
por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
O Dicastério para a Doutrina da Fé emitiu recentemente (04/11), uma Nota Doutrinal intitulada Mater Populi Fidelis, respondendo a décadas de consultas sobre a devoção mariana e, em particular, sobre a aceitabilidade de certos títulos atribuídos à Virgem Maria. O documento visa preservar o equilíbrio teológico fundamental, reafirmando a identidade católica ao mesmo tempo que se esforça pelo diálogo ecumênico, focando na maternidade de Maria em relação aos fiéis à luz do mistério de Cristo como único Mediador e Redentor.
A Nota Doutrinal estabelece a devoção mariana como um “tesouro da Igreja”, buscando valorizar e encorajar a piedade popular que encontra em Maria refúgio, ternura e esperança. O eixo central do texto é a maternidade de Maria em relação aos fiéis, uma verdade profundamente enraizada na Escritura, especialmente nos Evangelhos de Lucas e João, onde ela é prefigurada como a “Mulher” vitoriosa e, no Calvário, como a Mãe que acolhe o discípulo em nome de toda a humanidade.
Um dos títulos que o documento abraça e aprofunda é o de Mãe do Povo Fiel. Esta designação se fundamenta na maternidade espiritual de Maria, que brota de sua maternidade física de Cristo. Ao gerar o Cristo total – cabeça e membros –, Maria é vista como o typos (modelo) da Igreja e do novo nascimento em Cristo. Sua cooperação na obra salvífica, iniciada no “sim” da Anunciação, é única e singular, mas sempre subordinada ao seu Filho.
Em contrapartida, a Nota Doutrinal aborda com particular cautela e crítica os títulos que sugerem uma cooperação equiparada à de Cristo, sendo o mais controverso o de Corredentora. Citando as preocupações expressas pelo Cardeal Ratzinger (Papa Bento XVI), o documento aponta que esta fórmula se distancia da linguagem bíblica e patrística, obscurecendo a origem divina de toda a glória de Maria. O Papa Francisco reforçou essa posição ao afirmar que “O Redentor é um só e este título não se duplica”, pois Cristo é o único Redentor, e Seu sacrifício na Cruz foi “superabundante e infinito”.
A questão da Mediação é tratada com a mesma clareza. A Bíblia é peremptória ao declarar Cristo como o único Mediador (1 Tm 2, 5-6). Portanto, embora a palavra “mediação” seja usada em sentido social amplo (como cooperação ou ajuda), a mediação salvífica de Maria não pode ser equiparada à de Cristo. O Magistério do Concílio Vaticano II preferiu focar em termos como cooperação ou ajuda maternal, expressando a intercessão de Maria como “múltipla intercessão” e “proteção maternal”.
A reflexão se estende ao título de Medianeira de Todas as Graças, um ponto onde a clareza teológica é crucial. O documento adverte que imaginar Maria como uma distribuidora de graças, ou como um “para-raios” diante da justiça divina, é teologicamente inaceitável. Se Maria é a primeira redimida, ela não pode ser medianeira da graça que ela mesma recebeu. Sua função é dispositiva: Ela intercede pedindo o dom da graça, que somente Deus pode infundir, e auxilia os fiéis a se disporem a essa ação.
A análise destaca que a cooperação de Maria é sempre “participada” e subordinada, nunca paralela à de Cristo. O influxo salvador da Virgem, embora real, deriva da “abundância dos méritos de Cristo” e depende inteiramente de Sua mediação. O verdadeiro culto a Maria, como ensina o Concílio, deve ser “orientado ao centro cristológico da fé cristã”, de modo que, honrando a Mãe, melhor se conheça, ame e glorifique o Filho.
Em suma, a Nota Doutrinal confirma a fé no poder da intercessão materna de Maria – o título “Mãe do Povo Fiel” sendo plenamente aceitável – mas impõe limites firmes aos títulos que a colocam em concorrência ou em um nível de atuação próximo ao de Cristo, o único Salvador.
Este esclarecimento visa proteger a harmonia das verdades da fé, garantindo que a exaltação da Virgem Maria sirva sempre para exaltar a obra redentora de seu Filho, que é o centro e o fim de toda a economia da salvação. O documento conclui com a esperança de que a contemplação do rosto materno de Maria inspire os fiéis a se sentirem peregrinos caminhando confiantes para Deus.
Leia a Nota Doutrinal na integra, no pdf, abaixo, traduzida para o português.
Mater Populi fidelis_Português_PapaLeaoXIV…..
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