por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

Santa Maria Madalena, a apóstola dos apóstolos é festejada no dia vinte e dois de Julho, pelo calendário litúrgico romano. Ela foi a grande discípula do Senhor Jesus, a primeira a ver o Ressuscitado e proclamá-lo para os outros apóstolos, de modo que ela mereceu o título de ser a apóstola dos apóstolos. Santo Agostinho interpretou esta missão de Santa Maria Madalena, para anunciar aos outros o Ressuscitado, como graça grandiosa dada pelo Senhor à uma mulher para servir de modelo para todas as pessoas seguidoras do Senhor Jesus.

O anúncio de Maria Madalena aos apóstolos

Maria Madalena anunciou aos apóstolos que o Senhor fora retirado do sepulcro (cf. Jo 20, 2). Os apóstolos foram até lá, no sepulcro e encontraram os panos de linho com que o corpo tinha sido envolvido. Pedro e João ficaram numa atitude de observação. Desta forma, os discípulos voltaram para o lugar onde moravam e de onde saíram pois eles correram para o sepulcro (cf. Jo 20,5-10)[1].

Maria continuou no sepulcro

Enquanto os dois apóstolos voltaram para casa, Maria permaneceu no sepulcro, estando do lado de fora, chorando (cf. Jo 20,11). Os seus olhos procuravam o Senhor sem encontrá-lo dando-se em lágrimas, segundo o relato do Evangelho de São João, que para Santo Agostinho os olhos de Madalena eram mais aflitos por Ele ter sido retirado do sepulcro do que por ter sido morto no lenho, pois tinha presente em Jesus o grande Mestre, cuja vida lhes fora subtraída[2].

A dor pelo choro de Maria Madalena

Maria retinha uma dor junto ao sepulcro, estando numa situação de choro. No entanto ela inclinou-se para o interior do sepulcro (Jo, 20,11b). Segundo Santo Agostinho ela não ignorava que não se achava ali Aquele a quem procurava, uma vez que ela própria anunciou aos discípulos que o corpo do Senhor dali tinha sido retirado e vindo até o sepulcro, procuraram o corpo do Senhor e não o encontraram[3]. Qual seria o significado do choro? Será que não dava crédito aos seus olhos? Ou seria ela movida por uma inspiração divina? Ela olhou dentro e viu dois anjos, sentados no lugar onde o corpo de Jesus fora colocado , um à cabeceira e outro aos pés (cfr. Jo 20,12)[4].

A palavra dos anjos

“Por que choras?” (Jo 20, 13). Os anjos censuraram as lágrimas de Maria Madalena, segundo Santo Agostinho, porque de certo modo eles anunciavam a alegria futura, o encontro com o Jesus Ressuscitado[5]. Ela respondeu aos anjos que as pessoas levaram seu Senhor embora, indicando a parte pelo todo, assim como os fieis confessaram que Jesus Cristo é Verbo, alma, carne, Ele foi crucificado, sepultado, sendo apenas a sua carne que foi sepultada e ela, Maria Madalena e outras pessoas não sabiam onde o puseram. (cf. Jo 20, 13)[6]. Essa era segundo o bispo de Hipona a causa da dor, pois ela não sabia aonde ir para consolar aquela dor. No entanto a alegria sucederia aos choros, já anunciada pelos anjos que a ela censuravam o pranto[7].

Ela viu Jesus

Ela voltou-se e viu Jesus de pé, mas não o reconheceu, de modo que Jesus lhe disse: “Mulher, por que choras? A quem procuras?”(Jo 20,15). Pensando que fosse o jardineiro ela queria saber onde tinha sido colocado o corpo do Senhor. Mas Jesus lhe disse: “Maria!” e ela lhe disse: “Rabbuni, que dizer: Mestre!” (Jo 20,16). O bispo de Hipona afirmou que Ela honrava um homem e Deus a quem suplicava um benefício e na qual tinha aprendido a discernir as realidades humanas e divinas. Ela chamava de Senhor, aquele do qual não era escrava para chegar por meio Dele, a quem era de fato, seu Senhor. Ela disse Rabbuni ao perceber o seu corpo, mas também o reconheceu com o coração, o Senhor[8].

