não são apenas uma declaração afetuosa para com os discípulos, mas uma verdadeira chave de compreensão do ministério sacerdotal. O sacerdote, de fato, é um amigo do Senhor, chamado a viver com Ele uma relação pessoal e confiante, nutrida pela Palavra, pela celebração dos Sacramentos, pela oração diária. Esta amizade com Cristo é o fundamento espiritual do ministério ordenado, o sentido do nosso celibato e a energia do serviço eclesial ao qual dedicamos a vida. Ela nos sustenta nos momentos de provação e nos permite renovar a cada dia o “sim” pronunciado no início da vocação.

Em particular, caríssimos, desta Palavra-chave gostaria de tirar três implicações para a formação ao ministério sacerdotal.

Em primeiro lugar, a formação é um caminho de relação. Tornar-se amigo de Cristo significa ser formado na relação, não apenas nas competências. A formação sacerdotal, portanto, não pode se reduzir à aquisição de noções, mas é um caminho de familiaridade com o Senhor que envolve a pessoa inteira, coração, inteligência, liberdade, e a modela à imagem do Bom Pastor. Só quem vive em amizade com Cristo e é permeado do seu Espírito pode anunciar com autenticidade, consolar com compaixão e guiar com sabedoria. Isso requer escuta profunda, meditação e uma rica e ordenada vida interior.

Em segundo lugar, a fraternidade é um estilo essencial de vida presbiteral. Tornar-se amigo de Cristo implica viver como irmãos entre sacerdotes e entre bispos, não como concorrentes ou individualistas. A formação deve então ajudar a construir laços sólidos no presbitério como expressão de uma Igreja sinodal, na qual se cresce junto compartilhando dificuldades e alegrias do ministério. Como, de fato, nós ministros poderíamos ser construtores de comunidades vivas, se não reinasse antes de tudo entre nós uma efetiva e sincera fraternidade?

Além disso, formar sacerdotes amigos de Cristo significa formar homens capazes de amar, escutar, rezar e servir juntos. Por isso, é preciso colocar todo o cuidado na preparação dos formadores, porque a eficácia de sua obra depende, antes de tudo, do exemplo de vida e da comunhão entre eles. A própria instituição dos Seminários nos recorda que a formação dos futuros ministros ordenados não pode se desenvolver de maneira isolada, mas requer o envolvimento de todos os amigos e amigas do Senhor que vivem como discípulos missionários a serviço do Povo de Deus.

A propósito, gostaria de dizer uma palavra também sobre as vocações. Apesar dos sinais de crise que atravessam a vida e a missão dos presbíteros, Deus continua a chamar e permanece fiel às suas promessas. É preciso que existam espaços adequados para escutar a sua voz. Por isso, são importantes ambientes e formas de pastoral juvenil impregnados de Evangelho, onde possam se manifestar e amadurecer as vocações à doação total de si. Tenham a coragem de propostas fortes e libertadoras! Olhando para os jovens que neste nosso tempo dizem seu generoso “eis-me aqui” ao Senhor, sentimos todos a necessidade de renovar o nosso “sim”, de redescobrir a beleza de ser discípulos missionários no seguimento de Cristo, o Bom Pastor.

Caríssimos, celebramos este encontro na vigília da Solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus: é deste “sarçal ardente” que tem origem a nossa vocação; é desta fonte de graça que queremos nos deixar transformar.

A Encíclica do Papa Francisco Dilexit nos, se é um dom precioso para toda a Igreja, o é de modo especial para nós sacerdotes. Ela nos interpela fortemente: nos pede para custodiar juntos a mística e o compromisso social, a contemplação e a ação, o silêncio e o anúncio. O nosso tempo nos provoca: muitos parecem ter se afastado da fé, e contudo no profundo de muitas pessoas, especialmente dos jovens, há sede de infinito e de salvação. Muitos experimentam como uma ausência de Deus, e contudo cada ser humano é feito para Ele, e o desígnio do Pai é fazer de Cristo o coração do mundo.

Por isso queremos reencontrar juntos o impulso missionário. Uma missão que propõe com coragem e com amor o Evangelho de Jesus. Mediante a nossa ação pastoral, é o Senhor mesmo que cuida do seu rebanho, reúne quem está disperso, se inclina sobre quem está ferido, sustenta quem está desanimado. Imitando o exemplo do Mestre, crescemos na fé e nos tornamos, por isso, testemunhas credíveis da vocação que recebemos. Quando alguém acredita, se vê: a felicidade do ministro reflete o seu encontro com Cristo, sustentando-o na missão e no serviço.

Caros irmãos no sacerdócio, obrigado a vocês que vieram de longe! Obrigado a cada um pela dedicação cotidiana, especialmente nos lugares de formação, nas periferias existenciais e nos lugares difíceis, às vezes perigosos. Enquanto recordamos os sacerdotes que doaram a vida, até o sangue, renovamos hoje a nossa disponibilidade para viver sem reservas um apostolado de compaixão e de alegria.

Obrigado pelo que vocês são! Porque lembram a todos que é bonito ser sacerdote, e que cada chamado do Senhor é, antes de tudo, um chamado à sua alegria. Não somos perfeitos, mas somos amigos de Cristo, irmãos entre nós e filhos de sua terna Mãe Maria, e isso nos basta.

Dirijamo-nos ao Senhor Jesus, ao seu Coração misericordioso que arde de amor por cada pessoa. Peçamos-lhe a graça de sermos discípulos missionários e pastores segundo a sua vontade: procurando quem está perdido, servindo quem é pobre, guiando com humildade quem nos é confiado. Que seja o seu Coração a inspirar os nossos planos, a transformar os nossos corações, e a renovar-nos na missão. Abençoo-vos com afeto e rezo por todos vós.

[Um sacerdote pergunta ao Santo Padre se pode abraçá-lo]

Se é um para todos! Porque depois também os outros querem! Estão de acordo? [os sacerdotes respondem: Sim!] Um para todos! Então, um para todos!

[em espanhol] Levantem a mão quem vem da América Latina!

[em inglês] Quantos vêm da África?… Quantos da Ásia?… Da Europa?… Dos Estados Unidos?…

[chega aquele sacerdote, apresenta-se e abraça o Santo Padre]

Em representação de todos os presentes neste momento.

[em espanhol] Para concluir, proponhamos um momento de oração. [em italiano] Um momento muito breve, porém o que eu disse antes nas palavras, o quanto é importante! Quero sublinhar a importância da vida espiritual do sacerdote. Tantas vezes quando precisamos de ajuda, procurem um bom “acompanhador”, um diretor espiritual, um bom confessor. Ninguém aqui está sozinho. E mesmo que esteja trabalhando na missão mais distante, nunca está sozinho! Procurem viver o que o Papa Francisco tantas vezes chamava de “proximidade”: proximidade com o Senhor, proximidade com o vosso Bispo, ou Superior religioso, e proximidade também entre vocês, porque vocês realmente devem ser amigos, irmãos; viver esta belíssima experiência de caminhar juntos sabendo que somos chamados a ser discípulos do Senhor. Temos uma grande missão e todos juntos podemos fazê-lo. Contamos sempre com a graça de Deus, a proximidade também da minha parte, e juntos podemos ser verdadeiramente esta voz no mundo. Obrigado!

Então, rezemos juntos: Pai nosso…

E a Maria nossa Mãe, digamos: Ave Maria…

[Bênção]

Felicidades a todos vocês! Deus vos abençoe sempre!