Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

A vocação é dom de Deus para a realidade humana. Deus sempre chama pessoas para o serviço do seu Reino no mundo e na Igreja. A resposta vem do ser humano diante do chamado. O Verbo de Deus encarnado também chamou pessoas para a evangelização. Ao ver as multidões cansadas e abatidas, Jesus teve compaixão delas pois ele percebeu que eram como ovelhas sem pastor de modo que ele disse “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita” ( Mt 9, 36-38). Através da oração contínua ao Senhor, as pessoas e as comunidades eclesiais pedem ao dono da messe, o Senhor, para que envie mais pessoas, mulheres e homens para a vinha do Senhor. As necessidades são muitas na vida eclesial, familiar e social de modo que é preciso rezar para que surjam mais pessoas para servir a Deus e ao seu povo. Agosto é o mês vocacional na qual as pessoas vivam com alegria e com amor a vocação e é oportunidade para rezar pelo aumento das vocações à vida sacerdotal, religiosa, matrimonial e laical. O ano vocacional aprofunda a vocação que o Senhor concede para as pessoas e a missão na qual o ser humano atua no mundo de hoje.

Vocação

A palavra vocação vem do latim: Vocatio-onis, cujo significado é chamada, convite. É a chamada de Deus para abraçar uma missão, uma forma de apostolado; é também uma inclinação natural para assumir uma missão no mundo[1]. A vocação é a vida da pessoa na qual é percebida, dada. “O Senhor disse a Abrão: ‘Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei: engrandecerei o teu nome, e tu serás uma benção’” (Gn 12, 1-2). Jeremias louvou a Deus pelo chamado realizado pelo Senhor, sendo sempre uma partida para deixar-se levar pelo Senhor em vista de uma vida de doação. O profeta Jeremias percebeu, por graça, o chamado do Senhor: “Antes que te formasse no seio de tua mãe, eu te conheci, antes de saíres do ventre, eu te consagrei e fiz profeta para as nações” (Jr 1,4-5). Jesus escolheu pessoas simples, pescadores para o seguirem: “Vinde após mim, e eu farei de vós, pescadores de homens. (…): Eles deixaram as redes e o seguiram. (…) E eles, imediatamente, deixando o barco e o pai, o seguiram (Mt 4, 19-22).

A resposta humana

O chamado do Senhor é correspondido por uma resposta humana de uma forma livre e responsável, dado com amor na presença de Deus. Em sonho, falou o Senhor a José: “Ao despertar do sono, José fez o que o anjo do Senhor lhe havia ordenado e acolheu Maria, sua mulher” (Mt 1,24). Maria disse sim ao plano do Senhor pela vinda do Salvador em seu ventre virginal, por obra do Espírito Santo e a Mão do Altíssimo: “Eis aqui a serva Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Em Antioquia, enquanto as pessoas celebravam a liturgia em honra do Senhor, o Espírito Santo disse para separar Barnabé e Saulo a fim de realizarem a obra para a qual Ele os chamou (At 12, 1-2). A resposta humana é dada diante do convite do Senhor para atuar na comunidade e no mundo.

A vocação como missão

A vocação foi vista nas primeiras comunidades cristãs como missão assumida, pela graça de Deus. São Paulo disse que Deus não faz acepção de pessoas e que a missão, a evangelização dos pagãos foram confiadas a ele, enquanto aos judeus fora confiada a São Pedro. São Paulo afirmou também que Aquele que preparou o apostolado entre os judeus concedeu também para ele a graça para ir entre os pagãos. Desta forma a graça dada a Paulo, da evangelização entre os pagãos, fez Tiago Cefas e João, considerados as colunas da Igreja por Paulo, dessem as mãos para Paulo e Barnabé em sinal da comunhão recíproca, de modo que Paulo e Barnabé iriam aos pagãos enquanto os outros iriam aos judeus. Paulo disse que Pedro, Tiago e João recomendaram a ele, a solicitude para com os pobres, o que de fato o apóstolo sempre fez (Gl 2,6-10). Origenes, padre da Igreja dos séculos II e III, de Alexandria no Egito, viu nesta passagem a confirmação da palavra de Cristo para ir em todos os povos (Mt 28,19)[2].

