Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, o Papa Francisco diz que “a ação missionária é o paradigma de toda obra da Igreja” (EG 15).
Pode-se constatar esta verdade olhando para a História da Igreja.
A Igreja nasceu missionária e cresceu somente quando foi missionária. Já no dia seu nascimento, o Evangelho foi anunciado a povos de várias nações: “todos nós os escutamos anunciando as maravilhas de Deus em nossa própria língua!” (At 2,11).
Os apóstolos não permaneceram acomodados em Jerusalém. Saíram pelo mundo a fora levando a mensagem do Ressuscitado.
Ao longo dos séculos, a Igreja continuou evangelizando com períodos de maior ou menor intensidade.
Sempre que a atividade missionária da Igreja foi intensa, a Igreja cresceu e cumpriu a missão deixada por Jesus Cristo: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado” (Mt 28,19-20).
Toda vez que na Igreja houve uma diminuição do interesse e da ação missionária, a Igreja enfrentou grandes problemas, um esvaziamento no fervor dos fiéis e muitas crises.
Como está a situação atual da Igreja na Brasil? Há uma diminuição constante da participação dos fiéis e uma grande migração de católicos para as chamadas Igrejas Evangélicas; os jovens não se sentem atraídos a uma maior participação na vida eclesial e com isso há uma consequente falta de vocações sacerdotais, religiosas e missionárias. Estes sinais seriam a indicação de que? De uma grande diminuição ou ausência do espírito missionário da Igreja? Ou ainda uma crise de fé? Ou indicam que a Igreja está fechada em si e confinada na sacristia? Pode ser! Dois papas recentes lançaram luz para uma possível solução destes e outros problemas.
São Paulo VI, em 1972, na Mensagem para o Dia Mundial das Missões escreveu: «Estas tensões internas, que debilitam e laceram algumas Igrejas e instituições locais, desapareceriam frente à firme convicção de que a salvação das comunidades locais se conquista pela cooperação na obra missionária, a fim de que esta se estenda até aos confins da terra».
São João Paulo II na encíclica Redemptoris Missio enfatiza: «Na História da Igreja, com efeito, o impulso missionário sempre foi um sinal de vitalidade, tal como a sua diminuição constitui um sinal de crise de fé» (nº 2).
Por isso, a Igreja não pode se acomodar com as glórias e exemplos do passado. A Igreja deve mostrar no presente que não está acomodada, mas que vive intensamente a sua missionariedade e que é uma Igreja em saída e não fechada em si.
O Papa Francisco na sua sensibilidade percebeu que o interesse missionário ad gentes está fraco e pequeno. Percebeu que em geral há mais preocupação com uma pastoral de manutenção e conservação do que com uma pastoral missionária.
Por isso, estabeleceu que neste outubro de 2019 fosse realizado um mês missionário extraordinário com o objetivo de alimentar o ardor da atividade evangelizadora da Igreja na missio ad gentes e colocou como tema: “Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo”.
O Papa quer despertar uma maior consciência da missão ad gentes e retomar, com novo impulso, a transformação missionária da vida e da pastoral.
Portanto, este mês de outubro é um verdadeiro kairós, uma graça para a Igreja e deve marcar profundamente a vida dos católicos do mundo inteiro e consequentemente a vida de toda a humanidade.
Essa transformação deve começar com uma conversão pessoal, que por sua vez deve se estender a toda a vida eclesial e produzir uma conversão pastoral. Os Bispos da América Latina, reunidos em Aparecida (SP), disseram que “não podemos ficar tranquilos, em espera passiva, em nossos templos”, é necessário passar “de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária” (Documento de Aparecida, 548 e 370).
Por coincidência, neste mês de outubro será celebrado também o Sínodo da Amazônia, que tem como tema “buscar novos caminhos para Igreja e para uma ecologia integral“.
O Papa Francisco disse: “Desejo que esta feliz coincidência nos ajude a fixar nossos olhos em Jesus Cristo para enfrentar problemas, desafios, riquezas e pobrezas; que nos ajude a renovar nosso compromisso de servir o Evangelho para a salvação dos homens e mulheres que vivem nestas terras”.
Todos os batizados são enviados e devem renovar continuamente seu ardor missionário. Santa Terezinha do Menino Jesus, Padroeira das Missões e Doutora da Igreja, ensina que a oração é fundamental para as missões. Rezar, rezar pelas missões e missionários todos os dias é uma obrigação para cada católico. Mas também se deve fazer outras ações. Papa Francisco foi enfático: “Exorto todos a viver o júbilo da missão dando testemunho do Evangelho nos ambientes onde cada qual vive e trabalha” (Oração do Ângelus, 22/10/2017).
Para concluir, nada melhor do que as palavras do Papa Francisco: “Que o Mês Missionário Extraordinário se torne uma ocasião de graça intensa e fecunda para promover iniciativas e intensificar de modo particular a oração – alma de toda a missão –, o anúncio do Evangelho, a reflexão bíblica e teológica sobre a missão, as obras de caridade cristã e as ações concretas de colaboração e solidariedade entre as Igrejas, de modo que se desperte e jamais nos seja roubado o entusiasmo missionário (Carta do Papa Francisco por ocasião do centenário da Promulgação da Carta Apostólica MAXIMUM ILLUD).
Por DOM FREI WILMAR SANTIN, O.CARM.
Bispo Prelado de Itaituba-PA