A palavra de Jesus

“Jesus lhe disse: ‘Não me toques, pois ainda não subi ao meu Pai. Vai, porém, a meus irmãos e dize-lhes Subo a meu Pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus’” (Jo 20,17). Para Santo Agostinho existe um ensinamento muito importante nas palavras de Jesus para Maria Madalena. Jesus lhe ensinou a fé para aquela mulher, que o chamou de Mestre, e Aquele jardineiro, o Senhor, que sendo o Ressuscitado semeava no coração dela, assim como em seu jardim, o grão de mostarda que deveria crescer pelas virtudes[9]. Ele pediu para Maria Madalena para não o tocar pois Jesus quis que se cressem n’Ele assim, daquela forma, que tocando-o espiritualmente pois Ele próprio e o Pai são um (Jo 17, 21. A palavra de Jesus para não tocá-lo, aludia também à fé no seguidor e na seguidora de Cristo, reconhecendo-o igual ao Pai[10].

A continuação do diálogo com Maria Madalena

Jesus disse a ela que Ele não tinha subido ao seu Pai e ao Pai dela, para lá sem o tocar, quando ela crer Jesus como Deus, não desigual em relação ao Pai, mas sim igual a Ele[11]. Jesus disse ao meu Deus e vosso Deus: “Meu tem o significado por natureza, vosso, por graça”[12]. Jesus falou de sua condição humana e divina: “é meu Deus, sob o qual eu também sou homem, e é vosso, porque entre Ele e vós, sou Mediador”[13]. Jesus é reconhecido na sua ressurreição como homem e como Deus, o verdadeiro e único Mediador entre Deus e a humanidade.

 “Vi o Senhor” (Jo 20,18): A Apóstola dos Apóstolos

Maria Madalena foi enviada por Jesus para dizer aos apóstolos que ela viu o Senhor ressuscitado e contou o que Ele lhe havia dito (cfr. Jo 20,18)[14]. Maria Madalena tornou-se a grande anunciadora de Jesus Ressuscitado entre os discípulos do Senhor, a qual ela é considerada a Apóstola dos Apóstolos, a primeira pessoa, mulher a ver o Jesus Ressuscitado e o anunciou aos outros, aos discípulos.

Nós somos chamados a ser como Maria Madalena, anunciadores da ressurreição do Senhor em nossas vidas de seguidores e de seguidoras do Senhor Jesus Cristo. Ao longo da vida nós temos momentos de oração, de convívio com o Ressuscitado pela eucaristia e outros sacramentos e também somos chamados a fazer obras de caridade, ajudando às pessoas necessitadas, pobres. Nós vivamos a alegria e o amor do Senhor que está em nosso meio e em todas as pessoas que lutam pela justiça, pela fraternidade, pelo amor neste mundo e um dia viver para sempre com o Senhor e com todas as pessoas que assumiram o mandamento do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo, assim como fez Santa Maria Madalena.

[1][1] Cfr. Homilia 121, 1. In: Santo Agostinho. Comentários a São João – II. Evangelho – Homilias 50-124. Primeira Epístola. São Paulo: Paulus, 2022, pg. 531.

[2] Cfr. Idem, pg. 531.

[3] Cfr. Ibidem, pgs. 531-532.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 532.

[5] Cfr. Ibidem, pg. 532.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 532.

[7] Cfr. Ibidem, pgs. 532-533.

[8] Cfr. Ibidem, pgs. 533-534.

[9] Cfr. Ibidem, pg. 534.

[10] Cfr. Ibidem, pg. 535.

[11] Cfr. Ibidem, pg. 535.

[12] Cfr. Ibidem, pg. 535.

[13] Cfr. Ibidem, 536.

[14] Cfr. Ibidem, pg. 536.