Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá (PA)

No início do século passado, uma pobre família do Sul da Europa decidiu emigrar para os Estados Unidos. As viagens eram de navio e duravam muitos dias. Levaram consigo bastante pão e queijo; era o que tinham para se alimentarem durante a viagem. O dinheiro não dava para comer no restaurante do navio. Com o passar dos dias e das semanas, porém, o pão ficou duro e o queijo mofou. A certa altura, o filho do casal começou a chorar porque não aguentava mais aquela comida velha. Os pais, então, juntaram o pouco dinheiro que tinham e decidiram pagar um almoço para o filho. Este foi, comeu e voltou chorando mais ainda, mas, desta vez, de raiva e amargura. Os pais, preocupados, perguntaram porque, depois de ter feito tudo o que podiam, não estava satisfeito e chorava tanto. Entre os soluços o filho respondeu: – O almoço no restaurante estava incluído no preço da passagem e nós comemos pão e queijo todos estes dias!

No evangelho de Mateus deste 17º Domingo do Tempo Comum encontramos mais três parábolas sobre o Reino dos Céus. Duas delas se assemelham, apresentam a busca por um tesouro escondido e por uma pérola de grande valor. A terceira parábola compara o Reino a uma rede lançada ao mar que apanha peixes bons e peixes que não prestam. Esta última pode ser entendida à luz da parábola do joio e do trigo, que encontramos domingo passado. O final do trecho é curioso. À pergunta de Jesus se os discípulos tinham compreendido o que ele acabava de ensinar, eles disseram que sim. Esta resposta permitiu ao Mestre de fazer mais uma comparação entre os discípulos e um pai de família que “tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13,52). Esta é a conclusão do discurso em parábolas e serve para nos lembrar a dinamicidade das mesmas. As parábolas não são simples casos para contar, elas nos envolvem e sempre suscitam mais perguntas que respostas. Neste sentido, as duas parábolas do tesouro escondido e da pérola preciosa são exemplares. Em ambos os casos estamos à frente de pessoas que sabem dar o valor merecido aquilo que encontraram. Para aquele que descobre o tesouro escondido no campo pode ser simplesmente um caso de muita sorte. Contudo ele guarda o segredo antes de comprar aquele campo porque sabe quanto vale o que encontrou. No caso da outra parábola, o comprador de pérolas está atrás mesmo de uma de grande valor. Ou seja: nenhum dos dois pensa duas vezes ou despreza e descarta o achado. Ambos vendem logo “todos os seus bens” para adquirir o campo e a pérola preciosa. A mensagem é evidente: o tesouro e a pérola são o próprio Reino dos Céus. Pelo jeito os dois consideraram tão valioso o que encontraram que eles decidiram se desfazer de qualquer outro bem. Porque uma decisão tão radical? Não seria esta, talvez, uma loucura ou uma imprudência? Obviamente não é assim para o Senhor como ele ensinou no Discurso do Monte: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33).

A lição vale para todos nós. Muitas vezes falamos bonito de Deus, da sua bondade e misericórdia, mas resistimos a arriscar algo da nossa vida por causa do Reino dos Céus. Admiramos e falamos bem daqueles e daquelas que fazem escolhas mais radicais, que empregam os seus talentos a serviço dos pobres, que gastam a sua vida por causa do Evangelho. No entanto, parece que a maioria dos cristãos continue desconfiando do valor inestimável do Reino e prefira preciosidades mais mundanas e passageiras, mas que se possam contar e guardar no cofre. Sem dúvida a disposição de fazer escolhas mais corajosas é um dom de Deus que podemos pedir, mas as parábolas desde domingo nos convidam a todos a superar o comodismo, o medo de ser julgados esquisitos e fanáticos ou, pior, de sermos enganados pelo próprio Senhor. Enfim, continuar comendo pão e queijo quando os passageiros tinham direito ao almoço, foi burrice. Por que não se informaram antes? O Reino dos Céus está próximo (Mt 3,2), é oferecido a todos, basta reconhecer o seu valor e buscá-lo de verdade.