A economia da salvação

A economia da salvação esteve ligada à vocação dos apóstolos na proclamação da verdade que é Jesus. Santo Ireneu, bispo de Lião, século III disse que a economia da salvação humana veio do Senhor Jesus e ela foi transmitida pelos apóstolos, pessoas que estiveram próximos do Senhor para todos os povos e nações. Ela chegou através do Evangelho que eles pregaram e pela vontade de Deus, transmitiram nas Escrituras, para que fossem para todas as pessoas das gerações posteriores fundamento e coluna da fé cristã. Sendo testemunhas da encarnação de Jesus e após a sua ressurreição, os apóstolos foram revestidos da força do alto, pela vinda do Espírito Santo (At 4,8), foram repletos de todos os dons e tiveram o conhecimento perfeito[3].

A sucessão apostólica

A vocação foi também dada pela sucessão apostólica, no sentido da continuidade da verdade que vem de Cristo e Cristo de Deus. Tertuliano, padre da Igreja do Século terceiro afirmou a sucessão  apostólica como um dado fundamental na vocação do Senhor ao apóstolo, e os seus sucessores. A sucessão fez ver que o primeiro bispo recebeu a investidura e foi precedido por um dos apóstolos, ou ao menos por uma pessoa apostólica na qual teve uma relação profunda até chegar ao Senhor Jesus Cristo. As Igrejas apostólicas colocaram bispos ligados aos apóstolos, os apóstolos com Cristo e Cristo com Deus[4].

A vocação da Igreja: o mundo

Santo Agostinho, Bispo de Hipona, séculos IV e V afirmou que a vocação da Igreja era de ir para o mundo anunciar a boa nova de Jesus. Por graça de Deus ela está presente em muitos lugares do mundo tendo um grande corpo e uma única Cabeça que é o Salvador Jesus Cristo (Cl 1,18). A exaltação da Cabeça, ocorrida após a ressurreição de Jesus, objetivando a palavra do Senhor dita aos séculos anteriores onde se diz que seja exaltado a Deus, além dos céus (Sl 56,12). A Igreja difundiu-se nos diversos lugares da terra com abundantes frutos de paz e de amor[5].

A ação missionária

São Gregório Magno reconheceu a ação missionária sendo vocação para a Igreja, de levar o evangelho do Senhor para as populações que ainda não ouviram falar do Senhor e da própria Igreja. O Papa aconselhava aos missionários que não houvesse a destruição dos templos pagãos, mas de suas imagens, mudando-se o culto ao Deus verdadeiro. As relíquias dos santos e de mártires seriam colocadas nos altares para celebrar o louvor agradável a Deus pelas festas litúrgicas, como o Natal e a Páscoa[6].

A Vocação é a doação de si mesmo para o Senhor e para o mundo na qual a pessoa corresponde à vida que recebeu de graça. Ela é um dom de Deus para ser doado para os outros. Jesus fez de si mesmo uma continua doação. Será sempre importante a oração pelas vocações para que mais pessoas trabalhem pelo Reino de Deus. Deus envia vocações de modo que é preciso conhecê-las e fazer sempre o discernimento para que os jovens se decidam bem na vocação. A vocação é a presença do Senhor para viver bem no mundo de hoje e um dia na eternidade.

[1] Cfr. Vocazióne. In: Il Vocabolario Treccani. Il Conciso. Monotipia Olivieri-Milano, Legoprint – Lavis-Trento, 1998, pg. 1910.

[2] Cfr. Origene. Contro Celso, 2,1-2. In: La teologia dei Padri, 4. Roma, Città Nuova, 1982, pg. 202.

[3] Cfr. Ireneu de Lião, III,1,1. São Paulo, Paulus, 1995, pgs. 246-247.

[4] Cfr. Tertulliano. La prescrizione contro gli eretici, 32. In: La teologia dei Padri, pg. 203.

[5] Cfr. Agostino. Le Lettere, II, 142,1-2 (A Saturnino ed Eufrate). In: Idem, pg. 20.

[6] Cfr. Gregorio Magno. Lettera all´abate Melitone in Francia. In: Idem, pg. 43.